Capítulo 9

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Emma encarava a floresta à sua frente com certo desânimo. O sol iluminava quase toda a clareira e ela havia acabado de terminar de lavar os panos que usara na noite anterior no ferimento de Harry. Estava sentada no degrau da varanda, as pernas dobradas e o queixo encostado nos joelhos. Ela queria muito sair correndo dali, voltar para casa; qualquer leve movimento, fosse da brisa ou de algum pequeno animal passando por perto, a fazia sentir calafrios por todo o corpo. Não era agradável. Mas simplesmente não podia sair correndo. Em primeiro lugar porque não sabia para onde correr, e em segundo porque não podia deixar Harry sozinho machucado da forma que estava. Preferiu por algum tempo não mais mencionar uma tentativa de voltar para casa. De alguma forma sentia-se culpada pelo acontecido com o rapaz, se ela não tivesse insistido tanto para procurarem Niall e a trilha, talvez aquela criatura não tivesse atacado...

Haviam se passado alguns dias desde o ataque, mas Em ainda sentia calafrios quando ouvia qualquer barulho vindo da floresta; desde o farfalhar das folhas por conta do vento, até o barulho de pequenos animais passando por perto. Harry parecia não estar muito preocupado com ser atacado novamente e parecia nem se lembrar direito do ferimento em seu ombro, já que todas as manhãs ele saía pelas trilhas ao redor da cabana para caçar ou arrumar mais lenha para a lareira. Emma não conseguia entender como o rapaz podia agir daquela forma. Como não estava estirado em sua cama, amuado e gemendo de dor? Mas não importava realmente, ela estaria apavorada se fosse o caso. Deu graças a Deus por Harry ser um rapaz peculiar.

Em pôs-se em alerta quando ouviu o barulho de folhas sendo esmagadas na trilha a sua frente. Levantou-se em um pulo e prestou maior atenção, caso tivesse de correr.

– Trouxe nosso jantar! – Ouviu Harry exclamar e surgir em meio à mata segurando uma lebre pelas patas.

– Mas mal estamos na hora do café... – Emma murmurou mais para si mesma enquanto tentava se localizar nas horas.

– Vamos demorar um tempo para preparar o jantar, então é melhor começarmos logo. – Harry sorriu e parecia orgulhoso. Adentrou a casa e foi direto para a cozinha. – Vamos ter ensopado de lebre!

Emma riu. Na noite anterior, Harry – contra todos os protestos de Em – preparara uma sopa com alguns legumes que estavam separados em uma cesta e havia ficado incrivelmente bom.

– Ficaria melhor como um ensopado de lebre. – O rapaz murmurou fazendo careta para a colher a sua frente. – Ou talvez de cervo. – Deu de ombros.

"Então vamos de lebre dessa vez." Ela pensou.

– Quer me ajudar a limpar a lebre? – o rapaz perguntou para a garota que arrumava as panelas ao seu lado. Três segundos de silêncio absoluto foram o suficiente para ele saber a resposta. – É, achei que não. – Riu. – Que tal então me ajudar com os legumes?

– Isso eu posso fazer. – Emma respondeu quase que de imediato, fazendo Harry gargalhar enquanto pegava uma grande faca afiada para começar a tirar a pele do animal.

Levou-se algum tempo até o jantar daquela noite ficar pronto. Emma ajudou a cozinhar os legumes e temperar o ensopado com algumas ervas do "quintal" da cabana. Quando finalmente sentaram para comer, Em estava faminta. Ela tomou algumas colheradas do ensopado antes que pudesse fazer qualquer outra coisa. Seu desespero por comida fez Harry gargalhar mais uma vez. Aquilo a deixou um pouco desnorteada. Desde que chegara ali, não ouvira o rapaz rir abertamente daquela maneira nenhuma vez, e naquele dia ele o fez duas vezes. Poderia ser algo com o que se preocupar, mas a fome era tanta e o ensopado estava tão bom que ela decidiu ignorar.

Os dois comeram e conversaram um pouco, a maior parte da conversa girando em torno da comida.

Emma pensava em como Harry podia ser tão bom na cozinha. Ele era melhor do que ela, certamente. E era um rapaz! Ela fez um pequeno bico de mágoa com os lábios e quase engasgou de susto quando Harry aproximou-se com a já conhecida xícara de chá estendida a sua frente.

– Chá? – ofereceu. – Faz bem para a digestão. – Explicou.

– Obrigada. – Emma sorriu pegando a xícara e dando uma golada. É, até mesmo o chá de Harry era muito bom.

A Casa Do BosqueWhere stories live. Discover now