III

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Já tinha passado duas semanas desde a noite em que Miranda havia visto Lewis na televisão, desde então, ela procurava informações sobre o homem na internet, encontrando um blog de sua autoria, em que o jornalista escrevia sobre diversos assuntos. Em uma das postagens estava um convite para uma palestra que ele daria em uma biblioteca no outro dia. Miranda anotou o endereço do local, pegando um táxi e indo até lá para conhecer a sua estrutura. Todos os seus passos deviam ser premeditados, o detetive da Scotland Yard estava em sua cola, qualquer erro seu seria a salvação para ele desvendar o caso e trancafiar Alice em um país não tão maravilhoso.

A biblioteca era um local acolhedor, possuía dois andares, sendo o primeiro ocupado por algumas poltronas e mesas, e no outro, as estantes de livros espalhavam-se por todo o espaço. Miranda estava usando uma peruca, camuflando assim o seu cabelo loiro em um preto escuro e utilizando um óculos de grau. Ela percebeu que o local possuía apenas quatro câmeras antigas, duas em cada andar, sendo que no primeiro, elas se encontravam na porta, se alguém se sentasse no fundo, entre uma pequena prateleira ali, provavelmente não seria captado pelo objeto. Comprou um livro qualquer de romance e saiu do local, voltando para sua casa.

No dia seguinte, ela colocou um vestido rodado, azul marinho, calçou uma meia-calça e fez uma maquiagem básica, se certificando de colocar o batom vermelho. Calçou suas botas de cano alto, depositando a faca ali, pegou seu sobretudo e retirou-se da casa. Houston havia saído, como fazia toda quarta-feira, para jogar sinuca em um bar que havia ali perto. Ela não tinha dado nem dez passos quando os faróis de um carro miraram nela, a assustando.

— Para onde você vai, Miranda? - gritou Houston saindo do carro e batendo a porta com força.

A garota não sabia o que fazer, tinha certeza que ele iria surtar.

— Houston... - ela tentou explicar - Eu preciso fazer isso. Mas se você for comigo, vai ser mais fácil. Por favor, Houston.

O homem chutou o pneu do carro e passou as mãos pelo cabelo. Olhou novamente para ela e suspirou, não podia deixá-la sozinha.

— Entre no carro. - ele disse.

Miranda sorriu, foi até ele e o beijou, sussurrando o quanto o amava, entrando no veículo em seguida.

O percurso até a biblioteca durou uma hora. Ao chegar, Houston estacionou um pouco afastado dali.

— Você sabe o que fazer, não é? Espere a gente sair e depois nos siga. - disse Miranda, enquanto amarrava o cabelo em um coque e colocava uma boina e um óculos de grau, a gola do seu sobretudo estava levantada, se ela ficasse com a cabeça abaixada seria difícil ver seu rosto.

Ela deu um último beijo no parceiro e saiu do carro, caminhando para a biblioteca. Entrou rapidamente, o local já estava cheio. Dirigiu-se até a parte mais afastada, onde sabia que as câmeras não alcançavam. Cinco minutos depois, Lewis chegou, sorrindo para todos.

Miranda sentiu seu coração acelerar, o sorriso era igual ao dele. O jornalista se acomodou na bancadinha que tinha ali, pegando o microfone.

— Boa tarde a todos. - disse ele com uma voz grave - Vamos debater hoje a Arte da Comunicação. Sei que para muito de vocês não é fácil se comunicar com outra pessoa, vamos deixar a timidez de lado a partir de agora.

Ele começou seu discurso, debatendo sobre como a fala era um dos pontos que diferenciava os seres humanos dos animais e como dominá-la era importante. Miranda mal escutava o que ele dizia, sua mente se concentrava em analisar cada detalhe do rosto de Lewis. Os olhos castanhos, o cabelo arrumado, as covinhas que apareciam quando ele sorria.

A palestra durou duas horas, as pessoas foram cumprimentar o jornalista, o elogiando. Miranda caminhou para fora do local, ficando encostada em um poste, esperando ele sair, o que não demorou muito. Lewis estava com alguns papéis na mão, indo para o carro, quando ela falou com ele.

— A sua palestra foi excelente. - ela disse, com uma voz doce e baixa.

Ele se virou, a encarando.

— Obrigado.

— Olhe isso, pela primeira vez eu consegui falar sem gaguejar com um estranho, aprendi com você.

Ele riu, as covinhas aparecendo.

— Eu sei que é estranho, mas eu nunca fiz isso, falar com um rapaz assim, então, aí meu Deus, é melhor eu ir embora. - ela se virou, desviando seu olhar dele, sendo perfeita no seu papel.

— Espere. Não precisa ficar nervosa, quer tomar um café comigo?

Ela olhou para ele e sorriu, concordando.

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