O noivo

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*Capítulo sem revisão ortográfica.


Não paro de pensar nela. No olhar dela. No sorriso dela. Naquela falinha que tinha no dente sempre que sorria. Não paro de pensar que eu nunca mais vou ver na disso. Ela nunca mais vai beijar a minha nuca de manhã par me acordar.

Faz quatro dias desde o telefonema da Guilhermina.

O telefonema que acabou com tudo. Com as minhas certezas. Com os meus sonhos. Com os meus planos. Com a minha vida. Porque aquele telefonema acabou com a porra da minha vida. Eu ainda acordo de manhã. Eu ainda tenho um trabalho. Eu ainda respiro. Eu ainda escuto quando as pessoas falam comigo. Mas sinto que a minha vida não tem mais sentido. Não tem mais propósito. Ela era o meu propósito. O casamento e família que iríamos construir era o que me motivava. Ela era. Eu acordava, respirava e trabalhava pensando nela. Eu era feliz por causa dela. O que será de mim agora?

Esse vazio assombroso que sinto dentro do peito é a resposta.

Eu vou acordar, respirar e trabalhar esperando. Esperando pelo regresso de quem nunca virá. Esperando por noiva que nunca chegará ao altar. Esperando pelo impossível. Lamentando o inviável.

Eu não vou viver, eu vou apenas existir.

É assim que eu me sinto, apenas existindo. Eu vou existir com esse peso. Eu vou existir com essa dor. Eu vou existir com essa saudade. Eu não vou fazer nada além de existir, até que eu não exista mais.

Nesse dia, nos vamos nos reencontrar e nesse dia, apenas nesse dia, eu vou saber o que é ser feliz de novo.

Eu sinto isso com cada osso do meu corpo.

Eu sinto que nessa vida, eu nunca mais serei feliz.

Não tenho saído da minha antiga cama na casa dos meus pais desde o funeral dela há dois dias. Não tenho vontade, mas hoje eu terei que sair mesmo assim.

Tem alguém que precisa de mim.

Hoje era para ser o grande dia.

O dia com o qual as duas tanto sonharam.

O dia com o qual eu tanto sonhei.

O dia do nosso casamento.

Me obrigo a afastar as cobertas, coloco os pés no chão e caminho para o banheiro, passando a mão pelos cabelos. Não estou desnorteado. Não sou o tipo de homem que se desnorteia, mas estou arrasado. Eu deveria estar me barbeado, mas fiz questão disso apenas para o funeral dela. Faz anos que não vejo a minha barba desse tamanho no espelho. Não me agrada, mas não tenho o menor ânimo de cuidar disso agora. Apenas tomo um banho e ajeito os cabelos úmidos com os dedos, deixando de qualquer jeito.

Eu deveria estar vestindo o fraque preto que nunca fui à loja buscar, mas estou entrando em um jeans e uma camiseta branca qualquer e disparando pela escada fazendo o piso antigo de madeira estalar.

Meus pais estão sentados no meio do sofá da sala, ambos com copos de uísque na mãos, ambos agarrados, ambos lamentado a morte de alguém que se tornou filha deles muito tempo antes desse dia. Meus pais a amavam, mas secam rapidamente os cantos olhos para que eu não veja o quanto antes de virarem para mim. Eu sou grato por isso. Por se manterem fortes na minha frente.

Eles sabem.

Eles sabem que se desmoronarem não vai restar mais nada do filho deles.

Nem eu sei como estou me aguentando de pé. Lhes explico aonde estou indo. Eles entendem. Eles sabem que era o que a minha noiva iria querer. Eles sabem que é o que eu devo fazer.

Perdão, amorWhere stories live. Discover now