Curitiba - Ana Oliveira

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Em Março daquele ano, Curitiba, antes não muito conhecida no mundo, seria eternamente lembrada pelo início do surto de zumbis na América Latina.

O tenente Rodrigo Santos, do Centro de Operações Policiais Especiais, sabia que teria bastante trabalho pela frente, depois da cidade inteira sentir um tremor de terra anormal. Terremotos estavam sendo reportados por todo o globo desde Janeiro, mas não costumavam atingir o Brasil desta forma.

Todos os distritos policiais estavam em alerta há dias. A população estava assustada, notícias sobre as causas e efeitos espalhavam-se causando ainda mais histeria e, consequentemente, crimes. Seu turno acabara de começar, quando um de seus soldados chegou com uma notícia urgente.

Um grupo de alunos que visitava o Bosque Reinhard Maack, logo atrás da delegacia, foi atacado por algo que, nas palavras de uma sobrevivente, seria um "monstro verde que pingava". A vítima foi atendida na Unidade de Saúde, próxima dali, e estava sob acompanhamento médico.

- Por aqui, tenente. - falou a doutora responsável, assim que ele chegou ao posto médico. - O nome dela é Ana Oliveira, foi encontrada na entrada; o pé está torcido. Ela tem 15 anos, os pais já foram chamados e chegarão em breve. - explicou enquanto andavam pelo corredor.

- Obrigado doutora. Gostaria de ficar a sós com ela, se não se importa.

- Claro, à vontade. Se precisar de algo estarei no cômodo ao lado. - disse ela, fechando a porta do quarto onde a vítima estava, vendo o tenente sentar-se em uma cadeira posta ao lado da cama.

- Ana Oliveira? - perguntou, recebendo um aceno positivo com a cabeça. - Sou o Tenente Santos. Podemos conversar sobre o que aconteceu no bosque? - recebeu outro aceno positivo.

Colocou sobre a cama um gravador antigo, e apertou o botão vermelho para iniciar a gravação. Os olhos de Ana fixaram no centro da fita que girava, como se nunca tivesse visto tal aparelho antes.

- Tenente Santos, responsável pelo C.O.P.E., Curitiba. Hoje, 10 de Março, a vítima Ana Oliveira, de 15 anos, foi atacada no Bosque Reinhard Maack, no bairro Hauer, durante uma visita escolar. Foi atendida na Unidade de Saúde Tapajós, onde estamos agora. Por favor, Ana, pode me dizer o que aconteceu durante a visita?

- Sim... - respondeu, ficando em silêncio por alguns segundos antes de voltar a falar. - A professora Sandra, de Biologia, foi quem organizou a visita. Quando chegamos estava tudo normal, conhecemos alguns escoteiros e a polícia florestal, nos falaram sobre a fauna e a flora, e o quão grande o lugar era. Nós deveríamos ficar na trilha, onde estão os brinquedos e atividades... Deveríamos, mas... - pausou.

- Quando você viu que algo estava estranho?

- Estava tudo um saco, não gosto de Biologia... Eu e mais duas amigas entramos na mata, andamos por alguns minutos entre os pinheiros e nos perdemos. Eu quis ficar, explorar mais o bosque por conta própria, mas elas ficaram com medo e quiseram voltar, tentar achar a trilha novamente e se juntar aos outros alunos.

- E elas encontraram a trilha?

- Não sei... Nem 5 minutos depois ouvi gritos, muitos gritos, desesperados. Achei que podia ser uma brincadeira, tentando me assustar para não me separar do grupo de novo, mas não era... Começou a chuviscar e, como odeio chuva, andei na direção que as minhas amigas tinham ido. Vi uma delas, Gabi, não muito longe dali, gritando "Me ajude. Me ajude.", meio sem vontade. Achei muito estranho, por que ela não se mexia... A Gabi é do tipo que sai correndo, sabe?

- E por que ela estava pedindo ajuda?

- Um monstro estava perto dela! Era verde e pingava uma gosma vermelha, bem nojento! Estava vindo na direção dela, e ela não fazia nada, aquela guria trouxa! Ele chegou perto e encostou nela... Só encostou, e ela começou a derreter! Ela ficou verde, gosmenta e careca, igual o monstro! - riu.

Apocalipse: A morte da TerraWhere stories live. Discover now