Beth do Porto

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Que loucura aquilo tudo! Era muita coisa de uma só vez.

Ainda a dois dias atrás sequer imaginava estar viajando para a Europa e agora tudo aquilo acontecendo.

Uma cigana maluca, um cara que recebeu uma espécie de espírito, havia participado de um roubo em uma mansão e um velho apareceu holograficamente para ele em meio a um porão cheio de antiguidades.

Nessa hora ele se perguntou o que estava fazendo?

E nisso tudo, um livro valioso, que o fez viajar até portugal. Quer dizer, a viagem foi por medo de ser preso. O velho lhe ameçou de entregar o vídeo na policia. Não havia o que fazer. De todo modo aquilo não lhe parecia assim tão ruim. Viajar era o que sempre sonhara em fazer. E ainda de graça. Mas sabia que tudo tinha um preço. Ainda não sabia o quanto, mas teria que pagar.

O voô de Florianópolis até São Paulo demorou menos de uma hora. Ali esperou tres horas até sair o voo para Frankfurt. Esse sim foi longo.

11 horas de voo. Era a primeira vez que ele viajava para tão longe. Várias vezes levantou-se e caminhou dentro do avião, ao ver que outros também o faziam.

Chegou cansado e suado em Frankfurt. Mais duas horas de espera e então o voo para Porto partiu. Desembarcou em Porto com o céu azul e límpido como se estivesse em Florianópolis. Um clima ameno. Não devia estar fazendo mais de 25 graus e não menos que vinte.

Ficou boquiaberto com a limpeza do aeroporto Francisco de Sá Carneiro. Frankfurt também era limpo, mas era muito grande e movimentado. Sentiu medo de se perder andando no aeroporto alemão dado as dimensões do mesmo. Mas tudo correu bem. Agora estava onde podia entender e ser entendido.

Na saída do aeroporto olhou para um lado, depois para outro. Uma placa indicava o ponto dos táxis, bem no portão de saída.

Dois homens conversavam animadamente e um deles rapidamente encerrou a conversa e abriu a porta para Rani. Estava bem vestido, de terno.

- Mais bagagem senhor? - o rápido matraquear das palavras no sotaque portugues causou uma ligeira alegria ao livreiro.

- Não! Só essa maletinha de mão mesmo. - disse ele apntando a bolsa que trazia na mão.

- Estadia curta cá no porto? - o outro quis saber assim que o brasileiro sentou no carro e afivelou o cinto de segurança.

- Espero que sim. Não sei ao certo.

- Viagens a negócios. Pois si entendi e para onde vamos?

- Esse hotel aqui. - Rani lhe mostou o voucher do hotel.

- Eurostar das Artes. Sei onde fica!

O sotaque era diferente, mas Rani logo pegou o jeito. Dava para conversar sossegadamente.

- É longe?

- Nem vinte minutos. Logo ali.

- Quantos euros?

O Taxista o olhou desconfiado. O brasileiro abaixou a cabeça. Ficou envergonhado mas tinha que saber se o que tinha no bolso dava para pagar. Havia posto o dinheiro nas meias e também na cueca. Outro tanto estava na carteira.

- Mas pá, não se preocupe o senhor. Não dá 35 Euros.

O valor que o homem falou batia com o que ele tinha lido na internet. Se preocupava, pois sabia que no Brasil, muitos taxistas ao verem que o passageiro é de fora, dão volta e mais voltas tentando enrolar e ganhar mais na kilometragem.

O veiculo arrancou macio e o livreiro olhou seu interior. Todo estofado. Couro branco. Carro muito bem cuidado.

Eles seguiam por uma rodovia onde não se via asfalto com buraco e nem remendos. Isso também chamou a atenção do Brasileiro.

Após alguns minutos o táxi chegou em uma espécie de rodoanel, onde várias rodovias se encontravam, formando uma espécie de rótulas, ou rotundas, como o taxista explicou, que dali partiam em várias direções.

