Capítulo treze - Todos temos cicatrizes

4.7K 430 143
                                    


Blair Finnegan

Foram as páginas dos livros que me salvaram, as histórias contidas neles. Quando mais nova me agarrei às palavras como alguém se agarrava a um colete salva vidas quando percebia que o barco iria virar.

Gostava de escrever histórias, na maioria eram romances, gostava de escrever sobre o amor. Apesar de nunca tê-lo entendido de verdade. Amar Scotty me fez compreender que nem todos os finais são felizes, na vida real alguns são apenas dolorosos.

Meu amor por livros começou pela intervenção do meu pai, nas férias de verão, ele tirava alguns dias de folga e passávamos boa parte desses dias perambulando por livrarias e sebos, ele me enchia de livros, e todos os dias lia pedaços deles para mim, às vezes fazíamos a hora da leitura tomando chá gelado na varanda, outros eram durante a noite tomando sorvete e imaginando estar fazendo isso junto aos personagens da história.

Aos quinze anos descobri que além de ler, gostava de criar minhas próprias aventuras, meu pai dizia que eu tinha muito talento para a escrita, minhas respostas sempre variaram, às vezes acreditava nele, e em outras dizia que sua opinião não valia, pois ele era meu pai e sempre iria achar qualquer porcaria que escrevesse uma maravilha. Ele ria, alegando que estava sendo muito profissional ao avaliar minhas histórias, que um editor chefe de uma editora renomada não era capaz de dizer mentiras.

— São incríveis, filha. — ele falava com delicadeza, meu pai era a única pessoa a ler algo que já escrevi. Sua editora era conhecida por publicar os maiores Best Sellers da literatura focada no gênero de romance. — Mas por que nenhuma tem final?

Ele virou as folhas procurando as últimas páginas, mas não havia nada faltando, eu não conseguia escrever finais.

Ao sentar para escrever uma história minha mente se desligava completamente, eu sentia tudo que o personagem sentia, ou talvez os personagens sentiam tudo o que eu sentia, todas as histórias levavam um pouquinho da alma da pessoa que a escrevia.

Amava a sensação de estar no controle das coisas, minha vida inteira foi baseada nas decisões de terceiros, nunca nas minhas, então escrever me permitia fazer minhas próprias escolhas, causava uma sensação de conforto. A literatura em um todo era um tipo de refúgio, os livros eram casas que poderia habitar sempre que o mundo real pesasse em meus ombros, era um privilégio poder causar esse tipo de sentimento em outras pessoas, sempre agradecia a cada autor e autora por me proporcionar cada experiência, e quando comecei a escrever percebi que além da leitura, a escrita também era um tipo de lar.

Porém, nunca escrevia finais para as histórias, era como uma casa de inverno sem uma lareira quente para aquecer os cômodos. Nunca fui boa em lidar com finais na vida real, e todos os que tentei escrever terminavam em lágrimas e tristeza, como se o protagonista não quisesse um final feliz, ou se simplesmente tivesse medo de ser feliz. A felicidade englobava entusiasmo, e nada de fato dura para sempre, uma consequência desastrosa sempre vem acompanhada depois de um momento feliz.

Não tinha problema em ler sobre finais felizes, na verdade esses eram os meus favoritos, o problema era que eu não tinha talento para escrevê-los, ou talvez não achasse minhas histórias boas o suficiente para dar a elas um final.

Com o passar do tempo, minha escrita foi diminuindo de intensidade, o ensino médio foi focado na minha aceitação em Yale, mal tinha tempo para pensar em outra coisa. Mas sinto falta das histórias, talvez um dia eu volte a contá-las, talvez.

Minha vida estava tão cheia de talvez.

Talvez eu orgulhe meus avós.

Talvez eu supere meu coração partido.

Inefável Where stories live. Discover now