Capítulo 2

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Lara estava avoada, não havia comido direito muito menos havia prestado atenção na aula, só pensava no que havia acontecido noite passada. Estava ficando louca?

- Lara, acorde! - Estalou os dedos na frente da amiga - O que está acontecendo?

- Não posso contar para você no meio da sala de aula. - Sussurrou após acordar para a vida.

- Ai meu Deus, está grávida? - Sussurrou segurando a mão da amiga.

- Não! - Soltou-se - Acho que estou ficando maluca.

Levantaram-se juntas e saíram da sala, já haviam respondido a chamada e aquela aula estava um tédio. Sentaram-se em um banco de concreto em um lugar bem vazio já que quase todos estavam dentro de suas salas, era final de semestre todos estavam desesperados por notas.

- Pronto, me diga, por que acha que está ficando maluca? - Sofia perguntou.

- Você não vai acreditar em mim e vai mandar me internar.

- Não vou, prometo que se eu achar loucura eu não te interno. - Esticou o dedinho.

- Jura juradinho? - Entrelaçou seu dedinho com o dela.

- Juro juradinho. - Sorriu.

Lara desentrelaçou os dedos e suspirou inquieta, tinha medo de estar endoidando de vez!

- Ontem após uma discussão com meus pais fui para o meu quarto, coloquei a fita nova que ganhei no meu walkman e dei play. - Coçou o topo da cabeça - Mas quando eu abri os olhos me vi em um lugar totalmente diferente, estava perto de uma confeitaria.

- Mas você nunca foi a uma confeitaria sozinha...

- Eu não estava na colombo, estava perto. - Cruzou as pernas - Caminhei até uma loja de televisões que tinha e advinha qual era a data.

- Sei lá Lala, me conte logo! - Respondeu de maneira inquieta e estava super curiosa com o que a amiga responderia.

- Dezoito de janeiro do ano de 1985! - Sussurrou com medo de alguém escuta lá.

- Lala, viagens no tempo não são possíveis. - Riu encostando-se no banco - Você fumou alguma erva do seu irmão?

- Sabia, não te conto mais nada também. - Cruzou os braços enquanto olhava para o nada brava.

- Desculpa. - Sofia desculpou-se enquanto ria - Continue.

- Não vou te contar mais, está me tirando de pirada. - Suspirou - Não quero mais falar com você.

- Tudo bem, não precisa me contar sua bobona. - Mostrou a língua como se tivessem seis anos de idade - Mas você voltou para a mesma hora de que tinha saído ou o tempo havia passado aqui também?

- Na mesma hora, acho que fiquei uns três minutos. - Respondeu enquanto deitava a cabeça no ombro da amiga.

- Tipo "De volta para o futuro"?

- Exatamente!

- Eu acredito em você. - Deitou sua cabeça encima da dela, por mais que tivesse mentido sobre acreditar na amiga ela não tinha coragem de dizer isso em sua cara.

***

- Fala Laricota. - Bruno cumprimentou a irmã enquanto entrava no quarto.

- O que você quer Bruno? - Disse suspirando.

- Falar sobre o que o papai e a mamãe falaram ontem sobre você. - Sentou-se na cama enquanto olhava-a em sua mesa de estudos.

Lara não estava afim de conversar sobre isso mas sabia que seu irmão falaria de qualquer forma. Ela amava ele, mas as vezes era um pé no saco.

- Não liga para aquilo que a mamãe disse, o papai a repreendeu logo depois que você saiu.

- Mas dói ela achar que não serei alguém na vida. - Sua voz estava embargada.

Ela virou sua cadeira para observar melhor o irmão que falava. Ele se levantou e caminhou até a caçula.

- Estou aqui para te falar que eu tenho certeza que te verei subindo no palco do oscar para receber aquela estatueta dourada. - Beijou-a no topo da cabeça - Eu te amo Laricota, você já é o meu orgulho.

Bruno saiu sem falar mais nada deixando-a ali sentindo-se amada pelo irmão mais velho.

Lara olhou para seu walkman em sua mesa, empurrou sua cadeira até a porta e trancou-a, empurrou-se novamente até o centro do quarto onde ainda sentada colocou seus fones de ouvido, deu play e fechou os olhos como havia feito da última vez.

Ela abriu seus olhos devagar e estava na mesma rua, com as mesmas pessoas passando e com a mesma loja de televisão ao seu lado, a data confirmava que ela realmente estava em 1985!

A moça olhou para sua roupa, vestia da mesma forma que havia se vestido mais cedo, um shorts jeans e uma blusa azul que mostrava um pouco de sua barriga, calçava suas clássicas havianas brancas sem detalhe algum, apenas brancas.

- Ei, está tudo bem? - Uma jovem perguntou.

- Está falando comigo?

- Com quem mais eu estaria falando? - Ela riu - Está com uma cara perdida, é carioca?

- Sou mas estou bem perdida na verdade. - Lara riu sem graça enquanto pendurava seus fones no pescoço.

- Onde você mora?

- Não moro mais aqui no Rio. - Mentiu.

Ela aprendeu nos filmes de viagem no tempo que não deveria falar 100% a verdade o tempo todo sobre quem era ou de onde era.

- Sério? Já tem lugar para ficar?

- Ainda não. - Deu um sorriso tímido.

- Então você vai ficar em meu apartamento, estava procurando mesmo uma colega de quarto. - Riu estendendo a mão - Me chamo Vanessa, muito prazer em conhecê-la.

- O prazer é todo meu, me chamo Lara. - Sorriu.

- Lara, que lindo nome. - Riu - Vamos, vou mostrar meu apartamento pra você. É em Ipanema, ele tem três quartos, um deles já está ocupado por uma amiga que veio de São Paulo para tentar ser atriz aqui no Rio.

Vanessa caminhava ao lado de Lara que observava tudo atentamente, escutava as músicas que tocavam nos rádios nos comércios, as roupas que usavam e principalmente como tudo havia mudado em 2023.

- Você trouxe alguma roupa? Não vejo malas. - Olhou para as mãos vazias da colega.

- Fui assaltada. Só me deixaram o walkman e a roupa do corpo. - Mentiu novamente.

- Oh pobrezinha! - Abraçou-a com seu braço em volta do pescoço - Vou empresta-la algumas roupas e alguns cruzeiros.

- Cruzeiros? - Olhou confusa.

- Sim, cruzeiros! - Riu.

Lara estava oficialmente em 1985 e aproveitaria bastante antes de voltar para casa. Seu sonho de viver os anos 80 estava sendo realizado, não parecia real, mas se fosse um sonho implorava para não ser acordada.

1985Where stories live. Discover now