20: Carrossel

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"Embarque nesse carrossel e veja seus dois melhores amigos ali no maior clima de romance. ── Pedro. "

Duas vezes ao ano ─ às vezes até mais ─ o arrependimento batia na minha porta e as mesmas perguntas de sempre eram feitas: por que mesmo eu decidi dar uma de boa samaritana na pré-escola e decidi dividir meu lanchinho de casa com aquele moleque de cabelo preto e boné vermelho? Por que eu decidi dar meu bolinho de laranja e compactuar com aquela criatura que exalava inocência pura, mas, na verdade, era o verdadeiro leão em pele de cordeiro? Por que, meu Deus, eu fui logo escolher Pedro Ferreira para virar um dos meus melhores amigos?

Essa estava sendo a segunda vez nesse ano que o arrependimento batia na minha porta e todas aquelas perguntas inundavam os meus pensamentos.

Não que eu odeie o Pedro, mas eu odeio o Pedro quando ele está dentro de um parque de diversão.

Eu sei, eu sei, odiar um dos seus amigos é algo bem contraditório e que parece não ter nenhuma lógica, mas é porque ninguém no mundo tem um melhor amigo tão Pedro quanto o nosso Pedro e não consegue entender a criatura bizarra que ele se torna assim que coloca os benditos pés dentro de um parque de diversão.

Gostaria de dizer que é a criança interior dele que acorda, mas com certeza não é isso.

Em partes, quero dizer. A parte birrenta e que não aceita respostas negativas são bem semelhantes à de uma criança de cinco anos mimada. Cara, eu amo o Pedro, mas ele consegue ser mais irritante do que a filha mais nova da nossa vizinha. E eu já havia classificado aquela criança como o ser mais irritante do mundo.

Pedro sempre quer ir nos piores brinquedos possíveis e precisa arrastar Deus e o mundo com ele. "Não tem graça ir sozinho! Tem que ir todo mundo junto, galera.". Dizer um simples não é algo que não o vai fazer mudar de opinião. Nunca. Ele vai te encher tanto o saco ─ tanto, mas tanto ─, que quando você se der conta, vai estar sentada em um dos assentos da montanha russa e esperando para o brinquedo começar a se movimentar.

Ou vai estar dentro do trem fantasma e já rezando para todos os santos possíveis para não morrer do coração dentro daqueles túneis.

Ou ─ a pior de todas, com certeza ─ vai estar comendo um cachorro quente e algodão doce ao mesmo tempo quando ele olhar para o barco Viking e arrastar todo mundo para dentro daquele negócio. Pode apostar: sempre vai ter alguém para vomitar. E eles não param o brinquedo mesmo que alguém esteja colocando todas as tripas para fora. Não. Você vai ter que aguentar até o final aquela tortura toda e, ainda por cima, vai ter que segurar as suas tripas para não as derramar.

Pedro não aceitava um não como resposta quando se tratava de ir em todos os brinquedos de um parque de diversão seguindo a sua nada lógica ordem de preferência.

Ah, e que conste, eu não sou a única a reclamar da postura de Pedro em parques.

Então quando paramos na frente daquele maldito looping, a minha única vontade era de voar no pescoço dele.

─ Mas nem que me paguem vou voltar a andar nesse brinquedo. ─ xinguei mentalmente Pedro de todas as coisas possíveis. ─ Vocês lembram da última vez, não lembram? Bem capaz que eu vou andar nessa coisa de novo. Meu estômago e eu vamos ficar aqui embaixo, bem seguros, esperando vocês.

Óbvio que o Pedro tentou me convencer de que andar no looping era uma ideia extraordinária e que o mesmo raio não caía duas vezes no mesmo lugar. Mas quem me afirmava aquilo com 100% de certeza? Eu dei boas risadas da cara dele e o deixei plantado com os meus outros amigos na fila daquele brinquedo maldito, procurando pelo parque algum brinquedo que não fosse destruir o meu estômago e ─ muito menos ─ os meus neurônios.

5inco | ✓Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon