Two

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Minha mãe não soube muito bem o que falar comigo quando me viu chegando em casa. Não pude dizer que me sentia ofendida com aquilo, eu estava era grata por me livrar da farmigerada e insuportável conversa sobre como havia sido na Igreja.

Encostei a cabeça no balcão da cozinha, esperando a vontade de fazer alguma coisa da vida aparecer, os suspiros eram contínuos e bocejos também. Talvez eu devesse dormir, fazia bem para o organismo e eu ficaria feliz. É. Dormir me faz feliz.

Levantei na falsa esperança de ter alguma paz e nesse momento, vi meu pai atravessar a sala, sorrindo todo empolgado em minha direção e com aquela aura de quem vai me encher de perguntas até o cu. Ótimo, me fodi bem lindo.

–  Então... Como foi lá? – Por dois segundos senti pena do seu tom de esperança. Um, dois. Isso, passou.

– Foi ótimo! – falei, um sorriso venenoso nos lábios – Consegui o converter para o satanismo e agora ele deve estar matando crianças para fazer sacrifícios e oferendas a Lúcifer. Sabe como é, o Diabo se amarra numas coisinhas puras. Se Thomas der sorte, ele pode até se banhar com o sangue delas e ser jovem para sempre! – Aplaudi, impressionada com meu próprio discurso e pensando rapidamente que a obsessão por seitas e rituais satanicos não estava nada saudável. Eu devia parar de ler sobre isso e ir ouvir Halsey. Seria bem melhor para qualquer pessoa.

– Summer O'Hare!

– Papai, sabe que não adianta me chamar pelo nome completo achando que vai causar algum efeito positivo sobre o sermão que ao menos sabe dar. Vai me fazer perceber que vocês têm um péssimo gosto para nomes. Qual é? Summer O'Hare? Parece nome de acampamento de verão.

– Sum! Não reclame do seu nome, sabe que fizemos isso para que você e suas irmãs tenham...

– Uma conexão com a natureza e suas estações. Sim, papai, eu sei. Já ouvi isso novecentas e trinta e cinco vezes. Olhando pelo lado bom... – percebi que minha irmã estava entrando no cômodo e sorri em sua direção - Não me chamo Spring ou Fall. Deviam transar mais e tentar a última filha, Winter é um nome bonito. Pelo menos dava para ter piadas com Game Of Thrones.

Pisquei na direção deles e me mandei. Odiava quando todos estavam juntos porque aquela conversa insuportável de como eu devia aceitar a palavra de Jesus começava e aí não tinha fim.

Se minha família era maluca? Só um pouco.

Bem pouquinho mesmo.

99% maluca.

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Continuei passando os canais da TV, numa disputa interna de quantos canais eu conseguia passar em menos de um minuto. Patético, eu sei. Minha internet estava bastante lenta e não tinha como eu assistir séries na Netflix. Eu queria tanto assistir à nova temporada de Scream, supria minha necessidade de Sense8 e Daredevil. Como podem ver, tenho uma vida social muito ativa também.

Na verdade, eu até tinha, só que minhas saídas não eram para a cidade que eu morava. Na verdade, só quando estivesse num humor muito bom. As pessoas daqui eram tipicamente interioranas, então já sabem, elas vivem falando de você e mesmo que você nem saiba o nome de alguma delas, será o alvo principal para sempre. Mas eu nunca precisei muito disso. As pessoas já chegavam para falar de mim para meus pais só pela minha existência. "Summer não foi à escola hoje." "Você vai mesmo deixar sua filha sair com essa roupa?" "Ela parece uma meretriz." Qual é? Quem usava esse termo ainda? Nem minha avó e olhem que ela era bem antiquada.

Não sabia que dia da semana era, aquilo não era do meu conhecimento haviam algumas semanas. Desde a formatura, para ser mais exata. Meu último ano do colégio havia sido normal. Nada muito espetacular, eu já tinha aprontado tudo antes.

O Pecado de Summer O'Hare ✔️Où les histoires vivent. Découvrez maintenant