Capítulo 8 - Acordo Doloroso.

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Aurora narrando:

- Aquele desgraçado! - Rosno alto, enquanto tento cortar o pepino em fatias.

- Eu falei, fatias, Aurora, não pedaços. - Diz Mia, tentando distrair meus pensamentos.

Utilizando mais força, atravesso o meio do pepino com a faca afiada, imaginando que é o pênis dele. A semelhança é notável pelo que me lembro.

- Mulher, pelo amor de Deus, me deixa fazer isso. - Mia se aproxima e tira a faca da minha mão.

Ela deixa o macarrão fervendo sozinho e começa a cortar o pepino da forma correta.

- Você fez besteira em mandar aquela mensagem, vai ficar presa no sistema da Monocrom. - Comenta.
- Sinceramente? Ainda bem que o Sr. Siren só respondeu. - Murmura, enquanto eu ando de um lado para o outro.

- E você viu como ele respondeu?! - Exclamo, indignada.

- Sim, você leu em voz alta umas dez vezes. - Responde Mia, exasperada.

- Esse filho da puta age como se não tivesse feito nada de errado - Digo, ainda alterada.
- Como se estivesse tudo bem. - Concluo.

- Aurora, ele sabe muito bem o peso do que fez, mas não se importa o suficiente para admitir e conversar sobre isso. - Rebate Mia.

Depois prossegue:
- O que não entra na minha cabeça é por que ele parece estar se aproximando se nem sequer se desculpou. Deveria continuar na dele. - Murmura para si mesma.
- Parece indeciso.

- "Conversar?", "se desculpar"? - Repito as palavras dela, franzindo o cenho.
- Você acha que o que ele fez tem desculpas? - Acrescento, irritada.
- Eu não pedi muito, Mia, só precisava de ajuda, mesmo que à distância, e isso ele podia fazer sem esforço algum.

- Você está certa, nunca neguei isso. O Sr. Siren não tem desculpas, mas poderia pelo menos reconhecer e fingir que se arrepende - Mia se explica e por fim suspira.

O que vou fazer sem trabalho agora? Penso no que realmente importa.

Não adianta eu perder mais da minha energia com isso, eu tenho preocupações maiores como... A adoção da Mavie e a falta de emprego.

- Mas, deixa esse assunto pra lá. - Mia pede.
- Amanhã eu começo meu novo emprego, só ele vai ajudar muito. - Acrescenta.
- Em breve você consegue o seu. - Finaliza, ainda cheia de esperança.

Finalizamos a noite com o ensopado que a Mia insistiu para que fizéssemos, para nos aquecer do frio.

Nós duas dividimos uma cama de casal, nos unimos sobre ela e usamos todos os cobertores possíveis que tínhamos. Afinal, o apartamento não possui aquecedor e as paredes não são de muita qualidade.

Ao amanhecer, preparo um café para mim e para a Mia. Ela come, se arruma e, em seguida, sai.

Visualizo através da minha pequena janelinha a movimentação dos becos desprovidos de beleza, com alguns moradores de rua que, infelizmente, fazem parte do mundo das drogas.

Isso trouxe minha mãe aos meus pensamentos. Como será que ela está? Faz anos que eu não a vejo... Por falta de dinheiro e também por medo de retornar.
O que eu faria em um lugar de onde fui expulsa?

Ainda observo as ruas e vejo algumas crianças com galochas e toucas correndo de um lado para o outro. Elas estão sozinhas, e os pais não parecem se importar muito.
Além da estrutura suja, há muito perigo nessa pequena parte de Berlim. Eu não gostaria de criar a Mavie aqui.

As folhas das pouquíssimas árvores que possuem nesse ambiente, já estavam quase totalmente cobertas por gelo, assim como o chão.

Desço a cortina da janela e volto aos meus afazeres. Prendo meus cabelos em um coque bagunçado no topo da cabeça e fico com o short rosa, bem curto e confortável, que usei para dormir. Visto por cima um casaco de algodão azul escuro e tiro apenas as meias para não molhar.

Um DescasoWhere stories live. Discover now