5. Young God

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Harry morava em um lugar que simplesmente definia tudo que o fazia ser quem ele era. A casa, que fora planejada para ser uma mansão, localizava-se no subúrbio de uma ótima vizinhança, no melhor lado da cidade, onde parecia não haver nada de errado. Os carros das mais variadas marcas, tamanhos e cores estavam todos polidos e com a lanternagem brilhando. Os jardins eram imaculadamente verdes e podados, com grandes quantidades de flores coloridas, me levando a acreditar que ninguém tinha pisado sobre aquelas gramas antes. Nos filmes as vizinhanças suburbanas são retratada com crianças correndo pelas ruas enquanto tentam pegar os últimos raios de sol no fim do dia; os pais acenando para eles do lado de fora enquanto regam as plantas e as mães olhando-os das janelas enquanto preparava o jantar. Mas ali, naquele lugar, não havia ninguém. O silêncio era incômodo e dava a impressão de que ninguém vivia ali. Parecia o lugar perfeito, com casas perfeitas, mas sem nenhuma presença humana. Era basicamente o lugar no qual eu sempre quis viver, apenas um pouco diferente da imagem que modelei em minha cabeça.

"Bela casa," eu disse tentando não soar tão impressionado quanto estava enquanto ele estacionava o carro na garagem descoberta. Lá dentro havia outro Mustang estacionado, preto como a noite, e com certeza muito mais caro.

Harry deu de ombros ao se inclinar para pegar a mochila no banco de trás. "É legal, eu acho."

Não sei se ele estava sendo modesto ou apenas não se importava com a magnitude de viver em um reino como aquele, como os príncipes das histórias que quase sempre são almas simples e humildes merecedoras de toda a fortuna que herdam, mas ainda sim, não se gabam.

Joguei minha mochila sobre um dos ombros e me apressei para descer do carro, visto que ele já estava lá fora. Quando Harry alcançou a porta da frente, algo o fez diminuir os passos. Talvez eu estivesse apenas vendo coisas, mas seus ombros caíram como se de repente toda a pose de garoto de ouro tivesse sido desligada. Pode ter sido minha imaginação, mas ele fez uma pausa de alguns segundos quando sua mão se encaixou na maçaneta e a girou. Assim que a porta se abriu, uma explosão de gritaria nos acertou em cheio como um trem sem freio. O som das vozes alteradas do que presumi ser os pais dele fez a paz do lado de fora desaparecer. E assim como tudo naquele bairro, até mesmo o chão de madeira no hall de entrada estava perfeitamente enceirado e parecia nunca ter sido pisado. Dois pares de sapatos estavam posicionados lado a lado em baixo dos casacos pendurados no gancho ao lado da porta.

"Tire os sapatos," Harry sussurrou, como se não quisesse que nos ouvissem, o que era completamente desnecessário visto que poderíamos entrar com sapatos de metal e não seriamos ouvidos devido a todo aquele barulho. "Minha mãe é meio psicopata quando se trata de carpetes," ele explicou. Assenti com a cabeça e retirei meus sapatos com os pés enquanto o observava fazer o mesmo com o All Star branco dele. É incrível como em toda a minha vida eu nunca tenha visto um garoto desamarrar o tênis antes de tirá-lo. Tentei não olhar muito quando ele retirou a jaqueta que ficava perfeita em seu corpo, mas que apesar da mínima diferença dos nossos tamanhos, eu tinha certeza de que ficaria gigante para mim. Os músculos contraídos sob o tecido fino da camisa era uma distração e tanto. Puxei meu suéter de crochê para fora e pendurei junto a jaqueta dele. Por um segundo ao voltar a olhar para ele, me surpreendi em como ele estava diferente sem a jaqueta. Ele era sempre Harry Styles, capitão e estrela do time, senhor e salvador da nossa escola, e agora tinha se transformado apenas em um adolescente normal. Um adolescente normal que ainda atraía todos os olhares das pessoas para si, mas ainda sim, um adolescente normal.

"Meu quarto é lá em cima," ele disse ao caminhar em direção a escada enorme que parecia levar para as estrelas. "Vamos subir," ele sussurrou, tentando manter sua voz rouca o mais baixa possível.

