15. Nancy Mulligan

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— Ei, vovô! — Tom chamou, entrando no quarto — Estou atrapalhando? — ele se sentou na cama ao meu lado.

— Não, nunca atrapalha. — sorri de lado para ele.

— Vim ver se precisa de algo.

— Não, eu só estou terminando de escrever algo... — falei, voltando a encarar a folha em minhas mãos.

— Sobre o que? — curioso, ele tentava olhar.

— Pode ler, se quiser. — entreguei a ele que olhava tudo atentamente.

Lembro-me do dia em que Charlie me chamou para ir ao Guy's. eu não queria ir aquele dia, pois estava cansado demais do trabalho. Ele e Bill insistiram tanto que eu acabei cedendo. Ainda bem, não é mesmo? Eu era um garoto da fazendo, nunca me preocupei com essas coisas de amor, pois meu coração era das terras que trabalhava. Mas, no momento em que eu a conheci, sabia que seria a mulher que um dia chamaria de minha. Você entrou no Guy's com seus belos cabelos negros soltos, sua roupa perfeitamente branca, seu sorriso maroto estampado. Quando você me encarou, senti borboletas voarem no meu estômago, causando um tremendo reboliço. De tanto Charlie e Bill falarem, tomei coragem para te chamar para dançar. Lembro-me de dançarmos e conversarmos a noite toda. Tempos depois, já estávamos completamente apaixonados. Peguei o dente de ouro do meu falecido avô e fiz a aliança de noivado. Seu irmão nos deu uma bela casa nesse verão. Quando fui pedir a sua mão ao seu pai, ele disse um belo não. Fiquei desolado e fui embora. Mas, à noite, você me chamou em minha janela, me propondo a fugirmos. Eu estava cegamente apaixonado, então aceitei. Você sempre perguntava se eu sentia medo, e eu dizia que não. Parecia mentira, mas era a mais pura verdade. Eu nunca senti medo quando estava com você. Pegamos roupas emprestadas e casamos. Anos depois, já tínhamos nossos filhos, nossa casa, nossa vida juntos. Tínhamos tudo que qualquer pessoa quer para a vida. Éramos unidos em tudo, uma família unida. Sempre comemorávamos aniversários, e claro, o nosso aniversário. Foram longos anos assim. Mas, uma mera ligação destruiu tudo isso e um vazio tomou conta de mim. Minha querida Nancy havia partido, quebrado a única promessa que me fez: nunca me deixaria. E você deixou.

— Isso é lindo, vovô. — vi meu neto enxugar algumas lágrimas.

— Eu não sei como terminar... — comentei, olhando para o final.

— Me empresta aqui. — Tom pegou a caneta da minha mão e escreveu algo — Pronto. — ele me deu o papel, orgulhoso de si.

Eu tinha vinte e quatro anos, quando conheci a mulher da minha vida. Ela era Nancy Mulligan.

— Muito obrigado. — sorri para ele.

— Eu preciso ir, vou buscar a Lisa agora. — ele sorriu ao mencionar o nome da amada — Nos vemos amanhã.

— Tome cuidado com essa tempestade, por favor.

— Pode deixar, vovô.

Ele saiu dali, me deixando sozinho. Coloquei o papel no criado mudo e olhei a foto que havia ali. Nela estava eu, Nancy, nossos filhos e netos. Todos alegres e felizes. Uma lágrima solitária desceu pelo meu rosto. Tratei de enxugar rapidamente. Como a tempestade estava forte lá fora, resolvi descer para pegar uma vela, já prevendo que a energia logo cairia. Logo que peguei a vela, a energia acabou. Resmunguei um pouco e tratei de acendê-la rapidamente. Com cuidado, voltei para o meu quarto. Deixei-a em cima do móvel, de maneira que iluminasse todo o quarto, e fui me deitar. Era estranho, pois a cama estava vazia. A primeira vez, em muitos anos que eu dormiria sozinho. Um vazio tomava conta de mim.

— Você prometeu que nunca me deixaria, Nancy Mulligan. — resmunguei e me ajeitei por debaixo das cobertas.

Ouvi um barulho e olhei para a direção que ele veio. Para a minha surpresa, ela estava lá. A minha Nancy estava ali. Como se atendesse ao meu chamado. Seus longos cabelos estavam mais negros do que nunca, sua pele claríssima. Usava seu típico uniforme branco da mesma maneira que guardei em minha mente. Exatamente como eu me lembrava da nossa época de juventude. Perfeitamente linda. Seus belos olhos azuis, agora estavam mais brilhantes do que nunca, me olhavam com luxúria. Em seus lábios estavam seu típico sorriso maroto, me lembro de tê-lo visto muitas vezes. Ela esticou uma de suas mãos para mim e sua voz saiu tão nítida que era como se nunca tivesse partido.

— Eu disse que nunca te deixaria. Com medo, Will? — ela perguntou marota.

Sorri para ela, me levantando e caminhando em sua direção. Segurei sua mão, sólida, macia e quente como a de Nancy de vinte anos.

— Eu não sinto medo com você, Nancy.

Por: mrsgreybaby 

Ficstape - Divide (Ed Sheeran)Where stories live. Discover now