Capítulo 74 - Amor? (Penúltimo Cap.)

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Aurora narrando:

Passei o restante da tarde imersa nos estudos, revisando o conteúdo do dia até finalmente sentir que havia dominado cada detalhe. Ao me libertar desse fardo de letras e figuras, percebo que horas se passaram enquanto estava enclausurada em minha cama.

Desço para a sala às 21h PM, onde encontro Mavie entretida com as governantas, desfrutando da companhia delas enquanto assiste TV e brinca com suas bonecas. Elena me oferece algo para comer, mas recuso cortesmente.
- Mas o jantar está pronto. - Ela me informa em seguida.

- O Ethan está esperando na sala de jantar? - Pergunto casualmente.

As governantas trocam olhares significativos, e um breve silêncio paira no ar antes de Amélia responder:
- O Sr. Siren ainda está no quarto, Srta.

Ethan me ignorou mais cedo, ou talvez estivesse ocupado no banheiro e não me ouviu bater, já que o banheiro fica longe da porta.

- Acho melhor as duas jantarem agora, e o Sr. Siren aparecerá assim que sentir fome. - Amélia acrescenta, sugerindo que jantemos sem ele. Isso nunca aconteceu antes.

Tem algo errado. Das duas, uma: ou ele está com alguma mulher ou na verdade nem está lá.

- Vou chamá-lo. - Decido determinada. Assim retorno ao elevador. Ao chegar ao segundo andar, não perco tempo batendo novamente; simplesmente giro a maçaneta e me surpreendo ao encontrá-la aberta.

O quarto está mergulhado na escuridão, mas consigo distinguir a figura grande de Ethan deitado de bruços sobre a cama, com os braços estendidos. Ele veste roupas casuais e parece estar dormindo profundamente.

Acendo as luzes, e minha visão é atraída para uma taça de água pela metade na cômoda, ao lado, seu celular está jogado no chão. Um arrepio de desespero percorre minha espinha enquanto minha mente conecta os pontos.

Corro até o closet e minhas mãos tremem ao abrir as gavetas enquanto busco freneticamente entre as gravatas pelos malditos medicamentos.

Finalmente, encontro-os em meio ao caos, minha respiração acelerada ecoa pelo ambiente. A caixa está aberta, indicando que Ethan tomou alguns comprimidos para dormir, mas não sei quantos nem a dosagem exata dessa merda.

Com um misto de raiva e preocupação, soco o closet e deixo escapar um resmungo frustrado:
- Que porra, Ethan!

Volto ao quarto e subo em nossa cama, lutando para mover seu corpo pesado e grande. Cada movimento é uma batalha, e mal consigo girá-lo, mas aplico toda minha força, ao ponto de sentir leves cólicas.

Com Ethan virado para cima, eu monto sobre ele, para sentir sua respiração quente em minha bochecha. Em seguida, seguro seu pulso para sentir suas batidas. Naquele cenário, eu revejo a minha mãe por baixo de mim, com a visão perdida mas ainda sim focada em mim, como quem pedisse ajuda.

E agora ela se foi, como se o amor que sentisse por mim não havia sido o suficiente, e eu me sinto como se realmente não tivesse sido.

Ethan não usa drogas ilícitas, obviamente, mas esses remédios têm o objetivo de fazê-lo passar pelos dias sem consciência, sem precisar presenciar nada que o machuque ou até mesmo sem sentir nada.
- Acorda! - Grito, tentando despertá-lo.

As batidas estavam calmas, dentro da medida do normal considerando que está em repouso há horas, mas ainda assim, eu não conseguia acordá-lo. Disparo tapas em seu peito e seguro seu rosto para chamá-lo mais perto.
- Ethan, acorda agora! - Ordeno, com urgência em minha voz.

Uma ideia surge em minha mente e, sem hesitar, separo os lábios de Ethan e introduzo meus dedos até forçar um vômito. Ele desperta num impulso, erguendo-se assustado e na defensiva segura firmemente meu pescoço sem reconhecer quem sou, fico sem ar.

Um DescasoWhere stories live. Discover now