Mais Perto do Que Pensa

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Kalvin Giorno

— Lina! — Despertei e transpirava muito.

— Você se lembrou...

— Ah, a terapia — retornei em mim, enquanto passava a mão na testa. — Como eu pude me esquecer por tanto tempo de algo tão forte?

— Às vezes nossas dores são tão profundas que nossa própria mente nos oculta informações, a fim de não sofrermos mais. Porém, elas não são perdidas. Ficam armazenadas em um canto do cérebro e, muitas vezes, podem ser acessadas de novo. Como no seu caso...

"Após o acidente de helicóptero, você se perdeu da Lina, mas não perdeu a consciência no mesmo instante. Nadou até perder as forças, a procura dela. O piloto chamou por ajuda antes da queda e, a guarda costeira pôde resgatá-los..."

— Mas, a Lina não... Eu não entendo, como eu pude me esquecer dela.

— Apesar da força de vontade, você despertou após três dias do acidente e pouco se lembrava dele. Com certeza houve algum trauma na cabeça.

— Sim, eu agora me lembro disso — falei, passando a mão na nuca. — São quase 10 anos desde o acidente. Eu preciso me reencontrar com a Lina.

— Sinto dizer, mas as possibilidades dela são mínimas. Como ela não foi encontrada...

— Se engana doutor... As possibilidades para ela são infinitas, assim como a imensidão do azul do mar. — disse nostálgico. Eu era outro novamente. Enfim, descobrira a saída para o meu tormento. — Eu sei que ela está por aí e eu vou encontrá-la.

— Eu entendo, meu jovem. Mas, pense: Caso ela tenha se salvado, por que ela não te procurou?

— Passei anos não me lembrando dela... Só alguns flashes de suas preferências, mas nada com relação direta a ela. Não posso garantir que ela não tenha vindo até mim, embora acredite que eu me lembraria caso assim fosse. Não quero conjecturar, vou procurá-la e mesmo que passe a vida toda, irei encontrá-la.

Levantei-me e quando estava na porta, o doutor chamou-me a atenção:

— Não vá muito longe. Ela pode estar mais próxima do que você imagina.

— Do que está falando? — voltei-me a ele. — Eu perdi algo em meu próprio relato? O que sabe?

— Você começou a ter as ausências há pouco mais de dois meses, tempo esse que seu pai adoeceu e precisou de cuidados em casa. A empresa te lembra do pai... O restaurante favorito dele...

— O que quer dizer?

— Vá até o seu pai. Talvez ele saiba algo.

***

Meus pais não a conheciam pessoalmente. E eu, recluso na minha solidão e aspereza, sem entender o motivo, mas sem disposição para ser o contrário, não notei qualquer pessoa diferente. Na verdade, eu mal havia visitado o meu pai... Sentia em mim diversas mágoas dele e de minha mãe, agora eu entendia um pouco mais sobre isso. Eles me afastaram dela durante todos esses anos...

Mal cheguei ao jardim e me senti paralisar. Meu pai estava na cadeira de rodas e pude observar a cuidadora de perfil.

— Olá senhor Giorno. O senhor parece muito bem disposto hoje.

Era ela!

Antes que eu pudesse falar ou fazer qualquer coisa mais, ela me notou, e ainda sorrindo olhou para mim com a imensidão de seus olhos azuis.

Pude compreender tudo e tive a certeza de que ela também.

Já não estava perdida na minha memória. 

Lina voltou para mim. 

Teríamos muito para recordar, mas muito mais para viver.

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PERDIDA NA MEMÓRIA | Embaixador Secreto 2020Where stories live. Discover now