Cairo - Horus Moubarak

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- A quem possa interessar... Se é que irá sobrar alguém vivo... - um homem, de voz grave, começou a gravar suas experiências na fita cassete que encontrou jogada, em cima de sua mesa, sem saber se algum ser-humano sobreviveria para ouvi-lo. - Sou o Coronel Moubarak, das Forças Especiais Egípcias, responsável por liderar mundialmente os ataques contra os zumbis que assolavam nossas cidades nos últimos meses e... acabei de descobrir o segredo mais incrível da Terra! - soava alegremente sarcástico. - Todos olhávamos para o céu, nos perguntando o que havia lá fora, no universo... Quantas estrelas existiam e quantos planetas seriam habitados por vida inteligente, assim como o nosso... Será que os humanos iriam habitar outras galáxias?

Um barulho de choque elétrico ecoou pela sala da gravação, mostrando que alguém não estava feliz com sua demora em explicar a situação. O Coronel gemeu de dor, sem mostrar o quanto realmente havia doído.

- Tudo bem... tudo bem... - cedeu. - Alienígenas. Estou falando de alienígenas! - suspirou, irritado. - Todos pensávamos que nossos colonizadores extraterrestres viriam do céu, então construímos naves, capacitamos astronautas, enviamos macacos! E para quê gastamos milhões e milhões em avanços tecnológicos espaciais? Para nada! Exatamente! NADA! - bufou. - Os merdinhas vieram de debaixo da terra...

Mais um choque elétrico ecoou, acionado pelo espectador misterioso.

- Uma bomba termonuclear de hidrogênio, Tsar, a mais poderosa da humanidade, 57 megatons de poder, foi lançada contra o Cairo há alguns minutos. Não me sobra muito tempo para lhes contar esta incrível fábula, a grande mentira sob a qual a humanidade foi fundada. Os "zumbis", contra os quais arduamente lutamos e tantos morreram, não são zumbis... São alienígenas! Se é que posso lhes chamar assim, pois estavam na Terra muito antes dos humanos, ou dos dinossauros, ou de qualquer outra coisa que seja! A Terra formou-se ao redor de uma imensa nave, nosso planeta não passa de sujeira cósmica, que foi acumulando com o passar dos milênios, e formando nossa fauna e flora, finalmente tornando-se um planeta habitável, com boas condições atmosféricas para proliferação, polos magnéticos, rotação, translação...

Seu espectador misterioso emitiu um ruído, como se ordenasse que falasse mais rápido.

- Os humanos que se transformaram em "zumbis", não eram humanos. Os genes desta "raça original" estava apenas incubada nos humanos, como um vírus, desde a primeira separação celular que deu origem à nossa espécie. Apenas os mais fortes, no decorrer dos séculos, mantiveram este gene em sua cadeia de DNA, escondida, esperando que fosse libertada... Bem, isso aconteceu há quase 10 meses, quando um terremoto destruiu parte de Nova Iorque. Não era um terremoto comum, mas sim um sinal de que esta raça estava pronta para dominar nosso pacífico planeta!

Ele enfatizou, recebendo mais um choque em resposta. Obviamente, nada na Terra era pacífico.

- O que há de tão interessante no Cairo, para que não tenha sido invadida pelos alienígenas, mesmo com tantas luzes, que os atraíam, e todas as pessoas sobreviventes reunidas? A cabine de comando desta gigantesca nave, do tamanho de uma porra de um planeta... O que faziam apenas algumas pessoas serem transformadas, e outras saírem ilesas de ataques imensos, em meio a cidades populosas ou eventos tradicionais gigantescos? Estes são os escolhidos, os mais fortes entre todos os que incubaram os humanos por todos estes milênios... Nossas vidas não importam nada para eles? Não... Nossos sentimentos? Nossas famílias? As crianças?! Não...

Olhou feio para seu espectador, como se fosse dizer algumas verdades que ele não ia gostar de ouvir.

