Capítulo I - Despedida

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Hoje poderia ser o melhor dia de toda a minha vida. Poderia ser o dia em que finalmente daria meu grito de liberdade, que todo jovem sonha, ao finalmente concluir o colegial. Mas para mim, hoje é o fim de algo que eu não gostaria que terminasse. Talvez antes sim, mas depois de todas as coisas que minha mãe me propôs, eu pedia ao céus que o ano passasse lentamente, que aqueles últimos meses durassem uma eternidade.

E é exatamente quando você quer uma coisa aconteça do seu jeito, que elas acontecem totalmente ao contrário. Então, eu vi esses meses passarem na minha frente como um filme, que em algumas horas acaba. Os dias, as horas, tudo parecia transcorrer tão rápido, que eu tinha medo até de não conseguir estudar para as provas finais ou ter tempo suficiente para terminar trabalhos que precisavam ser entregues.

E aqui estou sentada na última fileira da sala de aula, após longos discursos dos nossos professores, sobre como esses anos passaram rápido e que nosso futuro estava em nossas mãos a partir de agora. Foi então que imergi nos meus pensamentos e entrei em uma espécia de transe e o restante do discurso não ouvi. Apenas me saí de meu transe, quando Caroline, sacudia meus ombros freneticamente. Aos poucos percebi que alguns olhos curiosos se voltavam para mim. Estavam todos se abraçando, comemorando o fim daquela etapa de suas vidas.

- Ei! Está tudo bem? - seus olhos estavam fixos em mim e procuravam os meus.

- Sim - murmurei.

Ela por fim relaxou e me abraçou. Foi reconfortante, me senti segura e protegida naquele momento. Foi como se, de repente todos os meus problememas tivessem desaparecido. Caroline tinha esse poder, de me trazer paz. Seus traços serenos naquele rosto angelical eram capaz de expulsar qualquer tristeza. Era de uma bondade imensurável.

- É hoje, não é? - perguntou, os olhos baixos, fixos no chão.

- É sim - disse, e senti uma lágrima rolar, apenas um.

Continuei observando o alvoroço de alunos e professores. Alguns trocavam presentes, outros se abraçavam, outros choravam. Mas no fundo, eu sei que a dor maior está em mim. Em saber que tenho que partir a qualquer momento, para onde não gostaria de ir. E deixar toda sua vida construída para trás. Tudo bem, o que se tem com 18 anos? Nada. Agora só um diploma.

- Caroline, acho que vou pra casa terminar de arrumar minhas coisas - tocquei em seu ombro, e ela continuava a fitar o chão, com os olhos um pouco úmidos. - Ei, vai ficar tudo bem. Quer ir comigo, me ajudar? Vai ser bom, a gente aproveita para ficar mais um tempo juntas.

- Desculpa, mas minha mãe está vindo me buscar, acabou de me mandar uma mensagem - levantou o celular, onde pude ver duas palavras "Estou indo". - Se quiser uma carona - sorriu.

- Eu aceito - murmurou.

Nos levantamos e fomos nos despedir de alguns professores que tinhamos mais afinidade. Nada de despedidas, abraços calorosos, mas eu não queria sair dali odiada ou taxada como estranha, por isso segui o protocolo e tentei imitar cada coisa que Caroline fazia, afinal, ela é simpática e educada como ninguém.

Quando por fim terminamos com as despedidas, pegamos nossas mochilas e seguimos pelos corredores da escola, que estavam repletos de alunos, num clima de despedidas, férias, que todo fim de ano letivo trazia. Ao alcançarmos a saída, o carro da mãe de Carol já nos esperava do outro lado da rua. Atravessamos a faixa de pedestres correndo e por fim alcançamos o carro.

- Olá, Sophie - sua me cumprimentou e pude ver seu sorriso pelo retrovisor. - Como foi o último dia?

- Foi um pouco triste - disse com a voz desanimada.

- É verdade - concordou Caroline.

- Uma pena você não ficar para o baile de formatura. Talvez durante a festa essa tristeza fosse embora - deu uma risada nervosa.

SophieWhere stories live. Discover now