Seja Corajosa! Infância Corajosa.

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Lina

Eram garotos muito malvados e eu estava assustada.

— Mãe, me ouça! O Elton está aprontando. Aqueles amigos dele não são legais.

— Não fale assim, Lina. Eles apenas estão brincando... Deixe-os em paz.

Ela nunca me ouvia.

Eu tinha 8 anos na época, meu irmão 14. Sempre foi o preferido da minha mãe, o protegido, talvez uma compensação pela ausência do nosso pai que sabe-se lá onde estava. Assim que nasci, ele foi embora, nos abandonando naquele litoral de periferia. Não era ruim morar perto de uma praia, o ruim era aguentar a convivência. Eu levava as broncas por meu irmão mais velho. Minha mãe nada percebia. Ele não se importava com nada, nem ninguém.

Como ela não queria ajudar e tão pouco me dava atenção, decidi aproveitar e seguir meu irmão, após o jantar. Ele estava aprontando e eu iria descobrir o quê!

Abafando os paparicos corriqueiros da minha mãe a ele, a impaciência quase me tomava e quase me entregava. Ele estava aprontando alguma, eu tinha certeza.

Elton saiu e, com a desculpa de ir para o meu quarto, pulei a janela e fui atrás dele. Meu coração batia muito forte, mas eu sabia que tinha de prosseguir. E não estava enganada...

Entrou na velha casa abandonada do centro da praia. Ninguém costumava ir lá, muito menos a noite. Em dias mais agitados, as ondas do mar causavam danos constantes a construção. Logo ela não estaria mais em pé.

Que estranho!

Eu estava com medo... Pensei em voltar... Pensei muito. Porém, para meu espanto maior, com um tremular constante nas pernas, ouvi gritos de menino. Vinha lá de dentro. De dentro da casa! O que estava acontecendo? De tamanho nervoso, não consegui me sustentar em pé e caí de joelhos.

Naquele dia, eu conheceria o "senhor avelã".

***

Eu sabia que meu irmão e os amigos arruaceiros dele estavam aprontando! Mas, o que eles estavam fazendo, afinal de contas? Nada de bom, é claro. Nada mesmo! E agora? O que eu faria? Tais pensamentos me inundavam, até ser despertada por gritos novamente... Eu precisava agir e rápido! Alguém estava sofrendo muito por causa deles.

Não havia casas próximas, nem outras pessoas, nada... Telefone só na cidade. Eu poderia correr e pedir ajuda, mas isso levaria tempo e quem acreditaria em mim? Minha mãe vivia dizendo que eu era uma bobona sonhadora. Que mentia e tentava prejudicar o meu irmão. Nenhum vizinho me dava crédito também. Diziam que eu era uma criança... O que uma criança poderia fazer?

Bem... Essa também é uma vantagem!

Elton e os amigos nunca ligaram para mim também. E eu costumava brincar muito naquela casa velha quando menor. Apesar dos estragos já bem encaminhados, eu tinha confiança de que somente eu conseguiria encontrar saídas e entradas pelas quais ninguém encontraria. Sendo pequena, seria ainda mais fácil.

Respirei fundo e contei mentalmente até conseguir acalmar a tremedeira. Ainda respirando pausadamente, fiquei em pé e fui em direção a casa. Os gritos já haviam cessado e isso fazia meu coração acelerar mais. Algo havia se quebrado...

Afastei algumas madeiras soltas, tentando tremer o mínimo possível e não fazer barulho. Assim me esgueirei e logo fiquei frustrada. Eu já não era tão pequena. Arranhei-me um pouco e ardia... Mas, eu não podia lamuriar. Não tinha tempo para isso.

Seja Corajosa Lina! Seja Corajosa!!! Tenho o nome de duas bravas guerreiras, que foram minhas avós: a avó "Ana", que foi enfermeira voluntária nas piores cadeias que existem. E minha avó "Carolina", que se dedicou às reivindicações para melhorias na comunidade. Como eu sentia falta delas... Com certeza, elas me ouviriam e me aconselhariam. O que as senhoras fariam no meu lugar? Elas não teriam medo... E é isso! Eu sou neta delas! Também não vou ter!

PERDIDA NA MEMÓRIA | Embaixador Secreto 2020Onde as histórias ganham vida. Descobre agora