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Já passava das três da manhã, Miranda estava dentro de um carro velho, fumando seu cigarro. Estava impaciente com a demora de Houston em limpar sua diversão com o homem. Depois de 10 minutos, ele abriu a porta e começou a levar o veículo para longe dali.

— Você está demorando cada vez mais, Houston.

— Não tenho culpa se você faz todo um circo, o sangue estava todo espalhado desta vez. - resmungou.

Miranda estava cansada das reclamações regulares do parceiro, ela não queria saber o trabalho que dava para arrumar a sua bagunça, só queria sair dali o mais rápido possível. Olhou para Houston, ele tinha a aparência cansada, mas estava sempre ao seu dispor, lembrou-se de como havia o conhecido dois anos atrás na clínica psiquiátrica São Bartolomeu.

Tudo naquele lugar era branco e isso a irritava ainda mais , não conseguia acreditar que seus pais tinham a colocado ali, em meio aos loucos. Ela havia dito a verdade, mas ninguém acreditou, por isso, todas as células do seu corpo odiavam seus progenitores. Foi levada a uma sala cheia de mesas, várias pessoas estavam sentadas ali conversando, ela não queria falar com ninguém, então se dirigiu para um lugar mais afastado, para ficar sozinha. Entretanto, seu momento de solidão foi curto, minutos depois um jovem com pele mais clara que as paredes da instituição, cabelo loiro escuro que lembrava balas caramelizada e olhos verde sem brilho, sentou-se na sua frente. Ele sorriu para ela e falou:

— Eu vejo gente morta.

Miranda arregalou os olhos e ficou encarando o garoto, queria correr dali.

— Eu vejo gente morta. - repetiu ele - E você? O que você tem para estar aqui?

A garota ficou em silêncio, o fitando com medo, não ousou responder nada. Depois de alguns minutos, o garoto sorriu.

— Vejo que você é uma das minhas. Sempre quando digo que vejo gente morta, esses loucos começam a rir e falar que também veem. Mas você ficou amedrontada. Sou Houston e não se preocupe, não tenho alucinações com defuntos. - falou estendendo sua mão para ela.

— Então, por que você está aqui? - sussurrou Miranda, ainda temorosa.

— Segundo meus pais, sou uma granada ambulante, basta um pequeno estímulo e buum. - disse ele abrindo os braços - Eu explodo tudo. Nada muito anormal na verdade. - ele riu - E você?

— Segundo meus pais - Miranda o imitou - eu vejo coisas que não existem, crio cenas na minha mente. O que é mentira, mas eles preferem acreditar nisso, porque a verdade destruiria tudo.

— Parece que os malucos são nossos pais, não é mesmo? Qual o seu nome?

— Miranda.

— Gostei de você, Miranda.

Depois desse primeiro dia, os dois ficaram próximos, se divertiam no meio de todo o caos que estavam vivendo, aprontando durante a terapia em grupo e pelos corredores da clínica. O rapaz fascinava-se pela garota cada vez mais, era inegável a atração insana que sentia por ela. Até que um dia, Miranda chegou com uma ideia mirabolante, iriam tentar fugir dali. O plano foi arquitetado pelos dois e eles cuidaram de tudo durante um mês, esperando o dia perfeito para colocá-lo em prática. Foi na madrugada de um sábado que tudo aconteceu, a clínica ficava mais vazia nos fins de semana e o número de funcionários diminuía. Esperaram a segunda ronda dos enfermeiros, haviam roubado uniformes da lavanderia, assim, quando deu a hora, saíram dos quartos disfarçados, marcando de se encontrarem em uma árvore no jardim.

Miranda andava de cabeça baixa pelo corredor vazio, seu cabelo loiro amarrado em um coque. Em poucos passos chegou ao jardim, encontrando com Houston que já a esperava no ponto marcado. Eles correram entre as árvores até pararem em um muro, subindo em uma delas para conseguir chegar a altura suficiente.

— Você pula, eu pulo. - disse Houston.

A garota tomou coragem e fez o que ele mandou, se arremessando. Conseguiu equilíbrio segurando no muro, então a queda não foi tão feia. Houston foi mais rápido que ela, fazendo tudo impecavelmente. Eles se encararam, rindo, exultantes pelo plano perfeito. O garoto não perdeu a oportunidade e a agarrou dando um beijo. Ao se soltarem, ela olhou para ele, com um sorriso diabólico no rosto e disse:

— Que os jogos comecem.

Eles deram as mãos e correram a fim de se afastarem daquele lugar o mais rápido possível. Duas esquinas dali, um amigo de Houston, o qual sempre o visitava na clínica, esperava por eles em um carro e finalmente teriam a desejada liberdade.

A Última Música Where stories live. Discover now