13 de maio

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ESSA MADRUGADA

Sou um homem importante, vivendo uma noite qualquer.

É meu aniversário.

Hoje eu completo vinte e nove anos.

Como o tempo passa rápido!

Eu assumo, adoro uma boa farra, mas detesto comemorar meu aniversário. O problema é que, com a família pé no saco que eu tenho, esse tipo de data comemorativa se torna um evento do qual não se pode fugir. Sou a prova viva disso. Todo ano eu tento, mas nunca dá certo. Eles me tiram de dentro do jatinho no tapa, roubam a chave do meu carro, somem com a minha carteira, e por aí vai. Sempre se transformam em chicletes. É um verdadeiro saco. E olha que de chiclete eu gosto.

Ninguém confia em me largar sozinho em 13 de maio.

Não tiro a razão deles.

Esse ano meus fratelli insistiram para que eu reunisse nossos amigos para comemorarmos a data no Josephine's. E onde mais seria? Em um lugar onde tivessem que abrir a carteira? Bah! Em plena meia-noite os três arrombados estouraram um champanhe caríssimo, que como sempre vai sobrar para o meu rabo pagar, e desde então estão fazendo o possível para me distrair dos meus pensamentos na pista da balada eletrônica que rola no andar superior do bar aos sábados. Até agora, sem sucesso. Mas a pior parte vai acontecer amanhã à noite, durante o jantar de domingo em família, quando meu pai aparecer, vindo da cozinha, com um bolo cheio de velinhas acesas para eu assoprar. Ele vai me pedir para fechar os olhos e pensar em um pedido, como faz todos anos. E, como acontece todos os anos, vai arrebentar comigo. Por que? Porque todos os desejos que eu tinha, até os mais efêmeros, meu pai já realizou. E, ainda assim, eu continuo não me sentindo nem um pouco realizado. Estou bem longe disso.

Eu não me sinto feliz.

Mas todos os anos nessa mesma data eu me sinto ingrato.

É como se todos os esforços que meu pai fez, e ainda faz, para me fazer feliz não tivessem valido de nada. Rafael costumava me dizer que o dinheiro não podia comprar a felicidade, mas até me tornar filho de um dos homens mais ricos do país eu não acreditava nisso. O que acha de uma prova? O bocudo do Leonardo deixou escapar que nosso velho comprou meu sonho de consumo em forma de carro para me presentear esse ano. Embora eu esteja falando dele a meses, sou muito mão de vaca para pagar o seu valor, mas não tem nada que o meu pai não faria para tentar me animar no dia mais triste do meu ano. Esse ano, papai gastou mais de duzentos mil reais para arrancar um sorriso do meu rosto. Se eu fiquei animado? É claro que fiquei, mas sabe qual foi a primeira coisa que passou pelos meus pensamentos quando eu soube? Será que os quatro desconfiariam que foi de propósito se eu enfiasse meu carro novo no alambrado da Marginal Tiête a mais de 300 km/h?

Foda né?

Meu pai não pode tornar esse dia bom para mim.

Ninguém pode.

O dinheiro torna tudo mais fácil, admito. Ele é mestre em arrancar muitos sorrisos dos nossos rostos e nos dar aquilo que gosto de chamar de felicidade momentânea. Mas a verdadeira felicidade, aquela que faz nossa alma reluzir feito ouro, essa não pode ser comprada.

Rafael tinha razão nisso.

Sei que muitas pessoas acreditam que a vida é feita de momentos felizes, apenas momentos. Sei que muitas pessoas acreditam que é impossível ser feliz o tempo inteiro, mas também sei que a felicidade plena não é uma utopia. Eu já a senti um dia.

Só não sinto mais.

Sei que nunca mais vou sentir.

Minha alma nunca mais vai reluzir.

Todos os beijos que roubei - DegustaçãoWhere stories live. Discover now