Prólogo

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Cinco anos antes

Faltavam alguns minutos para as oito da noite. Minhas mãos estavam um pouco suadas pela ansiedade e mesmo que eu as limpasse a cada minuto na minha calça jeans, não adiantava muito.

Eu não estava muito bem, minha mente era um turbilhão de pensamentos colidindo entre si. Meus rendimentos não eram bons, eu tinha lesionado o braço meses atrás, me recuperei há pouco tempo, mas sentia que não era o bastante para estar bem por completo para hoje. Eu não estava preparado. Não, eu não estava preparado. Não o suficiente.

_ Fica frio, Ryan

_ Não deveríamos ter marcado isso, não hoje.

Estávamos dentro do carro no sinal vermelho em uma espera triplicada pela ansiedade. Daniel me olhava de canto enquanto batucava com os dedos no volante. Ele estava nervoso também. Ele sabia, assim como eu, que minhas chances eram mínimas.

_ Fica frio.

Essa parecia ser a única coisa que ele sabia dizer desde que saímos do meu apartamento. Na verdade, ele estava tentando acalmar mais a si mesmo do que a mim. Parecia que ele estava tentando entrar no UFC e não eu. Parecia que ele tinha uma luta decisiva e não eu.

Eu era bom, eu sabia disso, todo o país sabia. Todas as competições que ganhei me provam isso. Entrar no UFC é meu sonho, mas hoje não é o dia. Não com meu braço ainda sentindo as dores de meses atrás.

A pior parte é que não terei essa sorte tão cedo. Com tantos patrocínios envolvidos, com tantos dólares envolvidos.

Eu olhei para minha calça pela milésima vez, limpei minhas mãos com calos pela milésima vez. Estava as encarando quando o carro freou de repente levando todo o ar do meu corpo. Só escutei um grito de Daniel e meu coração disparou.

Levantei meu rosto assustado para ver a causa da parada repentina. Não havia nada a vista.

_ Nós batemos?

Perguntei, mas não houve resposta. Daniel estava sem reação no banco do motorista, as mãos no volante estavam brancas de tanta força que colocava nelas. Tirei meu cinto de segurança e olhei a nossa frente me esticando pela janela lateral.

Havia uma garota deitada no chão.

_ Porra! Caralho, mano! Você atropelou uma garota!

Daniel estava paralisado, sua voz não saia e seus olhos vidrados nem piscavam ou se moviam.

Desci do carro às pressas e me abaixei perto da garota. Era uma menina de mais ou menos 18 anos, bem pequena e com um vestido branco que agora estava todo manchado do pó do asfalto. Ela não estava morta, pelo menos, pois começou a se levantar com o cabelo castanho todo em seu rosto.

_ Você está bem? _ Questionei.

Ela parecia estar investigando a situação, parecia olhar meticulosamente por todo o espaço a nossa volta, quando seus olhos finalmente se focaram em alguns quadros jogados no chão, foi como se o demônio tivesse se apossado de seu corpo.

A garota girou o pescoço rapidamente em minha direção e bateu as mãos no rosto furiosamente para tirar os cabelos da frente para poder me ver melhor.

_ Você atropelou meus quadros!? _ Ela resmungou com ódio dominando sua voz.

_ Seus quadros?

Olhei para o chão ao nosso redor e foquei nos quadros no asfalto. Molduras rachadas e soltas. Vidro quebrado. É... acho que atropelamos os quadros da menina. Mas essa era a minha última preocupação agora.

Amuleto da SorteWhere stories live. Discover now