13. Barcelona

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I fell in love with the sparkle in the moonlight

Reflected in your beautiful eyes

Will removeu a aliança do dedo anelar e a colocou sobre a bancada, ao lado da pia branca e que lhe parecia mais cara do que toda a sua casa. O anel reluziu na luz clara do banheiro sofisticado e aparentemente vazio. O silêncio foi interrompido de maneira abrupta pelo barulho de água corrente quando a torneira se abriu.

Will uniu as mãos em uma concha e as enfiou rapidamente debaixo da correnteza, jogando a água sobre o rosto. Seus cabelos loiros, até aquele momento mal seguros pelo gel que já começava a perder sua eficácia, cairam sobre o rosto, no espaço entre as sobrancelhas.

No instante seguinte, Will estava sacudindo as mãos e pulando de um pé ao outro. Dentro de sua cabeça escutava uma voz muito clara — não sua; talvez de seu pai ou seu avô — dizendo-lhe que não fosse um maricas e enfrentasse a situação de cabeça erguida.

Verdade seja dita, Will não queria enfrentar nada. Estava cansado, desconfotavel e suando dentro de um terno preto que não fora exatamente sua primeira opção. A aliança, ainda que fora de seu dedo, era uma marca permanente de seu mais recente fracasso e uma lembrança desalentadora de tudo que Will havia tentado superar nos últimos meses.

Por que não fugir? Por que simplesmente não tirar aquela gravata feia, abrir os primeiros botões da camisa e se jogar na rua, onde os seus problemas poderiam ser momentaneamente substituido por uma garrafa de vinho? Por quê? Por quê? Por quê?

— Porque você tem um compromisso. — Will disse, respondendo a si próprio.

Ele então tornou a se aproximou da pia. Usou algumas das folhas de papel estendidas próximas ao espelho para secar as mãos e o rosto. Depois, jogou-as no lixo, evitando encarar a aliança ao lado. No lugar disso, ergueu o rosto e se viu refletido no enorme espelho. E isso foi um milhão de vezes pior.

Will conseguia lidar bem com o peso do divórcio. Ele e Katheryn não eram um exemplo de casal há tempos. Constantemente, Will chegava a se perguntar porque a pedira em casamento e, pior ainda, porque ela aceitara quando, claramente, Will não era o tipo de homem que Kathy poderia querer como marido. Mas isso era tranquilo. Fácil. Os dois já estavam com o processo em andamento e logo seriam dois solteiros. Ainda infelizes, é claro, porém não mais responsavéis pela infelicidade um do outro.

Lidar com o fim do relacionamento de três anos era tão simples para Will porque A) ele tentara tudo que podia para resolver a situação com a quase ex-mulher e nada chegou a funcionar e B) ele não a amava o bastante para insistir em ter uma vida com Katheryn. O seu reflexo, no entanto... O reflexo de Will mostrava exatamente tudo que ele parecia ter deixado para trás. Mostrava todas as escolhas inconsequentes e erradas que o transformaram no homem que ele nunca quis ser; que o transformaram em um ser humano do qual ele não tinha o menor orgulho. E sempre que se via no espelho, Will era imediatamente tragado para um furacão de memórias desfiguradas e chances perdidas. Tantos adeus que ele esperava serem a porta para uma vida melhor não o levaram para muito mais do que a sarjeta.

Com um suspiro contido, Will pegou a aliança. Por aquela noite, ele e Katheryn fingiriam tão bem quanto podiam ser um casal. Ainda estariam extremamente apaixonados, pensando em ter filhos até, quem sabe. Manteriam as aparências exatamente os pais de Will ou os avôs de Will achavam que as coisas deveriam ser.

Depois de retornar com o anel para o seu respectivo dedo, William remexeu os bolsos internos do paletó e tirou de lá duas folhas de oficio amassadas. O seu discurso inteiro de padrinho estava ali e bastou ler a primeira linha para que Will sentisse que havia fracassado naquela missão também.

Ficstape - Divide (Ed Sheeran)Where stories live. Discover now