Capítulo vinte e cinco - desencontros

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Blair Finnegan

Tentei ser forte na frente de meu pai, não me derreter em lágrimas toda vez que olhava para seu rosto e lembrava que pouco a pouco a morte o estava levando de mim.

Ele também fingia que tudo não passava de uma confusão desagradável e nós não falávamos sobre sua doença, a ignorando como um simples espinho no dedo.

Nós ríamos juntos, e agíamos com naturalidade, mas no fim do dia, quando ele se retirava para repousar porque estava sentindo um pouco de dor, a realidade recaia sobre mim, e no meu quarto sozinha, eu desabava, me permitindo chorar até pegar no sono.

Já se passou uma semana, o Natal foi há dois dias, minha rotina era a mesma:

Fingir ser forte durante o dia, jantar, tomar banho, colocar o pijama e chorar até acabar as lágrimas. E no outro dia tentar disfarçar os olhos inchados pelas noites mal dormidas.

Porém, naquela noite alguém bateu na porta de meu quarto, eu já estava na cama pronta para abafar as lágrimas embaixo das cobertas, foram duas batidas e a porta rangeu, estava de costas, me virei de imediato pensando ser meu pai que precisava de alguma coisa, mas não era.

Eram duas sombras no corredor, liguei o abajur para poder identificar os rostos.

Hunter e Matt.

As lágrimas brotaram imediatamente. Eram as pessoas que eu mais queria comigo nesse momento, mas que não tive coragem de ligar.

Eles entraram no quarto e eu voltei a deitar na cama sem dizer nada, eu sabia que se começasse a falar não aguentaria mais ser forte.

Os dois garotos também não disseram nada. Pensei que estava me saindo bem em enganar meu pai sobre não precisar de mais ninguém para suportar toda a dor de pensar em perdê-lo, mas acho que ele me conhecia demais para compreender que eu não estava lidando tão bem assim, provavelmente foi ele que ligou para os meninos.

Cada um deles escolheu um extremo da cama, me deixando no meio, vi os dois tirando os suéteres de frio e os sapatos, deitando ao meu lado. A cama king size acomodou muito bem nós três.

Fazia tanto tempo que não via Hunter e agora ele estava aqui, deitado comigo, como se nunca tivesse me deixado.

E Matthew, que deveria ter pegado o primeiro voo para atravessar o país para vir me ver.

Encolhi um pouco o corpo, fungando e as lágrimas desbravando meu rosto como uma cascata descontrolada.

Hunter segurou minha mão, e Matt descansou a cabeça no meu ombro me acolhendo como uma concha protegendo seu marisco.

- Obrigada por virem. - agradeci com a voz trêmula.

- Sempre. - foi Hunter quem respondeu, ouvir a voz dele me fez chorar ainda mais, porque, embora sentisse seu toque, temia que tudo não passasse de uma alucinação.

E naquela noite eu não precisei chorar sozinha.

☆☆☆☆☆

O sol já batia na janela quando acordei, pensando ter inventado as imagens da noite anterior, mas a presença de Hunter ao meu lado invalidou tal pensamento.

Ele ainda dormia, e segurava minha mão como se nunca tivesse a intenção de soltar, senti tanta falta dele, tanta.

Virei para o outro lado, mas não encontrei Matt, mas seu celular estava na mesinha de cabeceira, então provavelmente ainda estava por aí em algum lugar da casa. Talvez preparando o café da manhã. Ele sempre fazia panquecas com gotas de chocolate quando eu estava triste. Era o jeito dele dizer que ficaria tudo bem.

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