Um último adeus

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AVISOS!!: Essa fanfic foi escrita dia 13 de Maio de 2024, logo após a stream do Pac onde o adm do Richas se despediu e eles simbolicamente mataram os personagens deles.

Portanto, sim, é angst! Menciona morte, luto, guerras e ferimentos

Ela foi escrita ANTES do Fit fazer a live dele, e sim tem coisas muito parecidas com o fim canon que o Fit deu pro personagem dele.

Esse é a minha versão complementar do canon, se passa no mesmo universo que os outros contos daqui

*

Era estranho estar de volta. Fit sabia que algo estava errado, quase como uma sombra que cobria toda a ilha; antes, o sol brilhava com frequência no céu azul, mas agora tudo parecia cinzento, um prelúdio de uma tempestade.

O veterano mancou para fora da Torre de Rádio, deixando atrás de si um rastro de sangue que pingava do braço machucado. Ele estava muito mais magro do que jamais estivera na vida e o olho direito, que já era cruzado por uma cicatriz antiga de guerra, agora estava fechado, completamente inflamado por causa de um ferimento recente. Fit tinha certeza de que nunca mais voltaria a enxergar com aquele olho, e torcia para que alguém conseguisse tratar dos ferimentos – não só no rosto, mas no corpo inteiro.

Chegando finalmente na pedra de teletransporte, Fit deu uma última olhada na Torre de Rádio, desejando nunca mais precisar voltar ali. Ele carregava na mochila a arma final para destruir aqueles que controlavam a ilha, e, se tudo desse certo, logo estariam livres para viver sem o medo de uma estrutura ameaçando eles o tempo inteiro.

Fit poderia viver com Pac e os filhos sem medo nenhum. Sem sequestros. Sem experimentos. Sem sumiços por meses, sem serem obrigados a lutar uns contra os outros em uma ilha estranha. Apenas Pac, as crianças e um vale de rosas onda poderiam construir uma vida nova.

Ele decidiu se teletransportar primeiro para a Shit Shack, a casinha de pedra que criou com Ramón e que, mesmo com o pouco tempo, passou a ter um sentimento de lar. Nos últimos dias dele na ilha, enquanto Ramón dormia – o que acontecia com uma certa frequência e, por consequência, não preocupava tanto Fit – ele havia construído uma casa na árvore no quintal entre a casa dele e de Pac, e esperava genuinamente que as crianças tivessem gostado daquele novo lugar.

Fit soube que havia algo errado ao pisar na plataforma. O céu, já cinza, estava ainda mais escuro, fechado; tudo estava silencioso demais, parado demais, vazio demais. Fit abriu a porta com o coração batendo forte no peito.

A cama de Ramón não estava lá.

Fit queria não se preocupar, mas sabia no fundo de seu ser. Uma dor estranha no estômago surgiu, e Fit olhou ao redor mais uma vez; não havia nada: nem uma plaquinha, nem uma carta, nem um móvel fora do lugar.

Apenas uma grande camada de poeira cobrindo tudo.

Os ouvidos de Fit começaram a apitar, somado com o estômago que parecia em brasas. Ele saiu correndo, ignorando as pedras de teletransporte e, depois de escorregar os últimos degraus e cair no chão, levantou e disparou em direção da casa de Pac.

As luzes estavam apagadas.

Fit sentiu as primeiras lágrimas começando a queimar no canto dos olhos. Ele estava longe há tanto tempo... e agora as luzes da casa de Pac estavam apagadas. Elas nunca estavam apagadas, sempre havia ao menos a luzinha da varanda pronta para receber quem quer que fosse. O veterano entrou com pressa na casa do namorado, notando a ausência de vida que o lugar apresentava: nem mesmo os gatos de Pac estavam por ali.

Tudo estava vazio.

Completamente desesperado, Fit correu para a pedra de teletransporte, desenhando com pressa as runas para Fobo. O local também parecia abandonado, os trens parados. Ele correu até o quartinho de Sunny, mas a cama dela também não estava lá.

Definitivamente havia algo errado.

