Se essa rua fosse minha

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Ramón se revirava na cama, sem conseguir dormir.

Havia dito boa noite para Fit há pouco mais de uma hora, sabia que o pai já estaria provavelmente no quinto sono, mas a criança simplesmente não conseguia fechar os olhos e relaxar. Como iria, depois de ver ambos os pais serem mortos pelos Vigias do Purgatório? Os mesmos Vigias que, dias atrás, haviam quase arrancado uma de suas duas vidas, que realmente mataram Empanada poucos dias atrás?

Haviam sido dias estressantes.

O menino resmungou baixinho, sentando na cama enquanto mexia no bigode para se acalmar. Poderia subir até a casa de Fit, escalar na cama e dormir abraçado no pai, como fizera várias vezes, mas não era dele que precisava naquele momento,

Percebeu, com surpresa, que era de Pac que precisava.

Ramon checou para ver se o brasileiro estava acordado, abrindo um sorrisinho ao notar que sim, ele e Mike ainda estavam por ali. Checou o mini mapa, notando que Pac estava ainda na Favela, então reuniu uma mochila, abriu a porta digitando a senha e saiu escondido até a pedra de teleporte.

Desenhou as runas diretamente para o centro da Favela, indo parar na fonte perto de copacabana. O local era lindo durante as manhãs, mas, durante a noite, era um pouco assustador e vazio, especialmente depois dos acontecimentos dos últimos dias, onde o espaço havia virado um campo de batalha.

"Tá tudo bem, só mais alguns passos" pensou, agarrando com força o cabo do machado caso precisasse lutar. Então, quando estava prestes a virar a esquina até a praia, sentiu uma mão em seu ombro, que o fez pular e virar já em pose de batalha.

— Ramón? Era pra você estar dormindo! — Mike ergueu as duas mãos, rapidamente notando o quanto o menino estava preocupado. Depois, segurou os ombros do sobrinho. — Tá bem, menininho?

Ramon abriu um sorriso culpado por estar apontando uma arma para seu tio.

Tio Mike! Tava procurando o pai Pac escreveu rapidamente, olhando no mini mapa para ver que o outro brasileiro não estava mais em lugar nenhum. Soltou um suspiro, em meio termo entre estar triste e estar frustrado.

— Ele acabou de ir pra casa pra descansar, tá tudo bem? É algo com o Fit?

Não! Tá tudo bem. Eu só queria ver ele...

Pac havia se tornado uma constante em sua vida; o jeito que ele o abraçava, que o erguia nos ombros para ver os grafites que havia feito, tudo em Pac o fazia se sentir completamente amado e bem-vindo na família.

— Eu te levo até a Chume Labs, se a gente correr pegamos ele indo dormir ainda. — O brasileiro de cabelos rosas ofereceu, olhando ao redor para ter certeza de que estavam seguros. — Não é bom você ficar andando por ai sozinho, Ramón. É perigoso.

Eu sei, desculpa.

Ramon apenas balançou a cabeça, enquanto sua mente repetia sem parar as mortes que aconteceram nos últimos oito dias. Entre ver os pais terem o primeiro encontro e a felicidade que compartilhavam, também havia muita dor.

"Pac foi morto"

"Fit foi morto"

"Empanada foi morta"

O menino seguiu Mike de volta a pedra de teleporte, e o adulto fez questão de ficar para trás até ter certeza que o futuro sobrinho estava na Chumes Labs, só então se teleportou atrás dele.

Os dois foram em silêncio até o barco em forma de tartaruga, e continuaram assim enquanto chamavam o elevador. Mike percebeu que havia algo incomodando o pequeno, mas não iria insistir - se Ramón precisava de Pac, ele o levaria até Pac e deixaria os dois se resolverem.

Família Rosa - uma coletâneaWhere stories live. Discover now