Entrei no estúdio fotográfico carregando um copo de café nas mãos. Eu precisava disfarçar a tremedeira que ameaçava tomar conta de todo meu corpo. Me olhei no espelho da recepção e respirei fundo. O cachecol tapava qualquer indicio de manchas em meu pescoço. Isso era bom. Já bastava eu ter mentido para Vivian e Maya.
- O que é isso? – Maya perguntou dois dias antes, em minha festa de aniversário surpresa, já imaginando o que havia acontecido – E que medalhão é esse?
Vivian havia se aproximado lentamente e, perspicaz, analisou o roxo em meu pescoço depois tocou minha corrente.
- Isso é um chupão? Está escondendo um homem de nós?
- Não! – exclamei me afastando, evidentemente nervosa – Eu... Sei lá o que é esse roxo! Apareceu essa manhã e estava coçando... Acho que é alergia – cocei o lugar da mancha para fortalecer a mentira deslavada – E o medalhão eu encomendei há algum tempo. Bonito, não é?!
As duas apenas me observaram e depois se observaram. Maya sabia o que acontecia. Vivian preferiu ficar quieta.
- Bom dia, Audrey... A sessão está acontecendo no estúdio seis – informou a recepcionista com um sorriso.
- Obrigada.
Respirei fundo e quase esmaguei o copo de papelão em minhas mãos.
“Haja como profissional, haja como profissional... Respire...”
Abri a porta do estúdio seis e arrumei o cachecol no pescoço.
- Até que enfim chegou!
Michel, o fotógrafo, me segurou pelo braço e beijou meu rosto.
- O modelo está retocando maquiagem. Eu estava pensando em fazer externas também, o que acha?
- O modelo é aceitável? – perguntei calmamente, olhando ao redor, vendo as pessoas trabalharem. Tomei um gole de café, aliviada de não ver Vincent em nenhum lugar visível.
- Aceitável? – Michel me fez se aproximar do monitor de seu computador e me mostrou as fotos que havia feito até então.
Vincent era um modelo completo.
Tinha aparência, sabia usar o corpo, o charme e trabalhava com muita naturalidade. Me impressionou e me deixou muda. Seu olhar era intenso, atrativo... Não particularmente atraente, porque a campanha não pedia, mas muito másculo. Homem.
Pigarreei e fiz uma leve careta antes de dizer em tom frio e profissional:
- Acho que devíamos sim, fazer externas. Já que o modelo mudou, podemos arriscar novas propostas.
- O modelo está pronto e a modelo também!
Levantei o rosto ao ouvir a voz feminina e vi Eric/Phillip/Vincent andar até nós sorrindo, conversando com uma modelo loira e linda. Levantei uma sobrancelha. A última atitude que faltava da minha parte era uma crise de ciúmes.
- Então vamos começar... – Michel chamou Vincent e a modelo.
Tomei mais um gole do meu café, sabendo que um par e olhos castanhos estavam pousados em mim. Meu coração disparou.
“Não seja fraca”, me aconselhei ao revidar o olhar.
Para minha surpresa, o olhar não demonstrava a mínima emoção. Parecia não me reconhecer, pois estava morno. Um olhar que você geralmente dirige a qualquer pessoa.
- Você já deve conhecer Audrey, Phillip – Michel sorriu.
- Sim, nos conhecemos – Vincent me olhou mais uma vez, desinteressado, e depois se voltou para a Michel - Acho que podemos começar...