Capítulo 5.1

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Ambos permaneceram a maior parte da noite ali, dormindo sobre o chão frio. Jenna despertou de madrugada, graças à dor aguda em seu dorso. Ao ver o seu filhinho aninhado ao seu corpo, seu coração doeu.

Enquanto lágrimas caíam do seu rosto, não somente pela dor física, mas pela dor moral, ela reuniu toda força que tinha para levantar-se e em seguida, tomar seu filho no colo, para o colocar sobre a cama.

Depois, procurou por um analgésico em seu criado-mudo e tomou logo três comprimidos, para que fizesse efeito mais rápido. Cansada, deitou-se ao lado do filho e novamente adormeceu.

Três meses haviam se passado desde a festa de aniversário de Vincent, quando, finalmente, Linda Davis pôde ir à Nova Iorque visitar a irmã, decidida a ficar uns dias em sua casa, a fim de descobrir o que havia de errado com Jenna, visto que não se esquecera da má impressão que teve na festa, além da tristeza perceptível no seu tom de voz nas conversas pelo telefone. Linda trouxe a filha, pois como o marido Mark trabalhava, ele não teria como cuidar da menina enquanto a mãe estivesse ausente, assim, a menina também poderia se divertir na casa da tia, brincando com o primo.

Jenna ficou realmente feliz ao recebê-la, mas fechou-se ao ser questionada sobre sua relação com Richard. Linda insistiu, deixou claro que suspeitava que havia algo errado, era visível que a irmã não estava feliz, mas mesmo com sua insistência, não obteve qualquer resposta.

A preocupação e as suspeitas de Linda aumentaram ao saber que Jenna ignorava tudo que tivesse relação à sua situação financeira, chocou-se ao saber que a irmã dispensara seu advogado e que Richard estava à frente de tudo, sem ao menos dar para a esposa qualquer satisfação.

Jenna argumentou que aquilo não era um problema para ela, pois confiava no homem com quem dormia, pois ele tinha bastante experiência como administrador. Os argumentos de Jenna em nada convenceram a irmã, para ela, estava claro que o cunhado estava passando a esposa para trás, então, como não tinha como descobrir por conta própria e ciente de que a irmã jamais investigaria aquilo, Linda procurou por Alfred, ele certamente tinha meios legais de descobrir como o patrimônio de Jenna e Vincent estava sendo administrado.

Alfred, por questões éticas, relutou em atender o pedido de Linda, mas ela o convenceu ao relatar as suas suspeitas, alegando que Jenna parecia infeliz. Assim, o advogado comprometeu-se a investigar.

Os dias em que Linda permaneceu na casa da irmã, presenciou uma rotina normal em que um homem apaixonado dedicava-se à sua esposa e filho, enquanto Jenna parecia encenar uma felicidade que não existia. Aquilo era fingimento, Linda tinha certeza disso.

Depois de ver a irmã enjoar duas ou três vezes e até mesmo cair na cozinha, depois de uma brusca queda de pressão, Linda questionou-a sobre a possibilidade de uma gravidez. Jenna negou de forma obstinada, de um jeito que Linda percebeu que não era porque ela não podia, mas sim, que ela não queria engravidar, o que obviamente, não era normal. Lembrou que quando o pai de Vince era vivo, Jenna falava do quanto queriam ter outros filhos.

De tanto insistir, Jenna foi ao médico acompanhada pela irmã, onde fez um exame, que confirmou sua gestação de exatamente quatorze semanas.

As respostas que Linda procurava foram dadas com a reação de Jenna, após a confirmação da gravidez. Linda soube que o casamento de Jenna fora um erro, sua irmã estava destroçada, nem de longe era a mulher que era antes do marido.

Jenna chorou desesperada nos braços de Linda, em meio aos soluços, dizia para si mesma que aquilo não era verdade, que não podia ter acontecido. Jenna estava fraca, acuada, ela sentia-se um lixo e sua irmã percebera isso, mas ainda assim, mesmo incapaz de controlar as suas emoções na frente de Linda, Jenna não respondeu a nenhum dos questionamentos dela, negou-se a falar, mesmo que por cima, sobre o inferno que estava vivendo com o marido. E como poderia falar? Jenna sentia-se envergonhada, enojada dela mesma por servir de tapete para o homem que amava, ela se culpava pelas coisas terem chegado aonde chegou e agora, não sabia o que fazer para sair disso. Jenna não tinha força para isso, ela não tinha coragem.

