II. O Velho e o Mar, Ernest Hemingway

82 16 2
                                    

"Tudo que nele existia era velho, como exceção dos olhos, que eram da cor do mar, alegres e indomáveis."

            — Aish! – Wonwoo exclamou, maneando a cabeça em descrença – Como você prefere "Por quem os sinos dobram"? Nem o próprio Hemingway preferiria, se você perguntasse! –  completou, arrancando uma gargalhada de Suri: ele parecia adorável quando começava a argumentar com base apenas no emocional. A garota tomou um gole de café calmamente, aproveitando a cena com um sorriso enviesado.

            — Já que não podemos perguntar, a não ser que você consiga algum contato com o além... – ela fez o sinal da cruz, arrancando um revirar de olhos rabugento do rapaz, mas Wonwoo já não escondia sorrisos, não dela – Eu fico com a minha opinião. – deu de ombros, despreocupada. Adorava quando compartilhavam das mesmas ideias, mas era igualmente divertido discordar de Wonwoo apenas para ver como as orelhas dele se ruborizavam proporcionalmente à sua indignação, ou o modo como ele afundava ainda mais os óculos no rosto, como buscasse enxergar melhor qualquer argumento que pudesse lhe trazer a vitória em uma discussão.

            — Você ficaria com ela mesmo que ele te dissesse o contrário. – Wonwoo suspirou, resignado: ainda que se conhecessem há poucos meses, ele podia afirmar aquilo com certeza sobre Suri. A garota era um verdadeiro paradoxo, no qual a delicadeza do exterior se chocava com uma tenacidade invejável quando o assunto era defender suas opiniões e ideais. E, céus, ele adorava aquilo... Cada dia mais. – Você pelo menos leu "O velho e o mar"? – lançou seu último argumento.

            — Ainda não, mas pretendo ler. – Suri respondeu, erguendo os braços defensivamente, sem dar chance para que Wonwoo iniciasse ali uma nova argumentação, dessa vez com fundamentos – Aigoo! Eu vou ler, prometo! – garantiu, e o sorriso desconfiado no rosto do rapaz lhe parecia um desafio – Jeon Wonwoo, se eu não tiver lido até quinta que vem, você pode pedir o que quiser. – propôs, e o sorriso nos lábios do rapaz se alargou de modo a fazê-la se esquecer, por um momento, do que acabara de fazer.

Honestamente, não era justo que ele parecesse tão bonito, de forma tão despretensiosa. Dos cabelos discretamente desalinhados ao suéter grande demais, em cujas mangas ele escondia as mãos para se livrar do frio que vinha junto do outono, Wonwoo quase parecia feito à imagem dos romances do século passado. Impassível e impecável. Mas havia aquela vivacidade em seus olhos, a sagacidade mordaz de seus comentários, a rebeldia velada que se mostrava de quando em quando... E ela via a sua frente algo ainda mais encantador do que a Literatura já lhe apresentara.

            — Feito. - Wonwoo concordou, e era sua vez de saborear a própria vitória com um gole de café. Que lhe pareceu particularmente doce, dessa vez.

\ \ \

            Uma semana depois, o rapaz chegou ao café seguindo sua nova rotina: depois de deixar seu casaco próximo à porta e trocar algumas palavras gentis com de a Sra. Kim, seguiu até o balcão e pediu, além do clássico latte macchiato, um expresso duplo. Um sorriso secreto tomou conta dos lábios do rapaz enquanto caminhava até a mesinha de canto onde, compenetrada demais na leitura, Suri lhe aguardava. Os olhos dela corriam rápido de uma ponta à outra da página, e bastou uma espiada na capa do livro para que Wonwoo compreendesse o motivo pelo qual a garota tinha os olhos marejados. Aquele livro também lhe tocara as emoções profundamente.

            — Parece que alguém não cumpriu o combinado... - Wonwoo cantarolou, enquanto se sentava diante de Suri, deixando o café dela ao alcance de suas mãos. A garota ergueu os olhos de pronto, e o movimento fez com que uma pequena lágrima escapasse, deslizando por sua bochecha apenas por um segundo, já que Suri a varreu rapidamente com o dorso de um dos dedos.

GOYA • Jeon WonwooΌπου ζουν οι ιστορίες. Ανακάλυψε τώρα