Five

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Um milagre havia pairado sob nossa cidade naquela manhã.

Olhei para minhas roupas e soltei uma gargalhada audível a uma boa distância, eu me sentia a bruxa má de qualquer desenho que a Disney tivesse lançado nos últimos sessenta anos. Ou não, eu não parecia a bruxa má. Não hoje.

Eu era a donzela em perigo.

Mas na verdade e bem no fundo, eu era o perigo. Estalei o pescoço ao checar o brilho em meus lábios só mais uma vez antes de sair de casa.

Era domingo. Hoje era dia de missa.

E toda a cidade estava na pequena igreja comandada por Thomas.

Toda a cidade virou a cabeça quando eu entrei naquele maldito lugar.

Eu usava uma saia branca e rodada, batia abaixo dos joelhos e era coisa que minha mãe havia comprado para mim e eu jurado que nunca usaria. Uma blusa rosa bebê e com as mangas compridas, o tecido levemente dobrado na cintura para que se encaixasse dentro da saia. Sapatos ortopédicos e neutros, uma meia-calça para cobrir a pele de minhas pernas. A maquiagem não passava de rímel e um gloss incolor.

Eu me sentia como a própria Madre Teresa.

E sorri da maneira mais angelical possível quando Thomas perdeu a fala no meio de qualquer coisa que estivesse falando.

Pisquei para ele assim que sentei ao lado de minha família – chocada, por sinal – e ele voltou a dar seu sermão.

Ele sabia o que ia acontecer. Eu sabia o que ia acontecer.

Era o pecado, da maneira mais pura possível. Do jeito mais cru e selvagem.

O fruto proibido que ainda faziam as crianças acreditarem ser uma maçã, mas muito mais gostoso que a fruta.

Demorou muito para que acabasse e eu não fazia ideia de que uma missa podia ser tão longa, que negócio chato! Tentei seguir todas as pessoas, falando tudo o que elas falavam e até cantando quando eles estavam cantando também. Quando – finalmente – acabou, todos foram conversar e cumprimentar meu padre favorito e assim se enrolou por muitos minutos. Até que, sobramos apenas nós e meus pais agradeciam ferozmente a Thomas, por finalmente colocar um pouco de luz na minha vida e até perguntaram como ele tinha me feito ouvir a palavra de Deus.

Nem mesmo Thomas escondeu a risada nervosa quando a pergunta foi feita. Ele simplesmente olhou para minha mãe e sorriu de uma forma genuinamente calma.

– Summer é muito mais fácil de lidar do que vocês imaginam. Não sabem, mas tem uma filha extremamente iluminada e bondosa, existe uma paixão fogosa no coração dessa mulher.

– Me enche de alegria te ouvir falar assim! – Meu pai colocou a mão no ombro de Thomas e olhou para minha mãe com aquele sorriso ridículo – Gostaria de se juntar a nós no jantar de hoje? Summer irá embora em alguns dias e esse é o nosso jeito de agradecer por tudo o que fez por nossa família.

– Na verdade... – Interrompi, o tom doce ainda presente em minha voz – Eu queria dar uma palavrinha com Padre Thomas antes de irmos para casa, é quase uma despedida e eu me apeguei muito nos últimos dias. – Tentei jogar emoção em minha voz e acho que funcionou, pois eles continuaram sorrindo e acenando como bestas.

– Claro, querida. Vou deixar o carro com você caso queira ficar mais tempo, pode chegar a hora que quiser, tenho certeza que esse tempo com Padre Thomas irá só fazer bem para sua alma.

Assenti, assistindo Thomas levar todos eles para a porta e depois fechar. Um clique foi ouvido e o som era tão doce quanto crianças chorando. Ótimo.

O Pecado de Summer O'Hare ✔️Where stories live. Discover now