Ao contemplar alguns prédios antigos os olhos de Rani se abriram em uma explosão de alegria. Eles eram feitos como se fossem de pedras antigas, escuras, manchadas pelo tempo. Colunas e sacadas. Os trabalhos de artesões milenares. Pequenos detalhes que faziam o livreiro sonhar com coisas que ele só tinha visto em livros e filmes até então.

Entraram em pequenas e estreitas ruas onde as casas eram esprimidas uma contra as outras. Não havia quintal. Não havia terreno vazio. E então saiam das ruas estreitas onde cabia somente um carro e logo estavam em uma praça enorme.

- E cá estamos! - lhe disse o taxista cortando seus pensamentos.

Ele olhou pela janela antes de abrir a porta.

O hotel parecia tudo, menos um hotel. Junto a outros prédios antigos, era só mais um prédio antigo. Uma faixa de pano descia rente a parede do teto, perpendicularmente do alto até a meia altura denunciando o nome do hotel.

O homem que diriga o carro lhe estendeu a mão e Rani pagou os 31 Euros da corrida.

Saiu do carro com a mochila nas mãos olhando de um lado para outro.

Europa! Estava na Europa! Não podia acreditar. Se permitiu um sorriso.

O carro arrancou e ele empurrou a porta do hotel. Uma escadaria de cinco a seis degraus e no lado esquerdo a sala da recepção não era grande.

Ao lado esquerdo havia o balcão onde duas meninas estavam atendendo um casal. Ao lado direito, mais ao fundo divisou um bar que estava fechado. A frente dele uma pequena escada e saindo desta o elevador.

Começou a subir a escada.

- Sr. Rani?

Ele voltou-se para o local de onde viera a voz. Uma moça morena clara, de cabelos curtos, encaracolados e com uma bolsa de executivo veio ao seu encontro parando em sua frente.

Ficou embasbacado. Na altura em que estava na escada seu rosto mirava diretamente para as pernas roliças e bem torneadas que a saia preta e justa não escondia. Um brilhante sapato preto de bico fino e salto alto, calçava os pés da mulher.

Levantou os olhos, ajeitou os óculos.

- Sim! E você quem é? - disse ele após se recompor. Desviou os olhos das pernas e subiu os ultimos degraus.

- Elisabeth, com S e Th no final. Sua secretária. - sua voz tinha sotaque mas não soava tão estranha como a do taxista. Já devia estar se acostumando.

- Como? - Ele parou e olhou melhor para ela. - Secretária? Mas... eu não tenho secretária. - disse ele chegando até o balcão e colocando a mochila no chão.

- Agora tem! - disse ela séria e com olhar feroz. - Pegue as chaves, eu espero! Temos muito que conversar. - ela deu uns passos e os olhos do livreiro a seguiram atraído pelo balançar das cadeiras da portuguesa.

A moça da repeção teve que falar mais de uma vez com ele.

- Senhor! Senhor!

- Ah! Oi, deve ter uma reserva em meu nome. - ele passou o documento e o papel que imprimira com as reservas do hotel.

A moça olhou no computador e sorrindo como a adivinhar o que passava na cabeça dele lhe entregou a chave.

Quando chamou o elevador a moça morena de cabelos encaracolados se aproximou.

- Vai.. Vai... Subir? - ele balbuciou.

- Como disse temos muito que conversar. -seu olhar era duro e sério.

- Mas, é que... Eu... Eu gostaria de tomar um banho, se não se incomoda. -conseguiu falar. Estava realmente assustado. Quem era essa mulher? - Sabe, acho que preciso de um perfume. - Ele balançou os ombros e ela entendeu.

- Eu espero aqui embaixo então! Mas não me faça subir. Não gostaria de me ver zangada. E venha pronto para darmos uma volta. - Autoritária. Definitivamente autoritária.

- Aonde vamos? -

Nisso um casal de turistas alemães entrou no elevador e a moça saiu.

- Desce rápido.- avisou ela.

O livro maldito  - Os Órfãos de DeusWhere stories live. Discover now