Capítulo IV - Sonhos

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Acordei com meu pai me observando após meus gritos durante meu perturbado sono, justamente na minha primeira noite ali. Eu havia tido muitos sonhos estranhos naquela noite e o último deles me fez gritar desesperadamente. É estranho como tudo acontece, pois não é real, mas você acaba transbordando suas emoções enquanto sonha com algo irreal. Após se certificar de que estava tudo bem, meu pai voltou para seu quarto.

O primeiro sonho, dos que eu consigui recordar, talvez pela sua complexidade, fez com que eu recordasse, eu estava voltando para casa, o sol estava se pondo e de repente tudo escureceu, era uma escuridão tão angustiante que eu me joguei no chão. Em seguida olhei para o céu, já não estava tudo escuro, a lua cheia brilhava, mas ao lado dela outras duas luas brilhavam, elas eram menores e estavam as três lado a lado, na ordem de maior para o menor. A lua cheia maior estava a minha esquerda e as outras duas, do mesmo tamanho ao centro e a esquerda. De repente acontece uma espécie de eclipse e as três luas se fundem.

O segundo sonho, foi de longe o mais aterrorizante. Eu estava numa festa de aniversário infantil. Tudo retrô, singelo e lindo. Era uma tarde agradável. Havia uma longa mesa de madeira com bancos do mesmo comprimento, a mesa repleta de doces, bolos e chás. As crianças vestidas com roupas de época, as mães sentadas nos bancos com seus bebês no colo, enquanto crianças maiores corriam pelo jardim. Eu estava lá. E de repente é anunciado o ínicio de uma brincadeira, onde eu estaria incluída. Era uma espécie de 'pega-pega' entre eu e mais duas crianças, o único problema é que essa brincadeira incluia facas. E elas deviam ser cravadas nos tornozelos. E para mim era tudo tão normal e ao mesmo tempo aterrorizonte. Como eu poderia cravar facas em duas crianças? Eu olhava ao redor e via as mães despreocupadas, elas realmente não se importavam, como se tudo estivesse seguindo o protocolo normal de um aniversário infantil. Então, eu já estava correndo ao redor da casa com duas crianças atrás de mim, eram duas meninas, com vestidos lindos e de repente uma delas estava com uma aparência diferente. Ela estava com o rosto sujo, sangrento e seu vestido também. Ela acertou uma faca no meu tornozelo e eu tentanva acertá-la de volta, mas eu sempre errava a mira. Cheguei a me aliar à outra garotinha, mas foi em vão. E quando demos mais uma volta ao redor da casa, parei, em frente as mães e disse que elas haviam ganhado. Eu havia desistido. Elas me olhavam perplexas, como se eu tivesse feito algo errado. Então, todos resolveram comer doces, após ter sido ferida com uma faca, por uma criança.

Não consegui mais dormir. A cama voltou a ranger com minha inquietação. Pude ouvir passos no corredor, sons vindo da conzinha, observei através da cortina a claridade, uma luz fraca, parecia que o tempo estava nublado. E, no fundo, isso não era ruim, devido ao fato de não gostar muito do sol, sinto um formigamento em cada centímetro de minha pele quando me exponho.

Sonhos e sol a parte, juntei todas as minhas forças e me arrastei para fora do quarto. Felizmente a porta do banheiro estava aberta, isso indicava que estava desocupado. Voltei ao quarto e peguei minha escova de dentes, toalha e sabonete; e iniciei meu processo de higienização matinal. Tomei um enorme susto ao ligar o chuveiro, a água estava demasiadamente gelada. Quando toquei meus pés no azuleijo do banheiro senti  que estava frio, porém imaginava que tivesse um chuveiro elétrico ali. Demorei um bom tempo no banho, relutando para lavar o cabelo naquelas condições, porém minha pele foi se acostumando com a temperatura da água.

Após sair do banho, procurei roupas para vestir e me contentei com um jeans escuro e uma camisa de mangas compridas colorida. Parei diante do espelho, eu estava com olheiras horríveis, o cabelo longo um pouco ressecado e a cor marrom desbotada. Nesses últimos meses não havia me preocupado com cuidados de beleza e agora eu estava preocupada. Após prender o cabelo num rabo de cavalo, fui para cozinha e encontrei a mesa do café da manhã já posta. Meu avô estava sentado olhando para tv velha que havia num canto da cozinha enquanto comia.

- Bom dia - murmurei tão baixo que ele não ouviu. Pigarriei. - Bom dia - repeti num tom mais audível.

- Bom dia, sente-se - desviou a atenção da tv por segundos e voltou-se para ela.

Sentei perto ao meu avô, já que a mesa é pequena não há como sentar muito longe. Havia um bule de chá e xícaras na mesa, além de pães, queijo e ovo mexido. Olhei em volta e vi que o chá era a única coisa que havia para se beber ali.

- Ah, este chá é de cidreira. Mas se quiser outra coisa... - esperança - ...para beber, tem chá gelado com limão na geladeira - aquelas últimas palavras foram... desanimadoras. Meu avô estava tentando agradar, eu sei, mas acho que será difícil de me acostumar a beber chá todos os dias.

- Vocês bebem chá todos os dias? - perguntei de forma mais natural possível, enquanto coloca um pouco de chá em minha xícara.

- Sim - ele me olhou desconfiado - Não gosta? - perguntou.

- Não é isso, é que... só curiosidade mesmo - sorri.

Vovô se voltou para tv e resolvi parar de falar. Ia perguntar sobre meu pai, mas achei melhor não atrapalhar, afinal ele estava tão concentrado vendo o noticiário matinal.

Assim que vovô terminou, resolvi limpar a cozinha e lavar as louças sujas do café da manhã. Apesar de insistir que eu dava conta de fazer tudo sozinha, ele também insistiu em me ajudar. E assim passamos boa parte da manhã: arrumando a casa e conversando como se fóssemos melhores amigos. Para o almoço resolvemos preparar lasanha, que segundo meu avô é a comida preferida do meu pai. Meu avô saiu para comprar os igredientes e bebidas. E nesse tempo resolvi olhar meus emails, e para minha felicidade Caroline havia respondido!

De: carolinearaujo@email.com

Para: sophie.zahr@email.com

Querida, Sophie!

Espero que não esteja surtanto. Sério, fiquei preocupada com o email que recebi. Sei que está triste ainda pela sua mãe tê-la mandando morar com seu pai, mas pense pelo lado positivio, sempre. Talvez há um propósito, talvez você tenha uma missão a cumprir, - não estou tentando parecer clichê - talvez nada disso seja em vão. Não estou tentando convencê-la a gostar daí, mas acho que você deveria tentar. Sei lá, quem sabe você não conhece um cara legal... E, já imaginou você conhecer o amor da sua vida no lugar que você não queria ir morar?! Olha só, isso é MÁGICO. Vou torcer para que isso aconteça :3 Mudando de assunto, já pesquisou alguma faculdade por aí? Já sabe qual curso quer? Bem, eu decidi fazer os testes para medicina, meus pais ficaram super animados com minha decisão, apesar de eu estar com muito medo de não ser aprovada...

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⏰ Last updated: Dec 23, 2013 ⏰

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SophieWhere stories live. Discover now