Legado INCONTROLÁVEL

CAPÍTULO 11

1962, Tanrisa

Stuck on you tocava alto demais no salão de festas do grandioso hotel M Mansour, na costa de Tanrisa. A aristocracia ali presente era, em sua maioria, de famílias agregadas e outros integrantes de Classe B da Ordem. Os jovens riam e dançavam na pista de dança, o twist que se popularizava cada vez mais, e os mais velhos, cercando-os com seus olhares de águia, conversavam entre si brindando champagne.

Era um dia para comemorar, de fato, afinal, apesar da grande crise de mísseis que acontecia no hemisfério norte, Artemísi inteira estava lucrando. Como uma pequena ilhota, ignota do resto do mundo, era muito fácil servir aos dois lados. E assim a máfia alimentava mais uma guerra.

Vittorio Moretti dançava com uma moça, girando-a no salão inúmeras vezes. Tinha um sorriso radiante e seus olhos verdes intensos faziam ele ser o rapaz mais cobiçado dali. Obviamente seu sobrenome tinha alguma influência nisso, mas o verdadeiro charme estava nos cabelos penteados em brilhantina e o terno branco ajustado ao corpo esguio. Como era belo.

Ele gargalhou e a menina com quem dançava corou.

— Vittorio! Para... — Ela riu de novo, puxando-o mais.

Vittorio a segurou.

— Quer mesmo que eu pare, docinho?

— Se alguém nos ver... — A garota miou excitada, olhando ao redor. Beijar em um salão assim, era arriscado. E se ela ficasse mal falada?

— Vai ser rapidinho.

Seus lábios estavam prestes a colar nos dela quando os dois foram empurrados pelo que parecia ter sido um touro furioso. O tropeço foi tão forte que os dois se separaram. Vitorio franziu o cenho para enfrentar o mal educado, mas acabou dando de encontro com uma mulher quase da sua altura.

Vittorio arregalou os olhos.

Ela estava longe de ser como as outras damas que dançavam ali naquela noite. Era realmente alta e tinha um físico forte, sem nenhuma necessidade das frivolidades femininas que as outras tinham para preencher as lacunas. Era toda cintura, seios, braços. Corpo inteiro, grande e forte como uma amazona.

A boca do homem quase despencou no chão quando a mulher o olhou de cima a baixo, sem nem se desculpar. Apenas jogou o cabelo denso que tinha sobre os ombros para trás com uma mão e estalou a língua como se ele fosse a criatura mais insignificante do planeta.

As suas roupas também não estavam na moda "certa". Ele esperava um habitual vestido acinturado rodado, pérolas, cabelo armado, tudo aquilo que um rapaz da elite apreciava em uma moça recatada.

Mas ali estava ela usando aquela calça acinturada, realçando seu corpo midsize, e a blusa xadrez de botões dava ao seu colo um atrativo em dobro.

— Está olhando o que, seu calhorda? — Ela o xingou e girou os calcanhares, nas sapatilhas negras e sumiu no meio da multidão.

— Que garota esquisita e mal educada! — A moça que antes dançava com Vittorio se aproximou espalmando o peito. — Ela não sabe quem você é?

Vittorio não respondeu, olhando pela multidão, ainda tentando encontrá-la. Ele coçou a nuca levemente e riu, sem graça.

— Bom, parece que ela não se importa, não é? — Ele disse. — Vamos voltar a dançar, docinho.

Vittorio a segurou pelo braço, sorrindo, puxando-a de novo, mas antes deu mais uma olhada por onde a garota tinha sumido. "Calhorda? O que foi aquilo? Ela... nem me conhece" pensou, inquieto.

Naquela mesma semana, Vittorio encontrou com Tommaso Bianchi, seu amigo mais próximo desde que voltou do seu trabalho na sede de Palermo. Estavam na sala de descanso para homens, e Tommaso parecia particularmente irritadiço naquele dia.