03. Dive

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Eu não imaginava que voltar a aquela cidade faria eu me sentir diferente, talvez porque eu soubesse que ela estava lá, na verdade que ela vivia lá, e que talvez ela estivesse assistindo a essa porcaria de entrevista em sua televisão. Ainda era difícil para mim mesmo depois de tanto tempo... Anos, para ser mais específico.

Eu poderia dizer que ainda sinto muito pela maneira como as coisas terminaram, como eu fui fraco e egoísta, como eu não me importei quando a deixei ir e se ela estivesse assistindo iria finalmente saber que eu nunca tive a intenção de machucá-la.

Aquele mar de repórteres estava me tirando do sério, eu não queria estar aqui e nem de longe gostaria de responder perguntas sobre qualquer tipo de assunto, flashes eram disparados contra meu rosto e cada um deles me trazia a lembrança de uma parte dela, do seu olhar e seus cílios marcantes, da maciez dos seus lábios tocando os meus, sua risada que sempre me fazia bem quando tudo parecia desmoronar.

— Dylan! — Senti Alex me cutucar e voltei a minha realidade.

— Sim? — Olhei para imensa plateia na esperança de quem fez a pergunta repetir o que disse.

— Quais são suas expectativas para os shows aqui? — Um jovem rapaz pronunciou-se.

— São as melhores! — Respondi animado. — Todos sabem como eu amo Londres.

— Ama Londres ou o que tem nela?! — Ouvi a piada que ecoou no grande salão e imediatamente senti referência a ela junto com todas aquelas gargalhadas de ironia.

Revirei meus olhos na tentativa de mostrar meu desconforto, mas, foi em vão, outra pergunta relacionada a ela veio à tona.

— Você já a viu desde que chegou ou estava muito ocupado usando drogas? — Uma mulher loira surgiu com a pergunta.

— Perguntas desse tipo não serão permitidas nessa coletiva. — Ben empresário da banda tomou a frente.

— Mas, é sobre o que todos queremos saber... — Outro repórter comentou.

— A coletiva é sobre a ban... — Ben foi interrompido.

— Dylan, você não se sente confortável para falar da única coisa boa que você teve desde o início da sua carreira? — Senti meu coração disparar ouvir essa pergunta e logo depois a raiva subiu ao meu consciente.

Levantei um tanto desajeitado e derrubei tudo o que existia na mesa a minha frente, os garotos me encaravam normalmente, pois, já estavam acostumados a esse meu tipo de comportamento, mas, mesmo assim fui repreendido.

— Cara, por favor... — Peter pediu.

— Foda-se! — Gritei. — Ela foi a melhor coisa da minha vida, mas, ela me deixou quando eu mais precisava dela e ela não voltou, ela nunca voltou, eu esperei dias, meses até conseguir retomar minha vida e ainda não retomei... — Engoli seco. — Mas, vocês nunca vão entender isso, porque vocês estão preocupados com matérias e fotos e escândalos, porque é assim que vocês sobrevivem... — Abaixei a cabeça e passei a mão no cabelo calculando cada palavra que poderia sair da minha boca. — Sei que foi demais para ela um namorado drogado, e que ninguém é obrigado a aguentar essa carga, mas, e esse tal sentimento que vocês chamam de amor e que eu nunca acreditei?! Ele não resiste a tudo? Então porque ela não ficou? — Deixei duas lágrimas escorregarem pelo meu rosto. — Por que ela foi embora?

— Porque eu fui covarde. — Eu reconheci sua voz no mesmo momento, levantei minha cabeça um tanto devagar. — Eu estava com medo. — Ela me encarou com os olhos marejados.

Ficstape - Divide (Ed Sheeran)Where stories live. Discover now