Checou outros lugares: a casa de Philza – um ninho vazio, as portas abertas; a casinha de Bagi, completamente silenciosa; até na casa de Cellbit ele foi, reparando na construção ainda inacabada. Nenhum dos ovinhos estava em lugar algum, e o céu ficava cada vez mais e mais cinza.

Com uma última esperança, Fit desenhou o sigilo de teletransporte para o Rancho do Mike. Devia ter alguma pista ali...

*

"Richas, 2023-2024"

"PacTW, 1995-2024"

"Mike the link, 1997-2024"

Não. Não, não, não.

Fit caiu com os joelhos no chão, agarrando a pedra fria da lápide de Pac com dedos trêmulos. Com lágrimas cobrindo praticamente sua visão inteira, o veterano passou o dedão por cima das letras esculpidas, letras que formavam o nome de seu amado, e, logo abaixo uma data.

A data de sua morte.

— Pac... não, por favor, não — Fit sussurrou, sem saber o que fazer. Aquilo não podia ser verdade. Tinha que ser uma piada, uma maldita pegadinha que passou dos limites. Simplesmente não podia ser verdade.

Fit olhou os outros túmulos. Mike, Richas, WalterBob... cada nome que lia era uma nova facada em seu coração, uma nova rodada de lágrimas, um novo soluço entalado, uma nova flechada de culpa que corria pela coluna. Ao lado do túmulo de Richas, uma única flor de Amaranto estava plantada, quase sem pétalas, quase também morta.

Não sobrou mais ninguém.

Fit estava acostumado com a dor; de onde vinha, sentir dor era parte de seu dia-a-dia. Teve seu braço arrancado em uma explosão enquanto estava acordado, teve o rosto cortado por uma faca enferrujada no meio de uma guerra, sobreviveu semanas dentro de uma caverna sem ter o que comer ou o que beber, sentindo todos os ossos do corpo berrando e inflamando após a queda.

Mas nada disso podia ser comparado ao sentimento dilacerante de olhar aquelas lápides.

Fit sentou do lado do túmulo de Pac, pensando em todo mundo que ele amou naquele curto espaço de tempo. Pensou em Ramón e Richas, suas crianças, os seus filhos. Em cada aventura que ele não pode viver com Richinhas, no canhão de TNT que ele não pôde explodir com Ramón. Pensou em Philza, na estranha substancia em seus ombros, no fato de que nunca saberia o que estava acontecendo, no fato de terem brigado e se afastado da última vez que se viram. Em Chayanne e Tallulah, em Mike traduzindo letras de funks brasileiros, em Bagi e Empanada trazendo um pouco de calmaria em sua vida, em Tubbo e Sunny lentamente se tornando família e no quanto amava cada um deles.

Era pra ele estar ali. Era pra ele ter ao menos tentado salvar as pessoas que amava. Fit olhou para os túmulos novamente, o corpo magro sendo balançado por soluços cada vez mais fortes.

De que adiantaria agora terminar o trabalho? De que adiantaria salvar a ilha, se não havia nada mais a ser salvo?

Fit puxou o dispositivo da mochila, uma espécie de bomba feita justamente para salvar eles das garras daqueles que o prendiam. Ele poderia apenas acionar o dispositivo, e tudo seria terminado.

Mas, se fizesse isso, eles não sofreriam o que mereciam.

Uma onda de ódio tomou seu corpo, uma última onda de sentimentos. Usando a lápide do namorado como ponto de apoio, Fit se colocou de pé; depois pressionou os dedos contra os lábios e roçou-os uma última vez nas letras entalhadas, apenas uma lembrança de um beijo que nunca teve a chance e a coragem de dar.

Ele tocou rapidamente as lápides de Richas e Mike, e, depois de dar uma última olhada, pegou da mochila a pelúcia de Sniffer que havia guardado ainda naquela manhã, colocando-a sobre a terra ao lado do túmulo de Pac. Um último adeus para seu filho, seu baby boy, a pessoa que o ensinou a amar.

Dando as costas, Fit começou a marchar em direção do spawn, lembrando de cada uma das vezes que precisou usar suas habilidades no inferno onde vivia.

Era hora de explodir aquela maldita ilha de uma vez por todas.

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⏰ Last updated: Nov 03, 2024 ⏰

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