Amuleto da Sorte

06 Simbolismo

Inspiração (1893), obra de Gustave Moreau.

Ryan

Foi uma noite não muito longa, não imaginei que fosse tão rápido convencer alguém a comprar um quadro e ainda fechar um último patrocínio. Eu pedi para Daniel não esquentar a cabeça pois eu ia dar um jeito. E dei. Consegui que a maior empresa esportiva estivesse do meu lado, ela que está hoje apenas com o atual campeão mundial e era esse o foco que eu estou buscando.

A porta do elevador do meu apartamento se abriu e dei de cara com Daniel sentado no meu sofá.

Eu achava engraçado como sempre sabia exatamente o que ele iria falar, eu estava prestes a receber um sermão sobre o terreno da academia. Eu ainda não o tinha visto desde que conversamos na academia sobre isso.

-- Eu pensei que você só ia fingir que estava desistindo do terreno, mas você realmente decidiu abrir mão dele pelo motivo mais imbecil que eu jamais cogitaria passar pela sua cabeça.

_ Não enche o saco Dan, eu estou cansado. Vai embora.

Entro pela sala tentando agir o mais natural possível enquanto afrouxo minha gravata e desbotoo os primeiros botões da camisa.

_ Você só pode estar zuando comigo, não pode ser sério isso.

_ Só vai embora, ok?

-- Você tem noção da idiotice que está prometendo? Essa rede de academia é a sua aposentadoria, você não pode mais...

Ele para abruptamente quando percebe que o que iria dizer poderia me magoar, e realmente não seria a coisa certa a ser falada pois eu me exalto pela primeira vez.

_ Não posso o que? Não posso mais lutar? Fala em voz alta.

_ Você precisa colocar a cabeça no lugar, esquece essa menina.

_-- Não, não vou, foda-se a academia, minha aposentadoria, foda-se tudo, eu só quero ter minha última chance e vou me agarrar a tudo que eu puder para conseguir vencer a porcaria de mais uma luta. Foda-se a grana, a fama, foda-se toda essa merda, entendeu, Daniel? Eu só preciso ganhar mais uma vez.

_ Esse lance de sorte... _ Ele começa, mas eu o interrompo.

_ Ela é tudo que eu tenho agora, Daniel, quando ela excluiu o instagram e parei de comprar quadros esquisitos eu parei de vencer... Eu preciso dela aqui nem que custe o preço de uma academia inteira.

_ Isso só pode ser loucura. _ Dan ri em desespero. _ Essa besteira que você acredita... você ganhava lutas porque trinava, era focado e não porque comprava quadrinhos.

Ele sabia que eu não era disso, eu era o mais racional possível o tempo todo. Eu não ligava para signos, não acreditada em superstições, mas essa garota... por algum motivo as coisas dão certo para mim quando ela está em volta agindo de forma esquisita, dramática e sem sentido. Ter uma superstição para me agarrar... me fazia sentir mais confiança em mim mesmo.

_ Ela pelo menos escondeu aquele cabelo horrível?

_ Não, estava mais colorido que o normal. -- Sorrio pela primeira vez ao lembrar. -- A única menina do salão com tênis e vestido rodado.

Eu tenho certeza que Lily não tinha a idade que aparentava ter. Ela parecia ter dezesseis anos, mas devia ter no mínimo vinte e dois considerando que já é formada no ensino superior. O estilo dela era um pouco peculiar, nada fazia muito sentido, seu cabelo tinha um monte de mechas coloridas, trancinhas, dreads ou algo parecido, tudo misturado. Não fazia sentido, mas ela parecia amar.

_ Vou dar um jeito nisso.

_ Vai para sua casa, Dan, vou dormir, tchau.

Saio deixando-o sozinho na sala. Eu precisava me manter calmo, as coisas estavam indo como eu planejei, foi só meu amuleto da sorte voltar para mim que tudo está dando certo.