Os gritos pararam.

"Harry?" a voz de uma mulher chamou. "Harry, é você?"

Seu corpo pareceu estremecer enquanto se virava após ouvir a mãe o chamar.

Uma voz tão grossa quanto a de Harry, porém mais autoritária, gritou que ele não tinha ouvido, e a mulher tornou a chamá-lo. "Harry, você está em casa?"

"Porra," ele disse entredentes, gritando de volta. "Sim, eu já cheguei!" Após alguns instantes me olhando, ele continuou, "estou com um amigo aqui, vamos estudar lá em cima!"

O som dos passos pesados vindo em nossa direção se intensificou quando um homem que se parecia um pouco com o Brad Pitt, só que dez anos mais velho, vinte quilos mais gordo, e com uma expressão cem vezes mais mal humorada entrou na sala de estar. Os dois botões de sua camisa branca social estavam  desabotoados, a gravata estava desfeita e jogada sobre os ombros e uma das mãos segurava um copo com um líquido amarelo que presumi ser uísque. "Que tipo de amigo?" ele exigiu em um tom amargo e grosseiro, diminuindo os passos quando finalmente me viu ao lado de Harry. "Oh," foi tudo que ele disse.

"Esse é..." Houve uma pequena pausa enquanto Harry parecia tentar se lembrar do meu nome "meu tutor. Estamos estudando história."

"Louis," murmurei meu nome em um tom baixinho quando percebi que ele não o falaria, encolhendo os ombros como se fosse desaparecer dali a qualquer instante.

Sem se apresentar ou sequer dirigir a palavra a mim, ele arqueou uma das sobrancelhas enquanto me analisava de cima a baixo. "Tutor?" Seu hálito quente com cheiro de álcool se chocou contra meu rosto e quase foi o bastante para me embriagar também. Eu já presenciei mais do que apenas alguns goles de bebida com a minha mãe, então eu sabia como era um cara bêbado quando eu via um. E esse homem estava deliberadamente intoxicado. Ele ficou parado ali, em silêncio, por alguns instantes; eu não sabia se ele estava esperando que disséssemos mais alguma coisa ou se apenas tinha se perdido nos próprios pensamentos, mas depois de um tempo ele disse, "bom, Deus sabe o quanto você precisa de ajuda para melhorar suas notas". Então se virou de costas para nós e voltou para a cozinha. "Apenas não façam bagunça," ele adicionou sem nos olhar.

Alguns instantes depois, ele gritou exaltado, "Eu posso falar com a porra do meu filho se eu quiser, Anne!"

"Vamos lá," Harry murmurou, apoiando-se no corrimão e subindo as escadas devagar em direção ao quarto dele. Eu o segui, tentando me lembrar de como a casa dele parecia perfeita do lado de fora, sem nenhum tipo de sinal que indicasse que aqui dentro vivia um casal tão violento.

Uma placa vermelha estava pendurada na porta, dizendo "Perigo: Não entre!" com letras brancas, o que indicava que provavelmente tinha sido arrancada de algum estabelecimento. Outros adesivos variados com palavrões, desenhos e outras coisas preenchiam a superfície marrom da madeira, deixando apenas a maçaneta à mostra. Harry empurrou a porta e escorou-se ao lado dela, esperando que eu entrasse. Como um enxame de abelhas que acabara de escapar da colmeia, zumbindo fervorosas, as vozes alteradas e gritadas dos pais dele subiram escada acima a todo vapor. "Entre logo," ele disse impacientemente quando percebeu que eu ainda estava parado ali olhando para trás. Cada parte do meu corpo parecia implorar para que eu fosse embora antes que fosse tarde demais. Eu detestava estar no meio de conflitos de todos os tipos, e conflitos que envolviam pessoas bêbadas era ainda pior. Com certo receio, adentrei seu quarto, cruzando a porta e sentindo um leve arrepio em minha espinha quando ela se fechou atrás de mim, como se eu estivesse em algum tipo de filme sobre Serial Killers e estivesse prestes a ser uma das vítimas.


Boys Don't CryOnde as histórias ganham vida. Descobre agora