5: Kia e Lia, Lia e Kia

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"Ótimo, ao invés de uma irmã carinhosa, agora tenho uma garota sem coração dentro de um uniforme de colégio em casa. Valeu, vida. ── Felipe."

Possuía uma rotina semanal que não poderia e nem seria quebrada de alguma maneira.

Segundas e sextas são dias de treino com a equipe de natação, por isso ficamos até mais tarde no colégio, treinando, discutindo, matando tempo ou correndo como fizemos hoje. É, segundo a nossa professora, exercícios fora da água ajudam e muito. Terças e quintas eu tinha reuniões com o comitê de organização da formatura, mas não eram todas as terças e quintas, apenas duas delas ao mês.

Todos os dias da semana eu tinha que estudar e pegar minhas irmãs em alguma atividade extracurricular que ambas faziam. Aulas de reforço, karatê, ballet, clube do livro...

Como crianças de doze anos conseguem conciliar tantas coisas?

Kia e Lia eram gêmeas mutantes, como carinhosamente as apelidei. E, mesmo sendo exatamente iguais, fazendo as mesmas coisas e às vezes até usarem roupas iguais, você consegue descobrir quem é quem apenas pelo comportamento ou o modo de falar. A cor do cabelo influência em muito também.

Lia é a mais velha por um minuto ou algo do tipo. Ela é a garota de doze anos mais doce e querida que já conheci, sério, não falo porque é sangue do meu sangue. Lia gosta de dar abraços e ficar fazendo carinho nas pessoas, na maioria das vezes é ela que me dá um colo e fica fazendo cafuné. Também é quem fica me ouvindo desabafar quando tenho algum problema.

Lembrando que tenho dezessete anos, mas sim, minha irmã de doze me dá colo e às vezes é mais coerente do que eu.

Por outro lado, temos Kia Alves, a caçula da família ou, como meu irmão apelidou carinhosamente, a rapa da panela. Se Lia é carinhosa e essas coisas, Kia detesta algum tipo de afeto a mais e é mais fechada. Ela é mais parecida comigo nesse ponto em certos momentos.

Mas Kia nem sempre foi esse limão que ela é hoje, devemos bastante desse comportamento dela ao nosso irmão mais velho.

Mais uma vez preciso dizer: obrigado Felipe pelas coisas que causou.

Peguei minha mochila de treino que estava jogada ao meu lado no corredor vazio do Basso. Olhei uma última vez para o meu reflexo cansado no espelho, fechando logo em seguida o meu armário e me preparando para reencontrar Felipe para valer dessa vez.

Tive que enfrentar Rafael Cunha mais cedo e ainda teria que enfrentar Felipe. Tudo bem, eu consigo fazer isso numa boa e sem surtar.

Tinha vindo para o colégio no carro da Bruna, por conta de ter ficado o final de semana todo em sua companhia e minha carona ter ficado em casa. E como a Bruna não tinha ido ao treino de vôlei de hoje porque tinha que ir ao médico, eu apenas tinha uma opção para ir até a minha casa: ônibus.

Já estava quase saindo do Basso, apenas poucos metros me separavam da saída do estacionamento do colégio, quando foquei minha atenção em meus tênis de treino para corrida. Torci meu nariz em sinal de reprovação, teria que comprar um tênis novo.

─ Estava te esperando. ─ parei de prestar atenção nos meus tênis de treino e olhei em direção a garota loira parada um pouco mais a frente. ─ Pensei que seria bem mais rápida.

Fiquei bem surpresa por encontrar com a Júlia parada bem próxima a saída do Basso. Ela estava encostada em seu carro, ainda com a roupa de treino e, pelo visto, me esperando para falar alguma coisa.

Eu queria e muito falar com ela pelo motivo de: Júlia Sanchez me ignorou durante o final de semana inteiro! Tentei falar com ela durante o dia de hoje, porém foi algo bem complicado depois daquele meu encontro com Rafael e minha discussão no meio do pátio do Basso. Depois ainda tentei falar com a Júlia no treino, mas com toda aquela confusão de ser o primeiro treino sério do ano de todas as equipes, ficou bem complicado.

5inco | ✓Where stories live. Discover now