Capítulo 1 - Pelo Império

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Arredores de Kendrat, segundo ano das Guerras Dracônicas.

As peças de seu peitoral de aço emitiam tinidos metálicos ao chocar-se umas contra as outras enquanto ele corrida, saltando por entre valas e corpos. Estava suado, ofegante, mas não podia parar agora. Subitamente, olhou para o que restara da espada quebrada em seu punho. "Sabia que me deixaria na mão", esbravejou mentalmente ao desfazer-se da arma inutilizada jogando-a para longe. Lembrou-se de sua lâmina partindo ao meio instantes atrás quando tentou perfurar as rijas escamas de um dra'kul que o atacara. Teria que mudar sua tática.

Para sua sorte, não estava sozinho. Ao seu redor, pelo menos mais cinco pelotões de soldados da Legião Imperial avançavam, abrindo caminho por entre as fileiras de soldados draconianos que se colocavam entre eles e seu objetivo. Todos haviam sido deslocados de postos avançados próximos logo que receberam a notícia de que os dragões e seu aterrador exército tiveram a audácia de atacar uma cidade desprotegida nas bordas do Império.

As passadas retumbantes de homens, mulheres e constructos inundavam seus ouvidos, competindo com o zunido de flechas cortando o ar e ricocheteando contra alguma couraça ou com estrondo de explosões khóricas sendo detonadas, arremessando terra e estilhaços para todos os lados. Mas nada disso era o bastante para tirar o foco do verdadeiro horror que seus ouvidos eram capazes de captar. Mesmo em meio ao caos da batalha, não era difícil identificar os gritos incessantes de centenas de civis sendo massacrados pelo exército invasor.

Alistar D'ark varreu melhor a planície logo à sua frente em busca de um caminho mais seguro por entre a miríade de guerreiros dra'kul em suas imponentes armaduras pesadas que seguravam o perímetro para conter o avanço dos pelotões imperiais. Seria árduo alcançar a cidade, disso tinha certeza, mas, para piorar a situação, avistou algo ainda mais preocupante sobre o contorno dos telhados dos casebres à distância: um grande dragão vermelho descrevia círculos nos céus, cuspindo pilares de fogo sobre a cidade e seus moradores indefesos.

O peito de Alistar D'ark queimava em chamas de ódio ainda mais mortais do que as lançadas pela bocarra do terror alado que atacava inocentes diante de seus próprios olhos sem qualquer resquício de piedade.

Dotado de uma percepção refinada por incontáveis batalhas, o capitão D'ark identificou um ponto fraco nas hordas dra'kul. Sem uma espada em mãos, teria de improvisar. E foi exatamente o que fez.

Após uma explosão de velocidade, foi capaz de vencer vários metros do terreno para jogar-se contra a parede inclinada de um declive bem a tempo de não ser visto pelos adversários. Aguardou. Um, dois segundos. Identificou, de olhos fechados, a vibração das pesadas patadas se aproximando. Três, quatro segundos. Sentiu o Khorus fluindo por cada poro de sua pele e fibra de seus músculos. Cinco, seis segundos. No instante seguinte, um dra'kul incauto saltou sobre o declive, ávido por sangue imperial. Mas seu salto não ocorreu da forma que esperava. Alistar ergueu os braços no exato momento para segurar a perna do adversário em pleno ar e, utilizando-se de uma força amplificada pelo Khorus, puxou as duas centenas de quilos de escamas e aço diretamente para o chão, produzindo um estrondo espalhafatoso.

D'ark assumiu a posição de combate que somente um guerreiro treinado nos caminhos da Ka-tor conhecia, mas seu oponente era dotado de igual agilidade em combate e logo estava sobre seus pés mais uma vez.

Ele era enorme: ultrapassava facilmente dois metros de músculos e ferocidade. O corpo humanoide era repleto de traços dracônicos, como patas e garras tridáctilas, pele recoberta por escamas, face que parecia uma cópia quase perfeita da cabeça de um verdadeiro dragão. Os olhos aterradores continham em si um ímpeto assassino, a bocarra repleta de dentes afiados se estendia por seu focinho prolongado e o que poderia ser descrito apenas como um conjunto de tentáculos da mesma cor de suas escamas descia pela parte posterior de seu crânio, lembrando apenas vagamente os contornos de um longo cabelo humano.

Império de CinzasWhere stories live. Discover now