Aquele do resumo

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Dias já haviam se passado, e a minha preocupação maior era a final do campeonato, pois os olheiros estariam nos avaliando para a possível vaga na seleção.

Confesso que queria estar mais focada, porém era impossível com tanta coisa acontecendo. Meu carro havia quebrado durante a semana, e estava dependendo de transporte público: até aí tudo bem, mas não quando você aparece na televisão e os loucos por esporte te encontram na rua.

Os problemas na casa das minhas amigas também me deixava preocupada: René e Luiz haviam falido, estavam enrolados com os pagamentos da casa (que eu não sei nem explicar o porquê), e Yumi quase fora expulsa com seus irmãos, pois seus pais descobriram sobre o Cruzeiro através de fotos. Seus irmãos não deixaram barato e resolveram expor a vida dupla que também levavam devido à religião e aos pais muito severos, o que não prestou e estavam sem se falar dentro da própria casa.

Paula estava pesquisando coisas para fazer da vida, parecia que agora ela estava entrando para a realidade de ser adulta e não mais uma jovem mimada e rica. Já Yumi, tentava fazer os pais entenderem que a religião não veio para prender ninguém e sim para libertar.

Nesse momento consegui perceber que meu único atual problema era um homem. Na verdade, um amor que era correspondido e eu acabei estragando. Porém eu precisava me desfazer disso.

Terminei de vestir o meião, e estava amarrando o tênis quando ouvi a porta se abrir e entrar Dana, a levantadora do time, junto com outras duas jogadoras que eram suas amigas inseparáveis, como se fosse eu, Paula e Yumi. Juntas, formávamos o time oficial de voleibol do Rio de Janeiro.

– Eu não faço ideia do motivo dele estar aqui, mas meu pai conhece o dele, já fomos até jantar na casa um do outro – comentou Luana, que procurava algo em sua bolsa e se animou ao achar o desodorante.

– Só sei que eu adoraria sair com ele no final do jogo – comentou Dana, e as três riram, depois perceberam que eu estava no vestiário.

– Que susto, Moa – comentou Ana, a terceira garota rindo.

– Só observando vocês falando dos espectadores presentes na arquibancada, como sempre fazem – brinquei, batendo os pés no chão para calçar melhor os tênis. – Nada de novo sob o sol.

– Quando você ver de quem estamos falando, vai pensar o mesmo! – Luana riu, dando de ombros.

Revirei os olhos e segui caminho atrás delas para o ginásio, que já estava lotado de pessoas. As apresentações iriam começar, para logo dar início ao jogo. Estava ansiosa e muito nervosa.

Olhei em volta e pude ver os olheiros sentados com pranchetas. Me benzi, beijei a mão e em seguida a quadra.

Galvão Bueno já estava lá, e com certeza já tinha falado que o Neymar acordou às 9h48, e comido ovos mexidos com especiarias e suco de laranja da Pérsia. A rede Globo já transmitia ao vivo, e logo estávamos na quadra fazendo o aquecimento.

Paula não estava muito no planeta Terra, e Yumi tentava chamar ela o tempo todo. Quando deu a hora do início do jogo, fiz de tudo para me concentrar.

Começamos na frente, mas logo a equipe de São Paulo avançou e ganharam o primeiro set.

– O que está acontecendo, Paula? – perguntou Luana, a líbero. – Perder aquelas bolas? Quem é você e o que fez com a ponta direita que eu conhecia?

– Gente, calma – falei ao nos aproximarmos do técnico que não estava nenhum pouco contente.

– A Luana tem razão – ele arrematou, e Paula ficou ainda mais irritada. – Mas não é só a Paula, foca na ponta esquerda deles, ela está mais afastada da rede, tentem fazer corredor algumas vezes seguidas, talvez a gente consiga bastante ponto aí – ele alertou e virou-se para mim. – Está fazendo um ótimo jogo, Moa. Pode melhorar, você sabe disso!

Como Sobreviver Em Um Cruzeiro [COMPLETO]Where stories live. Discover now