A Última Música

Prólogo

O homem estava amarrado na cama e, em sua frente, uma loira esbelta, apenas com uma lingerie preta, olhava para ele com uma faca na mão e um sorriso diabólico no rosto.

— O que você está fazendo? Ficou louca? Não gosto desses tipos de jogos! - gritou ele apavorado.

Uma música tocava no último volume, era Smells Like Teen Spirit do Nirvana, abafando os gritos do homem.

Ela caminhou em sua direção, subiu na cama e encarou aqueles olhos que lhe lembravam as folhas secas do outono, vendo desaparecer o sorriso de covas que ele tinha minutos antes. Ela podia sentir o medo e o pavor que emanava do corpo do desconhecido.

— Pensei que você gostasse disso. - sussurrou, sentando e se esfregando nele.

A mulher pegou a faca e passou a ponta pelo abdômen do homem. Ele remexia-se, tentando de alguma forma fugir, mas as amarras que o prendiam na cama estavam muito bem apertadas. Não havia saída.

As tentativas frustradas de libertação só a satisfazia ainda mais. A música, os gritos e o medo a embriagavam, eram o incentivo para que ela terminasse o serviço.

— Por que tão sério? - perguntou parando a faca bem em cima do coração dele - Eu amo seu sorriso, sua boca carnuda fica bem sorrindo e, deste jeito, suas covinhas não aparecem. - lambeu sua bochecha.

— Você é louca, me solte!

— Resposta errada, querido, você deveria ter sorrido. - murmurou ela em seu ouvido e, em seguida, encravou a faca no coração, empurrando cada vez mais, até que ele desse seu último suspiro.

O sangue escorria pela ferida, sujando a mulher que assistia satisfeita a cena do homem definhando sob seus olhos. Retirou a faca lentamente e a direcionou para a face dele, traçando alguns cortes regulares. Alargou sua boca, tatuando ali, um grande sorriso vermelho e macabro no local.

— "A denial, A denial, A denial..." - Kurt Cobain cantarolava, embalando a morte eminente.

A última batida, o último fôlego e o último refrão. A música chegou ao fim, assim como a vida do homem.