Capítulo 4

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Levanto devagar, minha cabeça não dói, mas me sinto estranha, incompleta.

Não estou no mar e nem na canoa, estou numa floresta com grandes arvores que formam acima de mim um arco com suas folhas e galhos, fazendo com que eu não veja o céu.

Elas são grudadas umas as outras, como se fosse uma barreira para que não entrássemos, como se tivesse um segredo por trás dela que ninguém pudesse ver.

A minha frente há um caminho de asfalto cinza desgastado, com folhas secas e amareladas, caídas.

O outono já chegou aqui, todas as arvores estão alaranjadas e avermelhadas.

Olho pela primeira vez para as roupas que estou usando: Um vestido que vai até cinco dedos antes do meu joelho, que talvez algum dia foi bonito mas que agora não passa de um pano encardido rasgado em alguns pontos, que cobre o meu corpo.

Bem, ao menos eu estou viva e é isso que importa não?

A canoa não passou de um sonho.

Ainda respiro.

E isso é o que importa.

Começo a andar para ver se encontro algo que ajude a sair do que quer que seja isso.

Mas ao que me parece não tem um final, é tudo a mesma coisa, são as mesmas arvores, é como se eu não saísse do lugar.

Paro e respiro fundo o cheiro de mato que faz com que eu me sinta um pouco melhor, mas este sentimento vai embora logo quando me viro ao barulho de galopes.

Vejo vários jovens em cima de diversos cavalos vindos em minha direção.

Viro-me para frente e começo a correr mais rápido que posso.

Essa não é a minha hora.

Eu não vou morrer agora.

Eu não vou morrer!!!

Corro, corro, mais os trotes não param de se aproximar.

Tento correr em zig-zag mais paro quando vejo que não há solução.

Eu nunca vou ser mais rápida que os cavalos.

Viro-me encaro os animais.

Sem lugar para me refugiar, fico apenas ali, aceitando o que tiver que vir.

Acho que é mais fácil para eu aceitar a morte já que não tenho o que pensar no que fiz e deixei de fazer na minha vida.

É por isso que muitas vezes é difícil as pessoas aceitarem o fim: A memória.

Deve ser muito ruim morrer pensando no que deixou para trás...

Ainda bem que eu não vou sofrer com isso.

Enquanto fico ali parada, esperando a morte, percebo que por mais que eles sejam diferentes dos que estavam na canoa, eles possuem o mesmo olhar fixo e sem emoção.

É como se eles fossem bonecos, robôs.

Um arrepio sobe pela minha coluna no mesmo momento em que um menino de cabelos cinza que estava na frente, se desequilibra e acaba caindo do cavalo, e em vez de ele se levantar e tentar se proteger, não, ele fica deitado parecendo não se importar, vendo seu cavalo partir.

Em menos de quinze segundos ele é pisoteado por diversas patas e agora é a minha vez.

Fecho os meus olhos e....

Nada, eles passam por mim, atravessando o meu corpo.

Ufa, nem doeu como eu pensei que doeria.

Viro para frente com o vento dos cavalos correndo, batendo em meus cabelos, os vendo partirem como se não tivessem matado duas pessoas inocentes.

Fecho os meus olhos e respiro fundo.

Uma, duas, três vezes.

Abro os olhos e vejo o chão assim que eles estão bem longe, porém não há corpo e nem sangue como eu esperava.

Olho para trás, onde o menino foi pisoteado e viro-me novamente para frente com ânsia de vômito.

A cena não é muito bonita.

Mas então porque o corpo dele está ali e o meu não está aqui?

Tenho certeza que estava na frente dos assassinos, então me lembro de que é só mais um sonho.

Há quando tempo estou sonhando?

O que é a vida real?

Não me lembro como ela é de verdade.

Ou talvez isso seja a vida real, um monte de sonhos malucos e a única saída é a morte...

Suspiro encarando o chão, tentando entender algo, até que um único cavalo cinza com focinho branco passa por mim a uma velocidade em que eu consiga reconhecer a menina que está montando-o.

Rose parece uma princesa rebelde de contos de fadas.

Com uma expressão de determinação e de persistência em seu rosto, juraria que ela é capaz de tudo.

Ela não é como os que passaram aqui, Rose transmite calor e bravura.

Algo em mim diz que devo segui-la.

Mas como?

Ela já está a uma distância que não alcançaria correndo e quando estou prestes a desistir e continuar buscando resposta para o que está acontecendo comigo, um cavalo relincha ao meu lado.

Viro-me para ele lentamente e vejo uma égua marrom com crina e patas brancas.

Olho mais uma vez para o garoto azarado que agora está numa posição melhor, com as mãos cruzadas no corpo e agora com a mesma jaqueta que vira no meu sonho do avião por cima de seu corpo.

Rose é mesmo diferente.

O que eu estou falando?

Isso é apenas um sonho maluco e besta.

Ela é apenas um fruto da minha imaginação....

Engulo em seco, pois sei de alguma forma que essas palavras não são verdadeiras.

Balanço minha cabeça e no segundo seguinte estou montada no cavalo, galopando a uma velocidade que faz meus cabelos ruivos irem para trás.

Vejo as árvores passando por mim e se alguém me visse agora pensaria que fiz isto minha vida toda... mas vai saber se não fiz mesmo?

Eu posso ter sido uma grande treinadora de cavalo ou até mesmo uma corredora... ou posso ter feito isso nos fins de semana.

Vai saber?

Continuo a pensar no que posso ter sido, no que sou e depois de alguns minutos, a estrada é dividida em três caminhos: Frente, direita e esquerda.

Já estou fazendo uni duni tê para decidir o caminho, porem Brave, como eu apelidei a minha companheira, vira para direita e espero que ela saiba o que está fazendo.

Sinto o meu coração disparar quando vejo Rose a cinquenta metros na minha frente e a cem metros um portão dourado descendo, fechando o caminho.

Olho para trás e vejo que não tem nada, apenas o preto, como se as sombras estivessem comendo a floresta.

Meu coração aperta, não há tempo para que eu e nem Rose passe.

Mas vejo que estava errada, pois quando o portão de metal já esta quase se fechando, o cavalo de Rose para e ela se joga, passando no último segundo, porem nem eu e nem Brave tem o mesmo reflexo e batemos com tudo no portão.

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⏰ Son güncelleme: Jul 17, 2018 ⏰

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