Capítulo Cinco

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Quando era adolescente, Olívia vivia com sua mãe na pequena e pacata cidade de São José dos Dourados na Bahia. Ela ficava com a sua mãe na loja de costura, fazendo companhia enquanto sua mãe trabalhava sem parar. Olívia crescera naquele ambiente, e aprendera a cortar os tecidos e a costurar do jeito que a mãe lhe ensinara, mas não era aquilo que ela queria e dona Marta, mãe de Olívia, sabia bem daquilo desde que a filha era bem nova.

Dona Marta via a paixão da filha pelas novelas, pelos filmes e pegara Olívia por várias vezes encenando o que tinha acabado de assistir nas novelas preferidas dela. A garota pegava os vestidos das senhoras ricas da cidade que sua mãe costurava, colocava um par de sapatos de saltos e fingia ser a atriz da novela das nove.

Olívia dançava na frente do espelho do quartinho dos fundos da loja, falava consigo, e atuava em uma brincadeira inocente. Marta sabia que tudo aquilo ia bem além de uma brincadeira, ela conseguia ver isso nos olhos da filha e com o passar dos anos, o amor de Olívia só aumentou.

Era a atriz principal de todas as apresentações de teatro que tinham na escola e conseguira apresentar até em um festival em que várias escolas do estado se apresentaram. O único momento em que Olívia afastou-se daquela paixão pela atuação fora quando seu pai morreu, ela tinha dezesseis anos e por meses o silêncio preenchia a casa. As luzes do palco se apagaram por um tempo, até que um dia ela decidira que precisava realizar seu sonho para que seu pai ficasse feliz de onde quer que estivesse. Ele adoraria aquilo, mesmo que fosse um homem severo e de poucas palavras.

Quando Olívia completou dezoito anos e pediu para ir morar no Rio de Janeiro com uma prima, Marta permitiu. Sabia que se dissesse que a filha não podia, a garota poderia ficar até doente por ter que simplesmente abandonar aquele sonho.

No começo, Olívia ficou na casa da prima, Ana Maria. Mas a prima, não era uma das melhores pessoas do mundo. Ana Maria era apenas dois anos mais velha do que Olívia, estava cursando na Universidade Federal e morava com mais duas garotas no apartamento que se tornara uma espécie de república.

Olívia dormia no sofá, ou por vezes, no chão da sala. Se ela reclamava? Não. Olívia agradecia por ter onde ficar, e se sentia em dívida com Ana Maria, mesmo que às vezes achasse que a prima era um pouco folgada por obrigá-la a fazer todas as tarefas, incluindo quando não era a sua vez de fazê-las. Olívia queria um tempo para simplesmente arrumar um emprego.

Mas isso durou até a nova vizinha chegar, Valentina apareceu no apartamento em um belo dia e pediu um copo de água, quem a atendeu, foi Olívia. As duas se simpatizaram uma com a outra logo de cara, e com o passar do tempo, Valentina se indignava cada vez mais com a petulância de Ana Maria.

E foi exatamente por isso que Valentina chamou Olívia para dividir o apartamento com ela, claro que isso também era pelo fato de precisar de alguém para ajudá-la nas despesas, mas aquilo era perfeito. Olívia enfim se livraria da prima, e como tinha conseguido um emprego decente, enfim podia se sentir livre e melhor ainda, nem mesmo precisava reclamar com a prima e deixar o clima estranho.

Apesar de que Ana Maria ainda passava por ela sem cumprimentar em alguns momentos, mas Olívia preferia acreditar que aquele era só o jeito da prima mesmo. Valentina queria simplesmente matar a garota, aprendera a odiar Ana Maria por ela e pela Olívia, que se tornara simplesmente sua melhor amiga.

Era domingo de manhã, Olívia e Valentina estavam deitadas sobre uma canga estendida nas areias da praia de Ipanema. Estavam curtindo os dias de verão e fingindo que as contas e os problemas não existiam pelo menos até voltarem para a casa e darem de cara com os boletos que pareciam gritar com elas ou da segunda-feira que também parecia gostar de gritar "Vamos trabalhar!" em plenos pulmões.

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