Capítulo 02

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O castelo de Cibele era realmente majestoso, a arquitetura, seus jardins e cômodos eram luxuosos. Aquele era o local de trabalho de John. Ele era um Guarda Real.

O homem precisava estar sempre alerta a qualquer sinal de anormalidade de qualquer pessoa e agir no mesmo instante. Seu companheiro nas rondas e prontidões era Stevan.

Quando se dirigiam ao seu posto, os dois conversavam sobre assuntos diversos, mas havia uma novidade no palácio.

— Temos novos hóspedes. — informou Stevan.

As informações passadas a Stevan por seu superior, foram transmitidas para John. Mas, não haviam detalhes. Apenas fora dito que um garoto e sua irmã passariam um período no palácio para que alguns reparos fossem feitos no aposento do príncipe causados pelo menino desconhecido. Ninguém sabia como, porém era fato que um adolescente burlou a segurança do palácio e fez um estrago em um dos cômodos do imóvel. Stevan advertiu que não era para essa história se espalhar pelo palácio, apenas eles, por razão do lugar onde iriam fazer sua ronda, sabiam desse acontecimento.

Durante a semana eles ficariam de prontidão no corredor onde fica o quarto do príncipe Edwin. A única diferença era que teriam uma nova companhia. Normalmente, aquele perímetro era muito tranqüilo, já que os hóspedes eram impedidos de se dirigirem ao andar dos aposentos reais.

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Passados alguns dias, depois daquele aviso, os dois guardas avistaram uma jovem, aparentando estar perdida. A mulher estava concentrada em suas observações de quadros com as pinturas dos monarcas naquele corredor. Os dois não acharam estranho, já que em um castelo tão grande é muito fácil se perder.

Quando ela, enfim, chegou a porta do aposento, observou o trabalho que ali estava sendo feito, e iniciou um diálogo com o garoto que trabalhava.

— Mamãe e papai ficariam orgulhosos em ver essa cena, sem dúvidas.

Foi inevitável para John não pensar em sua família naquele momento.

— Você não deveria estar aqui, Anne. — depois de uma pausa continuou — Sinto falta deles.

O nome dela é Anne — Os guardas fizeram a anotação mental.

— Eu também! Como eu nunca imaginei que um dia sentiria. — respondeu causando um sentimento de compaixão aos que escutaram essa confissão.

Ela então virou-se na direção dos guardas e disse:

­— Bom dia!

Internamente, os dois guardas responderam. O protocolo era explícito em dizer que não era permitido o diálogo em serviço com outras pessoas e entre eles também, apenas em casos realmente necessários havia uma exceção.

— Eles não responderam você! ­— Oliver disse.

Já haviam dois dias desde a chegada dos dois ao palácio. Tempo suficiente para terem conhecimento do nome dos recém-chegados.

— Eu sei. Eles não respondem, mas não são surdos. Isso não me impede de ser simpática com eles. E, então, como está se sentindo como um legítimo trabalhador do palácio real de Kent? — a resposta dela agradou os guardas. Um pouco de simpatia não faz mal a ninguém.

— Se eu disser a você o quanto estou apreciando isso, acreditaria em mim? — Houve uma pausa e continuou — Você não pode ficar aqui, ainda que seja da minha vontade tê-la por perto.

Realmente, o trabalho dignifica o homem. — pensou John.

— O príncipe me proibiu de entrar no quarto dele e eu não vou transpor o meu limite. Não estou aqui para atrapalhá-lo. No entanto, preciso de sua companhia, conversar com você é fundamental para o meu bem-estar. — Anne justificou.

— Você não trouxe o senhor Steve? ­­— Oliver questionou.

Senhor Steve? — os dois guardas ficaram confusos.

— É verdade. Sinto falta do Steve. Ela é a melhor e mais fofa cenoura do mundo! ­— parecendo ter lido os pensamentos dos senhores, senhorita Davies explicou. — Steve é meu companheiro cenoura, laranja e fofo de pelúcia. Ouso nomeá-lo como meu melhor amigo. Acredito que passar muito tempo em companhia apenas de meu irmão e de muitos livros tenha me tornado uma menina esquisita, eu sei.

Aaaaaaaaaaah — Eis o coro da sabedoria ­— Agora está explicado.­— os guardas finalmente compreenderam a quem eles se referiam.

— Depende de como define esquisita — Replicou o garoto dentro do quarto. E voltando sua atenção para o guardas, prosseguiu — Eu gosto muito de conversar com as pessoas e na falta delas eu posso usar meios poucos convencionais para me aliviar das necessidades sociais.

Os guardas se sentiram impactados com a resposta, pois não esperavam, em hipótese alguma, uma confissão dessas.

— Você pode muito bem sair de casa, encontrar amigas e conversar com pessoas de verdade. Nada a impede disso! — Oliver respondeu.

— Posso fazer muitas coisas, eu sei. Porém, no fim, tudo continuará como sempre! Eu e você, Oliver.

Aquelas palavras se assemelharam a um soco para os dois ouvintes.

Logo que terminou de falar, o príncipe Edwin surgiu atrás de Anne, a surpresa da garota foi evidente. Mas, algo ainda mais incomum estava prestes a acontecer: o príncipe Edwin, literalmente, atravessou os pés sobre ela a fim de adentrar seu próprio quarto. Nunca uma cena assim havia acontecido, a surpresa e a vontade de sorrir foi demasiadamente grande nos dois trabalhadores.

O que trouxe preocupação aos dois, foi presenciar, minutos mais tarde, a saída da moça em prantos do corredor.

879 palavras

A História De Um GuardaWhere stories live. Discover now