Ela

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Ele embica o carro em um enorme prédio branco. Entramos e descemos a rampa de uma garagem onde só tem carrões como o dele. Que surpresa.

Entendi como o meu cliente funciona quando me ofertou o seu paletó. Ele é um cavalheiro. Ele não acha que eu não sou merecedora de ser tratada como uma dama só porque sou uma garota de programa. Então não me surpreendo quando toca meu pulso me pedindo para ficar no carro enquanto sai para abrir a minha porta. Será que me enganei sobre ele ser dominante? Será que é carinhoso na cama?

Estou ansiosa para descobrir.

Ele caminha ao meu lado pela garagem e abre a porta do elevador para mim. É uma subida silenciosa. Ele aperta o botão do nono andar e me contorna, parando atrás de mim. Eu sinto um nervoso bom, uma ansiedade diferente e gostosa.

Olho para trás e sorrio.

Ele não retribui o sorriso, mas retribui o olhar.

Ele cheira bem. Muito bem. Fico com vontade de perguntar qual perfume ele usa, mas fico quieta. Ele não está me pagando pelo papo.

Ele sai do elevador na minha frente, mais uma vez, segurando a porta para mim. Depois que a solta, eu o vejo caminhar até uma porta enfiando a mão no bolso.

Ele a abre e faz um meneio para que eu entre primeiro.

Fico parada no hall, olhando ao redor. Depois daquele carro não é nenhuma surpresa que more em um lindo apartamento. Piso de madeira, mesa de mármore, cortinas pesadas em um tom escuro de verde. O sofá branco cheio de almofadas da cor das cortinas me parece muito confortável. Ele fica de frente para uma TV de cinema. Eu adoraria comer pipocas nesse sofá enquanto assisto a um filme. Um mero sonho.

Nossas vidas são muito diferentes. Eu não tenho um apartamento inteiro. Tenho apenas um quarto no puteiro. É onde eu moro. É grande o suficiente para uma cama de casal, uma penteadeira e um guarda-roupa. É simples e branco. Não acho legal decorar porque recebo clientes de todos os tipos nele. Não os quero vendo as minhas fotos ou os meus pertences pessoais. Esses eu escondo no guarda-roupa. O quarto no puteiro do Edifício Torres não é o meu lar.

Esse é o dele.

Ele se sente confortável nele. Percebo isso quando me contorna.

Eu não perguntei o nome dele. Eu não perguntei nada. Deu para perceber que o meu Iceman não queria isso. Mas não paro de pensar no assunto. É Pedro? É Ricardo? É um nome mais complicado? Ele fecha a porta e não acende nenhuma luz porque as cortinas estão abertas e o apartamento está banhado na luz da lua. Eu o sigo para dentro e paro atrás dele quando para. Observo enquanto deixa as chaves do carro e a carteira em uma mesinha e se vira para mim.

— Venha comigo — meneia o corredor com o rosto ainda fechado. Eu acho que esse é mesmo o seu semblante habitual.

Eu não ligo.

Eu gosto.

Gosto do mistério.

Dou um passo em direção a ele, que ainda me espera e tenho minha mão agarrada por um aperto firme. Muito firme. Ele se vira e me leva pelo corredor com algumas portas fechadas, até a última, a única que está aberta. É o quarto dele, noto enquanto me puxa no escuro até outra porta. Entramos. Ele bate a mão no interruptor sem parar de caminhar para acender a luz do closet. Tem uma terceira porta nele. Ele para ao lado dela e faz um meneio para que eu entre primeiro, entrando atrás de mim no banheiro da suíte. Ele deixa a porta aberta atrás dele para que a única claridade que entre seja a do closet. É uma luz amarelada que nos dá um ar muito sensual. Está escuro, mas não tanto. É um clima sombrio e muito agradável para foder.

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⏰ Last updated: Oct 11, 2022 ⏰

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Perdão, amorWhere stories live. Discover now