Capítulo 7 - E-mail.

282 32 1
                                    

Aurora narrando:

- Mas que merda foi essa, Aurora? - Mia interroga no momento em que já estávamos fora do orfanato.

- Ué, foi errado eu deixar a Abigail ciente disso? - Questiono de volta enquanto caminhávamos lado a lado.

- Não, claro que não. Concordo e sempre concordei com tudo que ela disse, mas você tem que parar com as ofensas, não sabemos se a Abigail está ou não do seu lado. - Mia explica.
- Ele continua sendo o mesmo cara cruel que rejeitou a Mavie bebê, sabe mais o que ele pode planejar fazer? Conversei com você ontem sobre isso. - Acrescenta.

- Então eu deveria deixar todos acharem que ele é um descente homem, fazendo caridade para uma criança necessitada? - Questiono.
- Não quero ele perto da Mavie. - Finalizo.

- Aurora, o cara é literalmente descendente da monarquia desse século, ele pode tudo mesmo que você faça um dos seus escândalos. - Ela me deixa sem palavras.
- Será ainda pior se continuar impulsiva desse jeito. - Acrescenta.

Avisto um ônibus a distância, sigo em direção e ainda me mantenho calada.
- As vezes me pergunto se em algum momento ele já passou por alguma dificuldade ou problema. - Ela resmunga pensativa.
- Eu entendo sua revolta, de verdade, mas você tem que ser mais calculista. - Acrescenta.
- Com esse trabalho, vamos conseguir um advogado e daremos um jeito. - Adiciona e eu direciono meus olhos à ela.
- Você também vai conseguir algo melhor e logo teremos um aluguel descente para receber a Mavie. - Finaliza.

Mia é a minha família, sempre foi.
Sorrio com os lábios fechados e solto um suspiro aliviado. Como sempre, ela tem o poder de me manter calma, talvez seja aquela mania de esperança que citei antes.

Um dos últimos raios de sol encosta na nossa pele no momento em que subimos os degraus da condução. Os alemães já estavam se preparando para o inverno, indo e voltando de lojas, procurando botas e sobretudo.

Meu celular toca, interrompendo minha observação através da janela. Era a Ivy, em pleno domingo.

-- Alô? -- Atendo.
-- Bom dia, Ivy.

-- Oi, pode comparecer hoje? Só para uma conversa. -- Ela vai direto ao ponto.

Engulo seco e me permito sentir o frio na barriga.
-- Tudo bem. -- Gaguejo e ela encerra a ligação.

- Acho que vou ser demitida. - Digo a Mia.
No final a esperança é só uma sensação.
- Ela me solicitou agora. - Acrescento.

- Será que ela vai exigir que você devolva o dinheiro que te emprestou? - Mia questiona. Faz sentido.

- Se for apenas isso, eu posso entregar meu pagamento por alguns meses. - Falo.

Descemos cinco paradas antes do nosso apartamento e atravessamos a rua em direção a lanchonete. A cada hora que se passava, mais meu tênis ficava esbranquiçado de gelo e eu já estava muito tempo na rua.

Haviam poucos clientes no estabelecimento hoje, o que é estranho, porque normalmente aqui sempre fica corrido, inclusive finais de semana.

Apenas dois garçons ficam disponível para tudo, cozinhar, limpar e servir. Sim, bem anti higiênico, mas favorece a vaca da Ivy.

Sendo assim, encontro Pierre e Susie juntos. Eles estavam na correria, mas pelo menos a Susie consegue me atualizar de algo, mesmo que rápido.

Susie tem cabelos pretos e curtos, na altura do queixo, assim como Mia. Ambas são magras, de pele clara e têm estilos um pouco mais sombrios, como algumas tatuagens e piercing no nariz ou lábios, apesar de serem doces e sonhadoras. Os olhos de Susie são castanhos, enquanto os de Mia são azuis, iguais aos meus. Susie tem sido minha amiga desde que comecei a trabalhar nesta lanchonete. Ela é uma boa companhia, mas nada se compara à minha conexão com Mia.

Um DescasoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora