A Torre do Relógio

65 12 23
                                    

Os segundos pareceram horas intermináveis enquanto Clarissa digeria a nova realidade

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Os segundos pareceram horas intermináveis enquanto Clarissa digeria a nova realidade. Taylor, seu Taylor, seu príncipe, tinha se tornado um ser inanimado, frio, inerte. A temível demônia Melania de Forstland havia matado seu amor.

Sentiu o estômago se contorcer e quis expelir de dentro dela tudo o que havia, até a própria vida. Tanto tempo perdido dentro daquele feitiço infame apenas para ver tudo desmoronar por conta de outra magia negra. Desejou nunca ter sido libertada, nunca ter saído da floresta. Queria não ter esse peso de precisar salvar um reino inteiro sem saber como nas costas.

Pelo menos teria poupado a vida de Taylor.

Correu as mãos pela escultura em que Taylor havia sido transformado e beijou sua boca fria. Sabia que era o mais próximo que teria de uma despedida. Quis ficar. Quis que Melania a visse e a transformasse em pedra também, mas achou que a feiticeira seria mais feliz vendo sua miséria.

"Haverá um tempo em que o reino precisará de você, Clarissa. Danian significa 'acender'. Lembre-se disso. No dia em que acordar, você entenderá e saberá o que fazer."

As palavras novamente. Clarissa gritou de ódio. Ela não sabia o que fazer. Não sabia. E, na verdade, não se importava com o reino. Queria que tudo explodisse. Morresse. Sumisse. Ao ter esse pensamento, porém, as sentenças invadiram seu mente como trovões ensurdecedores, como um alerta para que não repetisse bobagens.

Ela precisava sair dali. Sentiu os olhos se encherem de água ao olhar para Taylor de novo. A única coisa que tinha certeza era que, para salvar a própria vida, tinha que ir embora do castelo o mais rápido possível. Aproveitou que a luz que o pingente irradiava para fugir.

Clarissa passou pelos convidados incomodados pela claridade como se fosse invisível. Tentou se manter o mais longe possível de Melania. E correu. Correu como nunca antes. Correu como se quisesse expurgar de si tudo o que havia acontecido.

Quando o colar finalmente apagou, ela parou e se apoiou nos joelhos. Os pulmões queimavam e as pernas doíam. Seu coração parecia inexistir. Olhou para cima e se viu na frente na grande torre do relógio, na praça da aldeia. Era uma construção de pedra alta, com um grande relógio de ponteiros de ferro no topo. Ele nunca parava e fazia um tique-taque mais barulhento do que o que seria normal. A torre não tinha portas, Clarissa nunca soube de ninguém que houvesse conseguido entrar ali.

Encostou-se e começou a tentar tirar o broche do vestido. Talvez ele funcionasse e a levasse para algum lugar bem longe de toda aquela tristeza. Suas mãos, porém, não a obedeciam. Ela estava prestes a arrancá-lo de lá quando se partiu em lágrimas.

Tudo tinha dado errado. Tudo. Ela havia fracassado e perdido tudo. Para completar, tinha fugido quando o que deveria ter feito era ficar ao lado de Taylor e morrido ali também. Ao se lembrar dele petrificado, soluçou ainda mais.

_ Que inferno eu vou fazer agora? - ela falou para o alto _ Hein? Quem me deu essa missão ridícula? Quem foi?

Quando se virou e apoiou as duas mãos na torre, um buraco se abriu. Sem ter onde se escorar, ela caiu de joelhos e, ao se virar no chão, só teve tempo de ver a parede de pedra se reconstruir bem diante dos seus olhos.

_ Mágica. - murmurou.

Clarissa olhou as próprias mãos, e elas pareciam perfeitamente normais. Não era possível que ela mesma tivesse aberto um buraco na parede. Mas era exatamente o que tinha acontecido.

Por dentro, a torre tinha apenas uma escada espiralada que levava ao topo. Sem ter ideia melhor, Clarissa subiu os intermináveis degraus até alcançar as engrenagens do relógio que se movimentavam lentamente em seu balé de metal. Era incrivelmente bonito. Ela queria poder mostrar aquele lugar a Taylor.

A angústia a tomou de novo. Apoiou-se em uma caixa na sua frente e sentiu o rosto se contrair. Não teve tempo de derramar uma lágrima, no entanto. Ao toque da suas mãos, a capa do que ela percebeu ser um antigo livro se abriu com um ruído seco seguido de um farfalhar de folhas.

_ Não! Vocês fazem alguma coisa! O que vocês fazem? - falou olhando as próprias palmas das mãos antes mesmo de prestar atenção ao livro.

Quando focalizou as páginas para além dos seus próprios dedos viu o desenho da torre do relógio. Baixou as mãos e leu em voz baixa sobre como aquele local era cheio de magia, principalmente uma encerrada nos ponteiros do relógio, que apenas poderia ser desbloqueada por alguém provido de grande poder.

_ Ótimo. Vou chamar Melania.

Algo rangeu como se a repreendesse pelo comentário, e Clarissa continuou. Logo uma passagem chamou sua atenção.

"Ao mover as alavancas, o relógio voltará 24 horas no tempo. Para cada alavanca, uma tentativa"

_ Meu Deus! É isso! Eu preciso achar isso. Voltar no tempo! É isso! Onde eu vou arranjar poder? Talvez se eu ferver o pingente com o broche tenha magia suficiente! Onde estão essas alavancas?

Clarissa respirou fundo ao perceber que ia se desesperar. Não que não tivesse motivos. Mas ela precisava achar as alavancas. O texto não dizia onde elas estavam. Calma. Calma. Ela precisava ter calma. Num pequeno relógio em miniatura, Clarissa viu as horas: 21h49.

_ Ok. Sem pânico. Tenho tempo.

Ela fuçou cada detalhe da torre. Subiu e desceu as escadas, pendurou-se em engrenagens, abriu todas as portinholas que encontrou pela frente. Nada. Derrotada, voltou para o grande livro. O reloginho agora marcava 23h52.

A voz. A tal profecia dizia que ela saberia o que fazer. Ela não sabia. Então se aferrou na única coisa que poderia lhe dar forças: o amor pelo príncipe Taylor. Olhando as palmas das mãos e com os olhos novamente marejados, disse:

_ Eu preciso salvá-lo. Me ajudem, por favor.

Por um momento, nada se movimentou, nada mudou, nada mexeu. Foi quando Clarissa, já sentindo as lágrimas escorrerem pela face, apoiou as duas mãos no livro aberto. Dos seus dedos correram feixes de luz que iluminaram a torre toda por todos os lados. Ela conseguia ver objetos escondidos atrás de paredes, ela podia ver tudo. De todas as coisas que haviam acontecido naquele dia, a última que ela imaginaria era que ela tinha mágica. Mas aquilo só podia ser isso. Mágica.

Danian significa 'acender'. Lembre-se disso. Ela acendia! Como o nome da cidade!

As alavancas que ela tanto havia procurado ficavam bem no centro do relógio, de onde saíam os ponteiros, dentro de um cilindro. Tirou as mãos do livro e viu as luzes que haviam emanado dela se apagarem, mas ela sabia onde ir.

23h58.

Clarissa abriu a tampa do cilindro com facilidade. Haviam três alavancas minúsculas. Era tudo ou nada. Ela precisava tentar. Segurou o pequeno interruptor de metal entre o polegar e o indicador. A luz brilhou forte de novo. Era aquilo.

23h59.

Clarissa sorriu e forçou a alavanca para frente.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: May 30, 2018 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Tick-TockWhere stories live. Discover now