Capítulo cinco - Amigos?

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Hunter Brooks

Não houve discussão sobre onde eu ficaria, Blair foi capaz de resolver tudo, era difícil dizer com certeza, mas meu coração parecia acelerar toda vez que olhava para ela. Coração traidor.

Jurei para mim mesmo que meu coração ficaria guardado, e se fosse preciso seria capaz de trancafiá-lo na menor cela onde ele não poderia pular por mais ninguém.

Aprendi cedo demais que pessoas são fugazes, voláteis e instáveis, algumas surgem do nada e somem, outras são nossos próprios pais que não deram conta da responsabilidade de serem pais e desapareceram, nenhuma criança deveria presenciar o pior deles, ninguém deveria ver a própria mãe deixar seu filho porque escolheu não ser mais mãe.

Talvez não devêssemos normalizar crianças agindo como adultos, e adultos agindo como crianças. Qualquer pessoa era capaz de ter filhos, mas raras exceções eram capazes de criar esses filhos em um lar zeloso e acolhedor.

Meu avô fez o melhor que poderia por mim, até onde seu coração frágil permitiu, se não fosse por ele eu teria passado minha infância nas ruas ou talvez em algum lar provisório, não importava, porque minha mãe não me quis.

Blair decidiu que o melhor a se fazer seria uma reforma no antigo escritório transformá-lo em um terceiro quarto, ela falaria com seu pai sobre a breve infiltração no gesso do teto, no ano passado o encanamento do banheiro do vizinho de cima estourou causando um grande caos não apenas para ele, mas também para nós, foi uma gigantesca confusão, quando chegamos de um treino na sexta, havia água escorrendo pelas escadas através da brecha debaixo da porta. Levamos o final de semana inteiro tentando secar tudo que molhou, por sorte nada de valor foi danificado, apenas o forro do escritório, o gesso ficou manchado, o síndico deveria ter avisado o proprietário sobre o acontecido, ele concordou em arcar com os custos da reforma, mas sabemos que ele não faria nada a respeito, o elevador do prédio estava de prova, moramos a dois anos nesse apartamento e usamos o elevador apenas uma única vez, porque sempre estava em manutenção.

Como de costume meu celular apitou às seis da manhã, geralmente eu corro no primeiro horário, mas com meu braço se recuperando, preferia não arriscar, queria estar em forma e totalmente ativo antes de terminar a temporada.

Levantei da cama, o sol ainda escondido nas últimas sombras da noite, minhas estantes repletas de histórias eram sempre minha primeira visão ao acordar. Pensei em Blair e no quanto seus olhos azuis celeste brilharam ao encarar as prateleiras, e seu pequeno sorriso quase imperceptível, mas estava ali de alguma forma.

Livros, anotei mentalmente, páginas amareladas e repletas de aventuras faziam ela sorrir. Ela não aparentava sorrir com frequência, será que ela nunca se olhou no espelho enquanto fazia aquilo? Seu sorriso era a perfeita descrição de um campo florido na primavera, suave, doce e acolhedor.

Ao despontar pela porta do meu quarto, havia um bilhete grudado nela, uma lista.

Cronograma do banheiro:

06:30 - Hunter

07:00 - Blair

07:30 - Matthew

PS. Coloquei você no primeiro horário porque Matthew me explicou que gosta de correr cedo, um cronograma vai ajudar a não ter brigas por privacidade. E se precisar de ajuda, me chame.

— Blair.

Ela ainda assinou o post-it para ter certeza que entenderia que foi ela quem escreveu, me senti ofendido por ela pensar que eu seria burro de imaginar outra coisa, dei um sorriso de canto, arrancando o papel da madeira, daria um jeito de colar na porta do banheiro para ninguém esquecer o próprio horário, especialmente Matthew que sempre andava com a cabeça nas nuvens.

Inefável Where stories live. Discover now