Capítulo 1

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Sabe aquele dia em que você não quer fazer absolutamente nada? Mas nada mesmo?

Que se dependesse de você, ficaria o dia inteiro deitada na cama sem pensar em nada, apenas observando o teto?

Então, estou nesse dia.

Acho que todas as adolescentes têm este momento, é tipo a lei do universo.

Mas mesmo assim, estou sentada dentro de um ônibus escolar indo para uma escola onde todos me odeiam, com um vestido ridículo de baile, para uma peça de teatro mais ridículo ainda, ouvindo Away from the Sun, uma música que define bem o estado da minha vida agora.

Vejo a paisagem passar pela janela de vidro ao meu lado.

Vejo as pessoas correndo desesperadas para pegar o ônibus, vejo crianças pedindo colo.

Vejo a coisa clichê de todo santo dia.

Olho para cima pela terceira vez só para ver que o dia continua frio como as pessoas que dizem serem minhas amigas.

É tão estranho você conversar todo dia com as mesmas pessoas, vê-las todos os dias e mesmo assim não sentir nada por elas.

A vida é uma coisa bem engraçada igual às pessoas que a possuem.

Elas simplesmente têm em mente que para serem felizes tem que ter alguém ao seu lado, mas é pura ilusão.

A gente só acredita nisso pois crescemos ouvindo isso, vendo isso.

Mas se você pensar bem, você pode viver sozinha, é só você se acostumar com a ideia.

As pessoas só servem para ocupar espaço.

Sabe, acho que não sentiria falta caso algumas delas morressem.

Olho a minha volta.

Todos estão sorrindo, rindo de uma forma exagerada, brincando como se tudo tivesse certo.

Dou um sorriso ao imaginar como será o futuro de cada um.

A menina com um moicano roxo, alargadores nas duas orelhas, tatuagens tribais nos braços, sentada no fundo do ônibus, que leva em seu histórico escolar umas dez suspensões, será presa por posse de droga.

O menino atrás de mim, com seu cabelo loiro impecável e olhos azuis, irmão da menina mais popular da escola, será modelo profissional fora do país.

A menina na frente do ônibus, ao lado do motorista, que usa óculos quadrados e cabelo dividido em duas tranças, será rica e nada a atingirá, porem morrerá sozinha por não confiar em ninguém.

A garota do outro lado do ônibus, que corta o shorts da escola a ponto de parecer mais a calcinha do que qualquer outra coisa, de cabelos loiros levemente ondulados, que finge ser a menina mais feliz do mundo mas que na verdade é que mais trás tristeza dentro de si, vai ser uma dançarina de programas de televisão com três filhos para sustentar.

Agora eu, Kelsey Days, não faço a mínima ideia do que eu vou ser.

Talvez seja apenas mais uma garota que trabalha atrás do caixa de um simples supermercado e que todos se livrariam facilmente.

Ou uma catadora de latinha....

Quem sabe?

Eu não sei...

Não consigo me ver daqui há alguns anos.

Talvez eu morra antes de me tornar alguma coisa.

Olho para o menino ao meu lado de cabelos encaracolados castanho claro com olhos cor de mel.

Seven Days: Uma segunda chance de morrer (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora