Capítulo 2

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Londres, um ano antes

O Sr. Grossi costumava dizer que Georgia era a garota mais determinada que ele já havia conhecido. O toscano cultivador de oliveiras e videiras não estava errado: sua única filha colocou na cabeça aos sete anos que seria uma chef internacional e agora, com vinte e sete, era o que Georgia Grossi, em breve Milton, tinha se tornado.

Após ganhar suas estrelas em um guia super badalado mundialmente, trabalhando em Paris, ela migrou para Londres onde abriu o próprio restaurante em sociedade com o noivo, um famoso enólogo e administrador, John Milton.

O relacionamento dos dois tinha começara uns anos antes, ainda na França e ele a convenceu de que Londres seria o lugar ideal para montarem o seu negócio, onde ele tinha todos os contatos certos para que o restaurante fosse um sucesso.

E fora, durante o ano que Georgia passou ali aperfeiçoando receitas próprias (os doces eram a sua verdadeira paixão, mas John a convenceu a investir em frutos-do-mar).

A italiana já tinha se habituado a cidade e gostava da sua nova vida, tanto que planejara o casamento para a primavera do próximo ano num dos condados próximos à capital, numa festa campestre que orgulharia seu pai – já que o mesmo era desafeto a deixar suas oliveiras e vinhas por muito tempo.

Era essa mesma determinação que levara Georgia a chegar mais cedo no restaurante naquela tarde: o local exclusivamente noturno começava os seus preparativos às quatro, para abrir às sete da noite, mas ainda eram duas horas quando ela se dirigiu para as margens do Tâmisa.

Saiu logo cedo determinada a encontrar os melhores pescados, após discutir com fornecedor, no dia anterior, que lhe apresentou preços extorsivos.

Certa de que ele estava tentando lhe enganar, ela percorreu local por local fazendo pesquisas e conversando com as pessoas, dando preferência aos pequenos comerciantes, de modo a trazer outros para o seu sucesso, jamais explorar.

Ao lado da determinação, Georgia também prezava pela justiça: sua grande guerra com John era a respeito dos preços dos pratos no restaurante, ele querendo atender apenas uma clientela exclusiva, com preços altíssimos, e ela dizendo que queria que todos provassem da sua comida, logo, deveriam cobrar o justo, nada mais que isso!

Até então ela vencera a batalha pelos preços, mas noite após noite ela via reservas que já estavam aguardando há meses serem dispensadas para atenderem alguma celebridade e isso lhe dava nos nervos!

Adicionou o assunto à lista de coisas que sabia, teria que discutir com John assim que ele voltasse da viagem ao Chile, onde fora fechar uma representação exclusiva com algum vinhedo.

Um assistente ajudou a carregar a caminhonete refrigerada assim que ela encontrou tudo o que queria, fechando pedidos para cada dois ou três dias, dependendo do produto.

Chegaram ao restaurante mais cedo e ela viu o rapaz se afastar para atender o telefone, pensando que gostaria que mais pessoas estivessem ali, para que ambos não tivessem que descarregar, agora sem nenhuma ajuda extra.

Percebeu imediatamente que as luzes da cozinha já estavam acesas e estranhou: será que alguém teria esquecido na noite anterior?

Deixando a bolsa sobre o balcão, ela atravessou em silêncio, pensando em se armar, caso fosse um ladrão. Voltou e abriu seu kit exclusivo, pegando um cutelo, assim como, o telefone celular, que imediatamente preparou para filmar, caso precisasse de provas.

Sua mente temeu quando ouviu o barulho de algo caindo, mas ela não deixaria de defender seu restaurante de quem quer que fosse que havia ousado entrar ali!

Pensando que John estava errado quando dizia com orgulho que Londres era uma das cidades mais seguras do mundo, ela abriu vagarosamente a porta dupla que dava passagem para a cozinha, o cutelo numa das mãos, celular na outra.

___ Não John! Não podemos fazer isso aqui!

O cochicho chegou muito nítido aos ouvidos dela. Reconheceu imediatamente a voz de Marisa, a sub-chef.

___ Deixa de frescura! Não vai ser a primeira vez!

Georgia vê os dois se agarrando sobre o balcão de inox do canto oposto, Marisa sentada com as pernas abertas e seu noivo, John, entre elas.

___ Mas é... Anti-higiênico! – a mulher geme, sem oferecer muita resistência, as mãos dele estão dentro da sua saia, erguida quase até a cintura.

___ Já estaríamos terminando se você não fosse tão fresca! – ele diz entre beijos e puxões.

___ O que estamos fazendo não é certo! Georgia vai...

___ Georgia fede a peixe e está tão gorda que tenho cavocar suas coxas para chegar na...

___ AAAHHHH!!!! – ela finalmente tem alguma reação ao horror que está presenciando: joga o celular sobre os dois e como a próxima coisa que tem nas mãos é a faca, é o próximo objeto que voa, passando raspando pelas pernas do homem, que imediatamente tenta se recompor e fechar as partes íntimas para dentro das calças.

___ Você está ficando louca??? – ele pergunta, quando o cutelo fica fincado na porta do balcão refrigerado, bem na direção do quadril dele e as pernas da amante.

___ Eu vou matar vocês, seus malditos traidores!!! – fora de si, Georgia alcança outro jogo de facas que está preso num ímã na parede e começa a jogar todas na direção do casal, que grita, tentando se defender.

John alcança uma tábua e faz um escudo, a mulher sai correndo a gritar na direção do assistente, que faz a única coisa que pensa para tentar impedir um assassinato: chama a polícia.

Sem dar ouvidos à razão, tudo o que Georgia quer é ver o noivo traidor pagar por tê-la traído, enganado e ainda dito aquelas coisas horríveis...

Quando o surto de ódio diminui, ela se vê presa entre dois policiais, John a sangrar porque aparentemente foi atingido no braço de raspão e seus pulsos entre algemas, com alguém lendo os seus direitos, Marisa a chorar, depondo como vítima injustiçada de uma tentativa de homicídio.

E foi assim que o dia que começou com trabalho árduo acabou com Georgia Grossi atrás das grades.

Ilha Dalgliesh - Livro 2 - Agridoce AtraçãoWhere stories live. Discover now