19. Over Again

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Eu tenho que admitir que quando cheguei em casa, eu estava esperando encontrá-lo lá de novo.

Eu não deveria, é claro. Depois de tudo, por que ele viria? Minha mãe não estava, o que significava outra noite de comida congelada, mas eu não estava com fome. Eu caí em minha cama como aquelas garotas dramáticas de séries. Naquele momento, eu estava me sentindo bastante emo, então não me importei.

Eu tentei afastar os pensamentos dele da minha mente, tentando colocá-lo de volta em qualquer caixa de memória de onde ele veio, mas era uma perda de tempo. Quanto mais eu o afastava, mais ele voltava. Eu fechei meus olhos e o imaginei em cima de mim de novo, o peso de seu corpo me pressionando na cama, me fazendo lembrar que ele era uma pessoa real e não um príncipe de algum livro.

Mas ele era mesmo real?

Meus olhos se abriram e encarei o teto por um longo tempo. Eu fui realmente alguém para ele ou fui apenas uma diversão? Parte de mim pensava que entendia o que tinha acontecido, mas depois de hoje, eu só tinha certeza de uma coisa.

Harry e eu estávamos em lugares completamente diferentes e não só isso, nós éramos pessoas diferentes.

O que tivemos foi simplesmente uma curiosidade para ele, um lugar novo onde ele quis explorar. Eu era apenas um erro que ele tinha cometido ao tentar coisas diferentes. Para ele eu seria apenas um comentário em uma roda de amigos, do tipo "oh sim, um cara no colégio bateu uma punheta pra mim." E para mim, ele seria aquele por quem meu coração bateria mais forte quando eu confessasse a alguém depois de ter bebido muito. "Sim, ele foi meu primeiro amor, e ele era hétero."

Eu não podia culpá-lo. Apesar de tudo, ele era ele, e eu sempre seria eu. Eu sempre soube que era diferente, mas agora tenho um nome para isso.

Gay.

O pensamento de ser gay me dá arrepios. Não pelo que eu pensava sobre isso, mas pelo que os outros pensavam. As palavras de Liam ecoando em minha cabeça. "Viadinho." Todas essas palavras que eu iria me acostumar a ouvir quando me assumisse, eu tenho certeza. Eu não tinha as mesmas chances que Harry teve. Eu não poderia simplesmente parar e não ser assim, tentando namorar alguma garota, casando em seguida, tendo dois filhos e um trabalho de merda além de contas, coisa que para todo mundo era normal. Eu não era normal e não importa o quanto eu tente, eu nunca serei.

Então uma parte minha gritou "QUE BOM!"

Naquela altura, a escuridão do meu quarto me fez cochilar por alguns segundos, porque quando o telefone tocou, eu quase pulei da cama. Olhei ao redor confuso, não sabendo se estava dormindo ou acordado. A casa toda estava escura, e eu tropecei em cada coisa que encontrei até chegar no telefone.

"Alô?" eu disse, não sabendo muito bem o quão acordado estava.

"Oi," ele disse, sua voz soando baixa e infeliz.

"Oi," eu disse de volta, me sentindo exatamente como ele.

"Pode conversar agora?" ele perguntou, o que me confundiu um pouco até que eu vi as horas. Era mais de dez da noite, hora ideal para qualquer adolescente levar uma bronca por estar no telefone.

"Claro," respondi enquanto levava o telefone para o meu quarto.

Ele ficou em silêncio enquanto eu caía em minha cama, a escuridão me fazendo sentir confortável com a minha prória miséria. Eu podia ouvi-lo respirando do outro lado, mas era óbvio que ele não sabia o que dizer. Finalmente, ele murmurou um "sinto muito."

E ele sentia muito, eu soube disso por causa do seu tom de voz. Ele realmente se arrependia e sua voz arrastada do outro lado quase me partiu ao meio. Tudo que eu conseguia pensar era em sua dor e seu sofrimento. Mesmo que eu estivesse sofrendo mais, a única coisa que parecia importar para mim era sua dor.

"Eu sei," foi tudo o que eu pude responder. O que eu poderia dizer? Que sentia muito também? Pelo que? Por beijá-lo de volta? Por sentir demais? Por não saber que ele tinha uma namorada? Meus olhos marejaram enquanto eu percebia que todas as emoções saíam novamente das caixas de onde eu as havia trancado.

"Eu não..." ele começou a falar e parou. Eu não sei se ele ia chorar ou apenas se engasgou com as próprias palavras. Ele suspirou pesadamente e disse depois, "eu não sei, Louis. Eu não queria te machucar."

"Eu sei," respondi em um tom baixo.

"Mas eu te machuquei," ele disse, sem sequer se preocupando em fazer daquilo uma pergunta, porque ele sabia qual era a resposta.

"Eu sei," disse de novo, tentando me manter firme, mas falhando miseravelmente e chorando.

Eu o ouvi do outro lado, segurando o choro também enquanto soluçava. Finalmente ele fungou e disse com mais convicção agora. "Eu vou consertar as coisas, eu prometo."

Ele estava jurando, um juramento de consertar as coisas que havia estragado. Como um príncipe.

E foda-se se aquilo não era bom.

Ouvi a voz de sua mãe no fundo da ligação e depois ele falou de novo. "Eu preciso ir. Posso te levar para a escola amanhã?", eu não sabia por que mas estava assentindo com a cabeça como um idiota até ele hesitantemente me chamar. "Louis? Está aí?"

"Sim," eu respondi rapidamente. "E sim, você pode me levar para a escola."

"Ótimo," ele disse, algo como um sorriso surgindo após ele falar. "Boa noite."

Ele desligou mas eu continuei com o telefone próximo ao ouvido por um longo momento.

Ele ia me salvar. Eu sabia disso.


Boys Don't CryWhere stories live. Discover now