Linda retornou com a filha para sua casa, com o coração despedaçado, queria tirar a irmã dali e levá-la mesmo que fosse arrastada, mas sabia que não era possível, pois seja lá o que fosse que estava acontecendo, nem ela, nem ninguém poderia fazer nada, se Jenna não permitisse.

Para surpresa de Jenna, a descoberta de que seria pai, em muito agradou o marido, que ficou maravilhado com a notícia.

Richard realmente gostava de crianças, ele amava Vincent como se fosse seu filho e agora, que de fato teria um, estava realmente empolgado. Assim, mais uma vez, seu comportamento dentro de casa mudou, ele tratava a esposa exatamente como fizera para conquistá-la no começo da relação. A felicidade de ambos duplicara, quando no quinto mês de gestação, descobriram que teriam uma menina, pois como já tinham Vincent, ficaram animados em terem um casal. Jenna apressou-se a sugerir o nome, o qual Richard, numa tentativa de agradá-la, imediatamente aceitou. A irmãzinha de Vincent se chamaria Katherine.

Novamente a esperança renasceu para Jenna, de forma que pôde começar a curtir sua gestação. Ela começava a respirar aliviada, na esperança de um futuro melhor para sua família.

Graças aos conselhos de Max, Richard afastou-se dos jogos e de Maria, para tentar ser um pai e marido melhor, mas seus esforços não duraram muito tempo.

Para Richard, os jogos, a bebida e a amante, consistiam em um único vício, do qual era incapaz de fugir, assim, mais uma vez, Jenna fora vítima de suas agressões.

Richard tinha consciência de que a machucava, assim como poderia ferir a sua filha no ventre da esposa. Mas a vida que levavam parecia-lhe o único modo de viverem juntos, os desentendimentos e as agressões se tornaram um hábito, do qual sua força de vontade era demasiada baixa para mudar aquilo. Por isso, com a intenção de não a agredir mais enquanto durasse a gestação, ele decidiu sair de casa, alegando se hospedar em um hotel, indo lá apenas para visitar Jenna e o filho.

Jenna então não mais sofria com as agressões físicas, mas sofria pelo abandono, pela ausência do marido. Suas emoções estavam sempre à flor da pele, tanto pela gravidez, como por sua atual situação.

No dia em que Richard saiu, ele prometeu que viria vê-la no dia seguinte, mas não apareceu, isso porque naquele mesmo dia, ele foi preso, acusado de tentativa de homicídio ao espancar o vizinho de Maria, pois o encontrou na cama com ela. Para que a esposa dele não soubesse do acontecido, foi a amante quem procurou um advogado e acertou os detalhes do pagamento da fiança, para que Richard saísse livre, o que aconteceu quatro dias depois. Embora traído e com raiva da amante, ele não queria perdê-la, então a perdoou.

Em suas visitas à esposa, que ocorriam a cada três ou quatro dias, de acordo com o tempo que ele dizia estar livre do trabalho, Richard mostrava-se sempre amável, com saudades e apaixonado.

Jenna entrou em trabalho de parto com vinte e sete semanas, antes mesmo do sétimo mês de gestação. Ao sentir as dores das contrações, ligou para a senhora Margareth, que veio rápido para cuidar de Vincent, em seguida, ela ligou para o marido na floricultura, mas foi Max quem atendeu e informou-a que Richard não estava, ao que parecia, ele mesmo se encarregara de fazer uma entrega.

Max, percebendo que a esposa do amigo não estava bem, prontificou-se a ajudar, ao saber que ela entrara em trabalho de parto, tentou ligar para Maria, na intenção de avisar Richard daquela urgência, mas ninguém o atendeu. Preocupado, dirigiu apressado para casa de Jenna e a levou para o hospital.

O parto fora demasiado difícil e demorado, mas finalmente, Katherine nasceu.

O Ceifador de Anjos: Antes da ColeçãoWhere stories live. Discover now