Império de Cinzas

Capítulo 3 - Veteranos

Um moldador, por mais exímio que seja, sempre sofrerá sérios impactos físicos ao tentar canalizar grandes quantidades de Khorus. Todo canalizador, humano ou não, tem seu limite.

E "limite" era a palavra perfeita para descrever a situação em que Alistar se encontrava.

Cada segundo que se arrastava mantendo sua barreira khórica erguida era excruciante. Contudo, Alistar sabia muito bem o que ocorreria caso falhasse. Aquela não era uma luta como a que travara com o dra'kul a caminho da cidade, um embate no qual precisava calcular a quantidade exata de energia khórica gasta em cada movimento para não fatigar demais suas capacidades e arriscar ser morto por não conseguir defender-se apropriadamente. Não. Agora era tudo ou nada: deixar o escudo cair significava tanto a sua morte quanto a dos civis que protegia. Por isso forçava-se até seu limite... E torcia para que fosse o bastante.

Para sua sorte, foi.

O grande dragão vermelho extinguiu o pilar de chamas quando o rasante que dava deixou-o em um ângulo desfavorável para atingir a cidade. D'ark, exaurido, não esperou um segundo sequer para desfazer a barreira. O som vívido das chamas crepitando ao seu redor invadiu seus ouvidos mais uma vez agora que não era contido pela esfera protetora.

Antes de se precipitar, conferiu se não havia nenhum inimigo próximo, mas a praça quedava aparentemente segura. Depois, olhou mais uma vez para os céus: o dragão voltara a descrever círculos no ar, fazendo Alistar se questionar se a fera preparava um novo ataque ou se decidira caçar outras presas, afinal, mais soldados imperiais já adentravam na cidade. Na dúvida, decidiu não arriscar. Virou-se para o jovem e sua família para verificar se estavam todos bem. Eles, claro, estavam visivelmente abalados e amedrontados. "Mas pelo menos estão inteiros", pensou o capitão imperial, "já é mais do que se pode dizer sobre a maioria dos outros".

Olhou bem para o garoto enquanto este baixava lentamente seu escudo. O imperial sentiu simpatia pela coragem do jovem, uma vez que, mesmo diante da morte certa, fizera tudo ao seu alcance para proteger sua família em uma verdadeira amostra da mais pura valentia. Era muito mais do que metade de seus companheiros da Legião mostrara em dois anos de guerra.

Certamente o jovem era o mais apto a guiar os outros para a segurança, por isso, dirigiu-se diretamente ele:

- Garoto, qual é seu nome?

Mikhail, ainda atordoado pelo choque e pela incredulidade, precisou de um segundo inteiro para conseguir responder o soldado:

- Mi- Mikhail, senhor! Obrigado por ter nos salvado! Eu...

- Guarde seus agradecimentos para depois – Interrompeu Alistar sem a intenção de ser rude, mas completamente ciente da gravidade da situação em que se encontravam. – Primeiro precisam sair daqui com vida.

- S- Sim, senhor!

- Mikhail... – Disse ao colocar a mão esquerda no ombro do jovem e olhar em seus olhos. – Preciso que me escute e faça exatamente o que eu digo: pegue a rua entre as duas árvores ao sul da praça, siga-a sem parar ou olhar para trás até sair da cidade. Limpei o caminho enquanto avançava, deve ser a rota mais segura para sair daqui. Leve sua família para o pé das colinas de Sirrin ao sul. Criamos um acampamento temporário lá para receber os sobreviventes, estarão salvos se chegarem até ele. Entendeu?

- Sim, senhor! – Respondeu tentando inspirar firmeza enquanto lutava para controlar a voz trêmula. – E... E o senhor? Não vem conosco?

- Tenho assuntos inacabados aqui.

Somente naquele momento Mikhail notou que Alistar mirava os céus em curtos intervalos de tempo para se manter a par da posição do dragão.

- Agora vá! – Ordenou D'ark levantando seu braço e apontando para a saída.