Capítulo XXXI

505 76 23
                                    


Aland e eu nos encaramos, de cabeça para baixo. Eu estava exausta. Literalmente. Não era humanamente possível que eu fosse tão azarada na vida.

A raiva pelo meu destino ridiculamente trágico me fez gritar quando um homem grande e forte de pele negra escura apareceu, sem camisa, com uma calça bege folgada, um brinco dourado na orelha direita e um machado na mão.

— Eu estou cansada! CANSADA! — bradei, usando a força da barriga para conseguir erguer o tronco o suficiente para dizer olhando nos olhos dele.

— Bella...

— Quer me matar? Adivinhe, todo mundo quer! Entra na fila!

— Bella... — Aland tentou falar de novo, mas eu o interrompi. O homem levantou o machado e andou em minha direção.

— Eu não tenho medo de você nem do seu machado grande! — continuei gritando, até que, erguendo a arma, com um único golpe, me preparei para morrer com dignidade.

Não foi isso que aconteceu. Meu corpo foi ao chão. O de Aland também.

— Ele estava tentando ajudar. Foi isso que eu estava tentando dizer. — ele grunhiu e tentou se levantar, me ajudando em seguida.

O grande homem abaixou o machado e nos encarou firme, com uma postura magnífica.

— Quem são vocês e por que estão invadindo Áquiles?

— Nós viemos em paz. — Aland levantou as mãos em rendição, ciente de que o homem analisava as escamas do pescoço que apareciam na camisa completamente rasgada.

Imaginei que o pano foi rompido quando as asas apareceram. Como ele as tinha recolhido tão rápido?

— Precisamos falar com a Princesa Ella. — dei um passo à frente, percebendo que eu estava deplorável e nada apresentável. — Eu sou a Princesa Arabella, de Beaumont.

O homem franziu o cenho ao avaliar o meu cabelo. Senti meu rosto queimar de vergonha. O que restava da minha vaidade estava tão abalada que me fez querer voltar ao mar e me jogar na boca da serpente.

— Princesa? Tem certeza?

— Nós passamos por muita coisa. — Aland tentou aplacar o meu constrangimento. — Por favor, precisamos mesmo vê-la. É urgente.

Voltando a me olhar como se eu fosse um animal perdido resgatado de um poço, o homem aceitou e nos guiou para fora da floresta.

Depois de nos alertar para desviarmos de várias armadilhas, ele afastou diversas folhas gigantes e nos mostrou o lindo castelo.
Era o menor castelo que eu já tinha visto na vida. Parecia de mentira.

Com apenas cinco torres acinzentadas de telhados cônicos da cor do mar verde água, ele possuía um desenho de uma grande cobra central na entrada. Amarela. Quando olhei para os olhos azuis da cobra de mentira, estremeci.

Era a imagem da serpente marinha que tinha acabado de tentar me engolir.

— Princesa Ella! — o grande homem se curvou diante de uma mulher agachada atrás de um arbusto. Fizemos o mesmo.

Quando ela se ergueu e sorriu, a minha autoestima foi morta e enterrada. Pela distância da ilha, ela nunca tinha comparecido aos bailes de Beaumont. Violetta me contou uma vez que a tinha visto no Palácio de Várzea como uma das pretendentes do Príncipe Christian, mas nunca tinha comentado que ela era tão bonita.

Ella exibia uma pele negra clara, radiante como bronze, que parecia ser capaz de capturar os raios do sol de forma magnífica. Seus cabelos, em ondas castanhas, caíam graciosamente até a cintura, movendo-se suavemente com a brisa.

Insensato AmorDonde viven las historias. Descúbrelo ahora