- O que o ser humano é mais conhecido por fazer? Digo, os verdadeiros seres humanos... no meu ponto de vista, os seres mais fortes que já habitaram esse planeta. Eu digo o que é: destruir. E é exatamente isso o que vamos fazer! A Tsar está vindo, vai acabar com estes desgraçados! Nossas bombas, nossas armas, nada os parou até agora, mas estávamos nos segurando... Deixando o melhor pro final, nossas cartas na manga! Isso mesmo! - riu. - Eu não sei se os humanos sobreviverão à ela, mas com certeza não vamos nos deixar vencer por esses filhos da puta! - gritou. - Não importa se estavam aqui antes de nós, esse planeta é nosso, e somos nós quem vamos dizer quando a vida nele acaba ou não!

Seu espectador misterioso atira na parede da sala, desintegrando cada tijolo, e aponta, orgulhoso, para todas as naves menores desprendendo-se da nave maior, envolta do planeta, que partiam em direção ao espaço. Milhões de pássaros estavam revoltos, voando com violência entre as naves, como se tentassem impedir de partirem, sem sucesso.

- É isso mesmo! Fujam! Não há mais tempo! A humanidade voltará a habitar a Terra, evoluiremos mil vezes se for preciso! A vida sempre encontra um jeito! - sua boca quase espumava de raiva, sabendo que seu fim, e provavelmente de toda a Terra, estava a segundos de distância.

Seu espectador, com expressão de pena, retirou os cabos que ligavam a máquina de choque ao corpo do Coronel, sentindo que seus músculos finalmente relaxaram.

- Os humanos não merecem a Terra. - falou seu espectador, quem um dia habitou a carcaça do Presidente dos Estados Unidos. - Nós nos apiedamos de sua espécie, e deixamos que infestasse aquilo o que um dia chamamos de nave-mãe. Agora, basta!

- Ironicamente, vocês acham que nós invadimos seu espaço. Destruímos suas cidades e dizimamos sua raça, quando, nitidamente foi o contrário. - disse aquele que um dia habitou a carcaça do Presidente da Rússia.

- Suas guerras, sua poluição, sua destruição, nos levou a pensarmos que, a única salvação seria tomarmos novamente o que era nosso. O que sempre foi nosso. Sua vida foi apenas um empréstimo, gentilmente cedida por nós. - falou aquele quem, um dia, habitou a carcaça do Presidente da China.

- Tsar, meu caro, acabará apenas com a raça humana, e libertará, finalmente, nossa nave-mãe do parasita que sempre foi este planeta! Finalmente a humanidade chegou ao ponto máximo de sua evolução, permitindo que ela própria criasse uma arma tão poderosa, que traria o seu fim. Agradeço... - sorriu, sarcástico, aquele que um dia habitou a carcaça do Supremo Líder da Coréia do Norte.

- Vamos, meus caros. É chegada a hora. - disse, o primeiro espectador, colando uma nova fita lateral, escrevendo ao lado "Cairo - Horus Moubarak". - Estas 7 fitas ficarão no arquivo intergalático, ilustrando como a raça humana foi primitiva e frágil. Seja onde for que a sua espécie renasça, faremos de tudo para informar a comunidade galática que, proteger tal espécie, é inútil e perigoso.

Dito isso, todos os corpos desmaterializaram, como hologramas, voltando para suas naves menores, apenas aguardando que a grande bomba Tsar libertasse a nave-mãe, para que pudessem voltar aos seu ambiente natural, há tanto tempo esquecido.

Coronel Moubarak, o grande líder, responsável pelos ataques mundiais aos alienígenas, chora, soluça, sentindo seu corpo dissolver ao toque da bomba, a quilômetros de distância, lembrando-se nada mais do que a grande falha em proteger a raça humana, sem que uma ação sequer fizesse diferença.

Apocalipse: A morte da TerraWhere stories live. Discover now