Capítulo 11

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Emma estava em pé na pequena varanda da cabana encarando Harry de braços cruzados e expressão fechada.

– Venha, Em, não há perigo algum! – o rapaz exclamou estendendo a mão.

– E os monstros que te atacaram? – ela resmungou séria, mais para tentar esconder seu temor de pensar em sair da segurança daquela casa no meio da floresta.

– Eles só aparecem na lua cheia, Em... – Harry disse num suspiro, tentando ter paciência, a mão ainda estendida para a garota que fez careta.

– Foi o que disse quando atacaram. – Apontou acusadoramente. – Esse bosque é perigoso! – Quase choramingou em contraste à última frase.

– Venha, Emma, não confia em mim? – ele perguntou simplesmente, deixando a mostra um vestígio de seu sorriso torto costumeiro.

Em parou para pensar e encarou o rapaz a sua frente. Ela confiava nele? Devia? Alguma coisa bem lá no fundo de sua mente lhe dizia que não devia seguir aquele garoto singular, mas a xícara de chá de minutos atrás lhe dizia que não havia lugar no mundo mais seguro do que ao lado de Harry. Por fim, Emma deu-se por vencida e ainda com certo receio desceu os degraus à passos hesitantes até chegar perto da mão estendida. Ela a encarou, mas preferiu ignora-la, o que fez com que Harry desse de ombros e começasse a caminhar. Em correu para ficar ao seu lado imediatamente, não queria correr o risco de ser deixada para trás e... Se perder.

Harry decidira que aquele era um bom dia para levar a hóspede em um passeio mais agradável em um lugar diferente. Os dois passaram boa parte do caminho em silêncio, Emma sempre bastante próxima do rapaz, com medo do que o bosque poderia lhe reservar. Ela pulou de susto e agarrou o braço de Harry por instinto quando uma folha caiu da árvore roçando em suas costas. O rapaz apenas riu.

– São só folhas! – exclamou.

Em baixou o olhar, completamente envergonhada por se deixar levar por sua imaginação assustada. Só então notou que ainda agarrava o braço de Harry. Mas o rapaz não fez menção de afasta-la, então decidiu permanecer daquela maneira, aquele bosque ainda lhe causava arrepios na espinha.

Caminharam por mais alguns minutos. As densas folhagens e altas árvores foram diminuindo e rareando a certa altura. Foi quando se depararam com uma pequena barragem na trilha. Harry a pulou com facilidade e elegância, mas Emma não tinha a menor ideia de como faria aquilo sem acabar machucada ou presa de alguma maneira.

– Segure minha mão, vou te ajudar a subir. – O rapaz estendeu a mão do alto da barragem e daquela vez ela não hesitou em pega-la.

Com certo esforço e cuidado, os dois conseguiram se equilibrar no topo da barragem e quando Em finalmente conseguiu parar no lugar e olhar ao redor, seus olhos se iluminaram e se arregalaram.

– Chegamos. – Seu guia disse por fim, pulando para o chão do outro lado da trilha e estendendo os braços para ajudá-la a descer também.

Em mal se deu conta de quando pulara para os braços do rapaz que a ajudou a cair em pé no gramado verde, seus olhos estavam muito ocupados admirando cada centímetro da nova paisagem. Estava de frene para um pequeno lago de águas cristalinas e uma gruta escura, mas que poderia pertencer a algum conto de fadas. Dali podia-se ver o céu azulado e o sol muito melhor do que no bosque. Atravessar a barragem parecia ter levado os dois para um cenário completamente diferente... E aquilo agradava muito Emma.

– Esse lugar é... – A garota parou no meio da frase tentando encontrar a palavra certa para dizer. – Mágico! – exclamou finalmente, sorrindo e lançando seu melhor olhar encantado para quem a trouxera até ali.

Harry sorriu de canto e sem mais nem menos, correu na direção do lago e, após se livrar da camisa no meio do caminho, pulou para dentro dele. Atingiu a água com uma perfeição quase sobrenatural. Emma apenas observou atônita e percebeu o quanto as coisas relacionadas a Harry eram peculiares sempre.

– Venha, Emma! – Seus devaneios foram interrompidos pelo convite do garoto na água.

Ela balançou a cabeça negando, mas se aproximando de uma rocha na beirada do lago. Ela não estava em trajes para um mergulho e tampouco podia fazer como Harry e se despir. Ela era uma moça. Apesar de não estar vestida como uma.

– Acho que vou passar. – Ela sorriu parando na grama antes de chegar à rocha.

Harry revirou os olhos e depois de resmungar um pouco, voltou a nadar.

Após algum tempo deitada na grama e encarando o céu vibrante, Emma foi surpreendida pela sombra de Harry sobre seu rosto.

– Aqui, você deve estar com fome. – Ele sentou-se ao seu lado entregando algumas frutinhas para que ela pudesse comer.

– Obrigada. – Agradeceu. Harry ainda estava ensopado do mergulho e a brisa suave deveria causar algum calafrio em qualquer um, mas é claro que não naquele rapaz peculiar.

Eles passaram horas ali, conversando, observando a paisagem e aproveitando o bom tempo que fazia.

O sol estava mais fraco quando Harry decidiu dar um último mergulho e Emma decidiu que não haveria problema em sentar-se um pouco mais perto do lago. Resolveu ir até a rocha à beira do mesmo. Ficou receosa quando chegou perto o bastante para constatar que a pedra estava úmida, mas que mal haveria?

Escalou um pouco para conseguir chegar ao topo da rocha, se endireitou para observar melhor a imagem do lago, porém, quando o fez, seus pés descalços escorregaram na pedra lisa e ela por sua vez escorregou direto para dentro do lago.

Em entrou em pânico pelo susto. Nunca foi a melhor nadadora e o pânico apenas deixou evidente o motivo de nunca terem permitido que ela se aproximasse demais de locais com águas fundas.

Estava quase acabando com seu estoque de oxigênio quando algo a agarrou pelos braços e a puxou para a superfície. Emma estava ofegante e desesperada por ar quando percebeu que seu salvador havia sido Harry, que naquele instante a segurava pela cintura para mantê-la fora da água, apesar do lago não ser tão fundo assim.

Quando finalmente conseguiu se recuperar do susto, Emma estava tão agradecida a Harry que poderia beija-lo. E se não estivesse entorpecida pelos acontecimentos anteriores, ela poderia jurar que ele também.

A Casa Do BosqueWhere stories live. Discover now