Capítulo 11

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Lara estava limpando a bancada da loja enquanto observava Sérgio entrar pela porta principal.

- Tudo encima filha? - Ele cumprimentou-a com um sorriso.

Havia a chamado de filha pois havia lembrado da festa onde Lara descaradamente mentiu após chamá-lo sem querer de pai.

- Boa tarde pai, como posso ajudá-lo? - Sorriu.

- Vim devolver o filme que aluguei na última sexta. - Colocou a sacola encima da bancada - Tá livre no próximo sábado?

- Não, infelizmente. - Respondeu enquanto dava baixa no VHS - Lembra que eu te disse que ia embora?

- Mas tão cedo? - Parecia triste.

- Pois é, infelizmente não posso ficar mais tempo, prometi que voltaria essa semana. - Olhou-o - Dez mil cruzeiros.

- Poxa. - Deixou o dinheiro encima da bancada - Então como eu não vou mais te ver, desejo uma ótima viagem e se cuida viu.

Lara apenas sorriu e acenou vendo-o sair pela porta da locadora, com certeza se veriam novamente, ele era seu pai.

Ela precisava conversar com Felipe, assim que viu-o entrar na loja chamou-o com a mão e ele veio rapidamente.

- Posso conversar contigo na sua sala?

- Claro, aconteceu alguma coisa? - Ele parecia preocupado.

Lara colocou a placa de fechado e caminhou atrás dele até a sala onde sentou em uma das cadeiras almofadadas azuis que tinha.

- Eu não acho certo te enganar, eu gostaria de pedir demissão. - Tomou coragem para contar mais uma mentira - Você sabe que venho de muito longe e meus pais me ligaram novamente, tenho que voltar essa semana para casa eles precisam de mim.

- Porra Lara, sério? - Felipe perguntou enquanto segurava a mão dela por cima da mesa.

- Ainda não contei nada para ninguém, então por favor não comente nem com sua irmã. - Deixou um carinho em sua mão e soltou-a - Gostaria de receber o total do meu salário, por mais que eu vá doar, gostaria de tê-lo.

- Claro Larita, vai ser uma pena não te ter mais presente. - Disse enquanto entregava-a o envelope com o dinheiro.

- Como assim não te ter mais presente Lara? - Max perguntou confuso enquanto estava de pé na porta da sala.

- Max, eu ia te contar... - Ela se levantou e seguiu-o, ele havia saído de lá.

- Pra onde você vai Lara? - Perguntou já irritado.

- Eu vou embora, eu ia conversar contigo essa noite. - Segurou as mãos do rapaz - Max, eu não posso te dizer mais do que isso.

- Como assim?

- Você não ia acreditar em mim, mas saiba que eu te adoro e sempre vou te levar no coração. - Arrumou o cabelo de forma nervosa.

- Caralho Lara, eu te amo. - Bateu na bancada - E você simplesmente vai embora?

- Eu preciso ir Max, não posso ficar aqui para sempre.

- Eu lutaria por nós, você sabe disso. Vamos juntos para a França! - Ele se aproximou.

- Eu sei querido, mas eu realmente não posso. - Suspirou vendo-o se afastar novamente.

- Então vai. - Apontou para a porta - Vai embora porra!

Os olhos dela estavam encharcados, ele não conseguia olha-la nos olhos pois desmoronaria se isso fizesse.

- Max... Por favor me escuta... - Ela foi interrompida.

- Vai embora porra e não me escreva, não me telefone.

Lara deu as costas para o rapaz e abraçou Felipe.

- Obrigada por tudo Lipe, você cuidou muito bem de mim.

- Se cuida menina. - Beijou-a no topo da cabeça e viu-a sair olhando para o chão.

***

Sentada sozinha na mesa da cozinha no apartamento de Ipanema, Lara tinha pedaços de papel e uma caneta, lá deixaria suas despedidas a todos.

"Queridos Felipe, Paty, Vane e Max, venho por meio desta carta dizer que assim que estiverem lendo-a estarei em um lugar bem longe daqui. Antes que perguntem, não, não temos telefone e nem se esforcem para mandar cartas, não serei capaz de lê-las. Deixo minhas desculpas por não ter conseguido me despedir face a face, meu coração dói em pensar em vê-los chorando.
Patrícia e Vanessa, todo o valor que vocês me emprestaram está dentro do envelope, tem até mais para ajudar a pagar as contas desse mês. As amo demais, obrigada por se tornarem minhas irmãs que eu nunca pude ter. Paty, fique com meus roteiros na primeira gaveta do quarto, são todos seus. Siga seu sonho de ser atriz e nunca desista, você é talentosa e vai longe.
Felipe, obrigada por me dar um emprego e por sempre colocar minha cabeça no lugar. Amo você.
Max, tudo o que senti e sinto por você não poderá nunca ser expressado por uma carta, vivi o melhor mês da minha vida e você sempre será um grande amor. Eu te amo. Volte para França como conversamos e se torne o maior escritor de sua geração, sonho no dia em que eu possa ler uma de suas lindas histórias.
Vocês sempre terão um lugar especial em meu coração.
Com muito amor,
Lara."

Ela deixou o dois envelopes encima da mesa, deu mais uma pequena olhada em volta antes de entrar pela última vez naquele pequeno quarto.

Pegou sua pequena mala, colocou seus fones e deu play na música assim que fechou os olhos. Quando abriu, viu-se em seu quarto em 2023, sentia-se aliviada porém já estava com saudades de seus amigos.

Deixou a mala no chão, pegou a fita de dentro do walkman após tirar os fones e colocou-a dentro de uma caixa no topo de seu guarda roupa.

Lara se sentou em sua própria cama e chorou. Chorou por vários motivos. Chorou porque não havia se despedido de Paty, Vane e Max. Chorou porque nunca viveria algo igual novamente. Chorou porque tinha saudades.

Sua companhia tocou, rapidamente limpou as lágrimas e caminhou até a porta de entrada. Quando abriu a porta viu Sofia, como estava com saudades da melhor amiga.

- Sofi! - Abraçou-a com muito carinho.

- Lala! - Abraçou-a de volta apesar de tê-la visto no dia anterior - Como está minha doidinha da cabeça?

- Não estou mais doida. - Sorriu fechando a porta.

Lara não ia levar mais sua viagem no tempo como verdade absoluta na frente de outras pessoas que não fossem Hugo, ele era o único que a entendia.

1985Donde viven las historias. Descúbrelo ahora